sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

FOLHA


Tenho pena de te ver assim.
Vazia... branca como tela por pintar.
Talvez prefiras que te chame... nuvem.
Indecisa em desaparecer ou repleta de chuva.
Talvez prefiras que te chame... algodao.
Suave e macio, enquanto me limpas a alma.
Mas quero muitas assim, como tu.
Apesar de um primeiro olhar impavido,
ao tocar-te, sinto um desejo infernal.
Quero pegar em ti, sujar-te...
Quero tocar-te com os dedos, sentir-te...
Quero amar-te assim, porque me ouves.
Nao discutes, nao criticas, apenas me sentes.
Sempre... imaculada pela minha ansiedade.
A minha ansiedade de te possuir, abusar...
Ganho serenidade, com a que me fazes perder.
Sao tantas como tu... Livres, vazias e felizes.
Sao tantos como eu... Presos, ocos e loucos.
Passo o dia, e dias sem conta a pensar em ti.
Nao e paixao efemera, apenas o meu corpo...
Mas a minha alma ama-te eternamente.
Tenho pena de te ver assim.
Vazia... a espera deste meu toque.
Sinto-te os poros quando deslizo a mao.
Basta tocar-te para que me transforme,
que te suje sem rota certa, com paixao.
Nestas letras e outras que tantas, te encho.
Nestas frases e outras que tantas, te pinto.
No final sorrimos, cansados mas felizes.
De ti... por ti... em ti... nasce a poesia.
Folha branca... e vazia.

28 DEZEMBRO 2012

DESTINO



Se sobreviver ao sopro do destino,
o caminho que percorro, não muda
nem com vendavais. Sobrevivo.
A felicidade não é utópica,
nem tão pouco, opção à sobrevivência.
Apenas um complemento. Às vezes isso.
Uma forma suave, passando pelo tempo,
dividido com a sabedoria dos inteligentes,
com ou sem formas, com ou sem conteúdos.
Não conheco tratamento nesta doença.
Ao acordar e adormecer todos os dias,
o destino é para mim uma incógnita,
para a qual nem tenho interesse real.
Talvez  forma leve de esperança, de surpresa,
refazendo todo o meu Ego, girando,
por uma espiral tão rápida, que me perco.
Mas desistir está fora de causa,
não posso perder este centro gravitacional.
Mas não sou incógnito! Apenas um indivíduo.
Tenho a personalidade viva e exclusiva,
um desdém conveniente. Alturas certas.
O sopro do destino, será o horizonte.
Gozar o amanhecer, idolatrar o crepúsculo,
como símbologia da vida humana.
As cores, sofrem de formas e amor.
São as rugas que o corpo oferece,
que a alma se recusa a acompanhar.
O destino pode ter a forma de caminho.
Talvez pintar umas telas abstratas,
induzir admiração às opiniões diferentes,
talvez então sim, imagine o que é o sonho.
Todos estes caminhos são diferentes.
Usados por cores gastas e baças,
punindo o estado de espirito,
com formas de percursos surreais.
E há o amor. O caminho do destino.
O que o destino esquece amiúde.
Tenho esta certeza absoluta,
que o dito Destino sou Eu!
Na próxima letra,
e já de seguida.

28 DEZEMBRO 2012

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

UM SONHO ESTRANHO



As montanhas de betao crescem.
Sao feitas de suor, e caminhos sem nexo.
Tornam-se engalanadas por buracos,
onde a luz se prende ao entrar,
que as aquece e anima, janelas.
Estou do lado de dentro. Absorto...
Unico ser vivo de sangue corrente,
que estende a mao em direccao ao sol,
e o transforma, em nuances de brilhos,
por cada movimento abstrato dos dedos.
As maos... sao o poder escravo da alma.
Costruiram estas montanhas... estranhas,
inertes no egoismo de arranhar os ceus.
E saio, sozinho desta caixa esburacada,
onde o ar, agora sabe e cheira diferente.
So me pergunto porque... quem sou eu?!
Aqui no meio desta poeira petrificada,
sem vivalma que se me assemelhe.
Serei flor no deserto? Foi-se o juizo...
Ando em passo lento, que sinto poder mudar.
Acelero ate correr, e sentir esta dor no peito
que nao conheco, exausto mas satisfeito.
E cheiro... sinto cheiro. O cheiro do mar.
Estou confuso, sinto sensacoes... sinto.
Percebo que posso optar, regular-me
calar e gritar... a voz. O som da voz.
Afinal nao sou filho do betao... penso.
Sinto o oceano que me gela os ossos,
que nestes pequenos saltos indecisos,
sem perceber, me fazem olhar para tras.
Percebo agora a enormidade das montanhas.
Entendo agora os buracos onde a luz se prende.
Do lado oposto, tudo e tao diferente...
Mas a montanha chama-me e obedeco.
No retorno triste, e na correria, tropeco.
A nocao de desiquilibrio, faz-me sentir
como que caindo num buraco sem fundo.
Falta-me o ar que me encheu o peito... acordo.
Que sonho estranho!

26 DEZEMBRO 2012





SEM ABRIGO



Falamos hoje... os dois.
Poucas palavras, ate desprezo.
Mas fico... "Esta frio..."
Tento pensar o que te vai na cabeca.
Talvez esteja a gozar com a vida... eu.
A tua... a minha. Sopramos o bafo gelado.
A minha consciencia, talvez fraca...
Uma mao suja, outra lavada... silencio.
So falam os gestos... a desconfianca.
Sinto-me gelar nesta pedra... mas tu?
Para ti ja nao gela... vives a tua "liberdade".
Um embrulho... olhos nos olhos.
Um esboco fraco de um sorriso.
"Por ser Natal?...", o teu bafo.
"Talvez, nao sei...", o meu perfume.
Uns bolos e uma sandes... um sorriso.
Diferente, mas sem palavras...
Tento ignorar a sofreguidao.
Nao acredito no que oico... "Es servido?!"
Eu? Como eu?! Tenho tudo.
Tenho uma lagrima que disfarco,
escorre mas nao de frio.
Tenho o tudo que nao e nada.
"Ja o foste?" um outro olhar.
"Estive quase..." e um sorriso.
Silencio... Sopramos o bafo gelado.
A crueldade do silencio fere-me a alma.
Levanto-me... deitas-te. Dou-te o espaco.
"Boa sorte..." dizes-me... nem acredito.
Mais uma licao que se me resume,
afinal tenho tudo, mas nao tenho nada.



25 DEZEMBRO 2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

NATAL IMENSO



Nao me apetece o Natal...
Apetece isso sim, imensas coisas.
Estou impedido de comemorar.
Este e so um dia, que seja feliz!
Tenho um calendario diferente.
Consegui a proeza de 365 Natais.
Ofereco um por dia, sem presentes.
Ofereco um sorriso embrulhado num beijo.
Recebo imensas prendas... sem presentes.
Todos os dias, a primeira do dia
faz-me viver, e desembrulhar a felicidade.
Respiro e penso, olho e sinto... os outros.
Adoro o Natal assim... imenso e prolongado.
Nao sou derrotista ou pessimista.
Sou aquilo que sou, e vivo tambem
apesar de um imaginario diferente.
Ofereco sempre algo meu... todos os dias.
Sem data definida mas constante.
Eu sei que sim... todos vos amais.
A vida, os filhos e os amigos no abraco
de uma redoma lindissima que vos protege.
Seu eu tivesse esse poder, seria redoma.
Seria o sorriso, ou ate o sopro fresco da vida.
Seria eu que vos arrepiaria a pele,
que vos faria sentir a beleza do mundo.
Nao falo em Deus... dizem que ha tantos.
Sou uma redoma protetora, ate que rache
com os descuidos que nos tornam pobres.
Mas remenda-se, e remendando o passado
fortifica-se o presente, protegendo o futuro.
Quero entao dar-vos o meu presente "natalicio".
Aqui esta... tao simples e de mao beijada.
Os meus 365 Natais, e um mundo com alma.

24 DEZEMBRO 2012

 

domingo, 23 de dezembro de 2012

PONTO FINAL



Acabei de receber um ultimato.
Girei por dentro deste cerebro,
consegui alem de eco, espanto.
Auto regulei drasticamente o meu Ego.
Percebi finalmente que me distraio,
que me perco em coisas futeis.
Todas estas diversoes da norma,
sao a minha teoria do ponto final.
Tudo se reune apenas num ponto.
Tudo se resume apenas num ponto.
A cadencia dos erros funciona...
Os restos ficam, mas nao a melhor parte.
Felicidade, e o meu ponto final.
Posso escrever, ler e chorar... ponto final.
Prometi aos meus botoes a liberdade.
O aprumo tal como a memoria,
resume-se ao agradavel, simples...
A extravagancia funciona alinhada,
tal como pintura abstrata inacabada,
onde a duvida esta no toque final.
Finada a obra... felicidade, ponto final.
Associando a minha futilidade,
o assedio aos meus devaneios, finda.
O ultimato esta em dia, racionalizado.
O eco do meu espanto ultrapassou-me.
Nao entendo, nem sequer sei
se ser louco e essencial, ou talvez...
Se me estrago em deformacoes escritas,
sera essa a minha impressao digital.
Perceberam? Duvido que sim...
Sei ser feliz, e ponto final.

23 DEZEMBRO 2012
 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

UM DIA BANAL


Quando o repouso chega ao fim do dia,
imediatamente a alma solta redeas,
em correria desenfriada, na calma do corpo.
Podem-lhe chamar o que quiserem... reflexao.
Acordado ou adormecido, ha algo de potente
que nao entendo, mas pratico em conviccao.
Desde o primeiro bocejo da manha, espreguico
este corpo lento que aquece o cerebro devagar.
A sensacao do calor do banho, tempera
o lustro que dou no retoque que me borrifo.
Um pequeno bonus ao estomago vazio,
para que nao se queixe irritante, no meio
dos outros corpos que se vao erguendo como eu.
E a fronteira surge, diaria e arrogante,
no simples abrir da porta, e o passo incerto
que me transporta para fora do meu sossego.
O zum-zum mecanico, o cheiro poluido
e os perfumes dos outros, pedem que nao mude,
que siga o mecanismo como peca de xadrez,
de regras certas e nuances de astucia e indiferenca.
Os corpos... as mentes e conversetas, devagar
vao acordando os meus sentidos da anestesia,
que a insonia me oferece, pelo toque.
Nao me toquem, que a maquina desafina.
Soltam-se as pecas, move-se o tabuleiro vazio,
e la estou eu outra vez a apanhar o que sobra.
Falei com alguem? Nao me lembro...
So sei que acordei e cumpri o dever de adulto.
Claro que adulterar algumas regras, nao tem mal.
Reanima o desanimo e a prepotencia das coisas.
Hirto como um pau, eu e todos seguimos,
por qualquer lado costumeiro, na monotonia
rotineira do prato que ha por encher, o copo
que tanto se quer vazar, e pelo final do dia.
Acumulando as ordens que recebo, como tantos,
fica o escarnio escondido, e o mal dizer interno
dirigido ao pecador do chefe, que me oprime.
Ou talvez nao... talvez tudo seja inverso.
O que quero mesmo saber, e a volta... a porta.
Atravessar de novo a fronteira do meu sossego.
Relaxar, um copo de vinho tinto, repousar o corpo.
O desejo fertil do libido, uma mulher que se ama,
investidas de jogos eroticos, e uma cama revolta
em lencois enrugados, de fluidos e cheiros... a vida.
Assim, nao sei se sempre, se passa um dia.

21 DEZEMBRO 2012 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL... MENINO DE RUA



Um passeio ao fim da tarde...
O mar de gentes, diferentes.
O eco de passos tresmalhados,
os sons e cheiros de rua... as luzes.
Misturo o cintilar de estrelas,
as luzes previsiveis de Natal.
Uma loja, tantas lojas e o frio.
Os bafos que falam em fumo
que se esvai a cada palavra.
Os olhares sorridentes do gasto.
Um vulto diferente estagnado,
onde a correria doida dos outros
se torna secundaria... vejo-te,
impavido e sereno no teu brilho.
Parado e indiferente, ao frio.
Uma felicidade em farrapos,
no brilhar de pequenos olhos.
Um olhar feliz, cheio de nada.
O calor da montra iluminada,
os pes trocados encavalitados,
as maos espalmadas no vidro,
agarrando desejos do outro lado.
O tilintar de sons imaginados,
o sonho de viver por dentro,
segurar apenas por um momento,
aquele brinquedo... apenas um.
A testa quente de febre,
talvez da ilusao que pensa,
encostada ao vidro da montra,
um momento de vida, te torna feliz.
Teimosa escorre uma lagrima lenta.
Nao entendo essa tua lagrima,
talvez triste, talvez feliz ou de frio.
Os vultos teimam em violar esta visao,
em passadas sem respeito por nos.
Eu que te vejo, tu que nao ves ninguem,
e a minha alma que chora na tua pobreza.
Os vultos sao negros, ao ver-te brilhar
sozinho, concentrado no teu mundo.
O mundo dos outros fica ali,
do outro lado do vidro, onde a fome
nao ecoa no estomago vazio,
onde a pele nao queima no frio,
e o meu mundo, que e o teu.
O aperto do frio, supera a tua utopia.
Esta na hora de virar as costas.
Esquecer a montra que fica... um sorriso.
Enfrentar os vultos sem face, e pedir.
Pedir um naco de pao, um agasalho,
uma simples moeda, e ter pena...
Ter pena das expressoes de desdem,
dos vultos que se queixam de tudo.
Chorar sozinho ao ver-te, indiferente,
que te queixas de nada, um desejo meu.
Na vergonha destas palavras ocas...
Feliz Natal, menino de rua!

18 DEZEMBRO 2012
 

AZENHA VELHA



Apenas quero sentir o som do acude...
Aquela azenha velha, abandonada
pelos anos e desprezo imposto pelo rio.
Estrutura de granito, ruina cinzenta
como a bruma da manha, rente ao silencio
de anos inertes, acariciada por acudes,
que as pequenas quedas d'agua animam.
Um quadro de fazer inveja, frio como cristal.
Um rio puro, livre, imparavel e transparente
de tal forma, que a minha alma para.
O som que cria a espuma branca, brilha
enquanto inalo o verde vasto precioso,
que nao morre... que nunca morre.
So morre a azenha velha, abandonada.
Apenas o eco dos acudes me acordam.
Um cheiro imune as coisas falsas,
uma visao que me cola ao chao fraco,
revolto de areias sorridentes, movidas
a cada golfada cristalina que nao para.
Submersos os limos e seixos redondos,
que apenas rolam livres na corrente,
cheios de vida tao inerte, que eu invejo.
Sentir o eco do ribeiro, transparente
como o meu corpo cansado da paixao
ardente no amor que fiz, como o frio doce
na agua deste regato. O abraco longo,
que nos adormece os corpos, incognitos
por onde o tempo passa sem resistencia,
felizes como os acudes desta azenha.
Um verde vivo, arrojado de vida diferente.
As arvores olham-me vaidosas, por serem altas,
tornam-me humilde, admirado pelos sentidos
que tanta beleza junta me ensina a simplicidade,
reanimando o meu ego, ja ha tanto adormecido.
Talvez os peixes sejam felizes, sem pensar...
toda esta fronteira do meu corpo, toca o ar
gratuito, em pequenos pingos salpicando,
toda esta humilde vida que se me entrega.
Sem esforco, tudo me faz pensar em coisas simples.
Uma azenha velha, que ja nao roda, cansada,
mas que nao deixou de ficar a gozar o paraiso.
E eu, que cobardemente feliz o abandono... no entanto,
guardo esta memoria. Ha momentos que nao morrem,
que me fazem viver a vida, com uma simples lembranca.
Admiro esta azenha assim abandonada, que resiste
saboreando a misteriosa bruma cinzenta, tal como o granito
nas paredes que a sustentam, animada pela agua cristalina
que afaga a revolta dos acudes, na pureza da vida,
acariciando-a de tal forma, que nao cai... e fica.

18 DEZEMBRO 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

IMPACIENCIA



Definitivamente tenho medo!
Tenho medo de mim proprio.
Tenho medo do Sol, da chuva.
Tenho medo do calor, do frio.
Tenho medo da minha impaciencia.
Esta vontade louca de ser assim,
tal como sou, inconformado.
Impaciencia e o que sinto.
Odeio Natais e Carnavais!
Sou egoista, sou intragavel ao mimo.
Nao por estar sozinho, isso gosto!
Tenho a impaciencia da injustica,
que me martela a alma, que me torna doente.
Tenho a visao dividida pela incoerencia.
Tanto vejo a fartura, mesmo que fraca,
como vejo a miseria imensa e impaciente.
E doi-me! Doi-me a minha impaciencia.
Doi-me a fraqueza dos corpos.
Doi-me a fome e a guerra dos inocentes.
Fico nesta impaciencia cronica,
que me enfraquece como qualquer doenca.
Uma doenca com vacina, que tem cura,
sem ser curada. E tenho medo!
Definitivamente tenho medo!
Tenho medo da traicao do Mundo.
Tenho medo das lagrimas que corroem a alma.
Das mortes intoleraveis e do Natal.
Tenho tudo e nao tenho nada, so impaciencia.
Tenho medo desta merda toda, de mim.
Tenho em mim enraizada a Impaciencia.

17 DEZEMBRO 2012

JEJUM DE PALAVRAS


Estou farto deste jejum de palavras.
Vazio se tornou o valor da existencia,
neste constante desabafo  inexistente.
Tudo sorri a minha volta, a minha vida...
Ate eu proprio, na minha constante insegurança,
sobrevivo na felicidade, com feicoes que nao finjo.
Tenho a benção de saborear tudo o que quero,
beber o que sinto, sem ter de esvaziar emoções.
Tirei o retrato do mundo, mesmo que tao básico.
Adorei as atitudes simples... o preto e o branco,
sem as cores, e sem o realce do que não preciso.
Adorei as cores, sim... depois, compostas de sonhos.
Amei e amo a lentidao terna, ao passar do tempo.
O meu tempo... A ternura que tanto estranho,
ao trazer esta emoçao permanente, que me agrada
que me acaricia, com a mão áspera da pureza.
Tenho o desafio da saudade, que me corroi em sabor de mel.
Desfaço toda a eloquência da falta... desinibida numa imagem,
num afago na pele que deixei, numa nostalgia contemporanea,
num sorriso que me traz o simples amor das palavras.
Penetro na mais quente das carnes, atabalhoado
pelo libido estonteante da minha alma apaixonada.
E não me perco... ate mesmo neste labirinto de cheiros,
onde as sebes me confundem, e pesam a frieza logica.
Mas o orgasmo preenche-me enquanto escrevo,
quando o jejum das palavras se esvai e evapora,
onde o troar dos farois, derrotam o nevoeiro denso,
quando me entregam as margens seguras... e o sonho.
Sinto o egoismo da fartura, na soberba gula pecadora,
que me alimenta, ao desinibir este meu jejum de palavras!
Quero papel...
Quero tinta...
Tenho fome...
Quero palavras!

17 DEZEMBRO 2012

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

MÃE, TUA CRIA



Tanto que te adoro mulher!
É bom, como é bom seres mulher!
Ja não te invejo, mas desejo.
Não o desejo da pele, que de tão bom
não te venho aqui dizer. Quero todas...
Todas as mulheres juntas a um lado.
E o resto do mundo a outro... as crias.
Alimentas a cria até morrer, seja tua
seja outra forma de ser tua. És mãe!
Sortudos e abençoados os felizes,
que te olham como crias. És mãe!
Das tuas entranhas, ou  outras
que sejam, são tuas as crias, mulher.
Como gostava de ter sido criado,
Como gostava de me sentir nascido,
Lapidado como diamante,
amado sem ser amante, mas por ti.
Tanto que te adoro mulher!
O teu silêncio é d'ouro, sem lágrimas.
A coragem, está no teu olhar disfarçada.
Como adoro todas as mães, mulher.
Serve-me o teu sangue, na sede
do parto, no amor de um choro. És mãe!
Mas elevo-te divina adotada,
teres o mundo vindo de um nada,
que resgatas sem medo da dor.
E dói-te... dói-te como parindo um anjo.
Sentes as asas que te abraçam,
que te veem mulher, e te chamam... Mae.
Tanto que te adoro mulher!

06 DEZEMBRO 2012

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

SIGAM-ME POR FAVOR!



Sigam-me por favor!
Abracem comigo a noite.
Os ecos das vielas vazias,
Sons estranhos e irreconhecíveis.
As luzes, trémulas e fracas
Os velhos candeeiros de rua,
Que assustam a minha sombra.
Sigam-me por favor!
Os meus passos deixam rastro.
Isso mesmo me assusta.
Não controlo a minha sombra,
Há uma luz ténue e trémula,
Nos velhos candeeiros de rua.
Sigam-me por favor!
Ajudem-me a fugir ao eco,
Sinto-me fechado, sem saída,
Arrepiado a cada passo e,
Com medo da minha própria sombra.
Agarrem-na. Não a deixem fugir.
Sigam-me por favor!
Convençam a minha sombra,
De que sou eu mesmo. Eu!
Por mais que queira, só assim
O meu corpo perde a forma.
Só assim, me sinto diferente.
Pela minha sombra. Eu!
Sigam-me por favor!
Falem com a minha sombra,
Segurem-na, devagar mesmo que estranha.
Quero manter esta fuga,
Preciso do meu abstrato nesta sombra.
Não suporto ficar sózinho.
Agora.
Sigam-me.
Por favor!
Ajudem-me!



05 DEZEMBRO 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

AMANHECER



O poder do amanhecer e fantastico!
Se e ciclo ou circo de luzes, gosto!
Ha qualquer coisa que me atrai,
no renovar diario. Algo dificil,
provavelmente simples, mas adoro!
A falada energia, consagrada na alma.
Uma forca que se liberta pelo corpo,
ao primeiro espreguicar do dia.
E mais um dia... sempre mais um dia.
Hoje... o Sol invadiu-me com um sorriso.
Ontem... a chuva animou-me os sentidos.
Amanha... estara frio, chuva e talvez Sol.
Nao refilo  nem desanimo, aproveito.
Consumo este poder do amanhecer.
Absorvo toda a energia possivel,
como fome e sede irreverentes.
Ao fim do dia, encosto cansado... penso.
Penso que bom foi o dia, mesmo que triste
mesmo cruel ou farto, e sorrio, obviamente.
Porque e obvio. So posso usufruir a vida.
Um amanhecer por cada dia... diferente.
Consumi-lo ao segundo, sem pensar muito.
Pensar sim, que alternativa nao existe.
Pensar sim, olhar o ceu ao sentir o corpo.
Todos os dias, sempre que amanhece...
Refugiar-me no amor do fim do dia,
apagar memorias imediatas, e sentir a pele,
nua e crua de uma mulher, sem pudor.
Fazer amor com sexo, ate a exaustao.
Adormecer feliz da vida... todos os dias.
Que me abencoe um novo amanhecer.
Viver cada dia, como sendo magia...

04 DEZEMBRO 2012
 

domingo, 2 de dezembro de 2012

ESPAÇO VAZIO


Apetece-me ficar aqui. Sem fazer nada.
Apenas deixar escorrer aquilo que não sei,
o que não previ, o que não imaginei. Apenas.
Ficar abstraído de frente a este espaço branco.
Vazio. Eu e este espaço. Acabei de ler um livro!
Preenchi mais um espaço. Esvaziando outro,
já preenchido por alguém, mas aqui, este vazio,
curiosamente me apetece encher de parvoíces
inusitadas. As palavras que apenas saem, por sair.
Quero sair daqui. Este espaço rectangular de papel,
completamente branco e vazio de mim e do mundo.
São espaços que me enfatuam tantas vezes.
Já não sei o que me apetece e, sobrevivo até sempre,
até ao próximo minuto. Esta cadência constante,
que improvisa a diferença. Eu, nunca sei.
Ja não sei nada, nem percebo se quero saber.
Tenho vontade de fechar os olhos e sair daqui.
Sinto-me apertado pela pele. Sinto os poros abrir,
como abismos, onde resvalo aos poucos e, por partes.
Quero agarrar-me ao mundo, este mundo que me foge,
onde os meus passos escorregam, sem equilíbrio.
O meu equilíbrio diário, automatizado só porque sim.
A mente mistura um cimento em pedra base,
que cinzela os alicerces, na construção do meu templo.
A alma constrói e alicerça os muros que o sustentam.
Só por ficar assim, sem fazer nada, fujo sem pânicos.
Desloco-me sempre no mesmo sentido, a visão.
Um certo receio, reconheço. Sou efémero e só.
Há sempre o oculto que não conheço, mas atrai-me.
Quero chegar ao topo da pirâmide e, sentir mais do que sinto.
Ao controlar estes nadas, é isto que faço sempre. Penso!
Fico cansado de pensar, até porque as perguntas,
que não são poucas, dão-me sempre respostas evasivas,
insensatas, temerosas e ocultas.  E fico assim,
como sempre, sabendo que ninguém sabe nada.
Fico aqui, descompensado no vazio espaço branco.
Com o mundo, minúsculo e inculto, ínfimo neste infinito,
tão cheio de espaços vazios, como esta folha de papel.
Tudo isto me faz querer sair do corpo. Ou do mundo.




02 DEZEMBRO 2012

HUMILDADE




O meu amor próprio, arrebatou o que resta de mim.
Não consigo agarrar-me a nada nesta queda louca,
onde raizes, árvores e pedras me rasgam a pele,
que já não sinto, que me ignoram deixando-me cair.
Fui fogaz e impertinente, na ascensão do meu limite.
Subi tão alto que tropecei na arrogância da vida,
rebolando nesta queda infinda, que só pára no fundo.
No fundo desta escarpa quebrada pela tolerância,
pelo destino previsto que a minha sede procura.
Parei apenas nesta fonte de mármore polido,
onde a gárgula cospe tudo menos água, fica a sede.
Fica a sede que sacio nesta corrente fraca,
a cada gota que me rejuvenesce e me afoga.
Quero viver como realidade desconcertada,
onde me atrapalhe em cada admirar de arte,
onde me torne humilde pela minha insignificância.
Quero mesmo que a dor do esfomeado, da crianca
que não fala por fraqueza, se transforme em mim.
Que a sinta eu, humilde da minha abundância,
que mesmo pouca, me torna arrojado na impotência.
Quero a Humildade generalizada, tal como a utopia.
Quando medito, sinto a humildade tão simples,
tão fácil e potente, de caminhos abertos... e sinto-a.
O meu amor próprio, rasga-me a alma indefesa,
que não desiste nunca, em gritar o que a transtorna.
O limite entre humildade e arrogância, a pequena
e frágil fronteira que os separa, são amor e ódio
que ficam confusos na mente do poder, a inoperância.
Preciso chegar a um estado de espirito onde a coragem,
me torne arrogante e poderoso e, conseguir finalmente,
talvez assim, abençoar todas as almas, em Humildade.

02 DEZEMBRO 2012

CALCETEIRO DE LISBOA



Nao sei porque, hoje deu-me para olhar o chao.
Comecei a contar, por serem tantas as pedras,
mas desisti, ao reparar no conjunto da calcada.
Aninhei os passos, com delicadeza por ser mais um.
Mais um que pisa sem pensar. Perdi-lhes a conta,
passei a admirar a harmonia com que sao feitas.
Nao sao so pedras... apenas uma calcada portuguesa.
Os desenhos estranhos simetricos, o preto e o branco,
fazem-me pensar, em quem pensa nos nossos passos.
Alguem algures no tempo se lembrou, em enaltecer,
embutir gloria, em cada passo vulgar, em cada passeio.
Afinal, calcarios e basaltos, nao sao so pedras inertes,
Sao pequenas obras de arte, que martelos nao torturam,
afinal, dao beleza a arestas presas na areia, com amor.
Uma destreza, que anima andar na minha  Lisboa.
Um passeio que cada passo tem um mimo calcetado.
De pedras se faz poesia, va-se la imaginar... pedras.
Mas sao obras de arte popular, que o povo possui
que nao vende nem compra, mas consome num sorriso.
Quero falar Lisboa, e aparecem-me pedras de calcada.
Nao tenho vergonha destas pedras, tao pouco desta cidade.
Sao apenas pedras, eu sei... nem sei porque falo delas.
Mas de tao longe, apetece o que nao tenho, a saudade
de coisas simples por onde andei, sem ter avaliado.
Sao os sons, os cheiros, os sorrisos, a luz e as pedras.
Sao os bairros, as fachadas, os carris estridentes.
Hoje lembro-me da simplicidade das pedras.
Como o valor da humildade... visionarios ajoelhados,
calceteiros artistas, animam seculos de passos vulgares,
em telas que martelam a preto e branco. Lisboa,
mais um pouco de saudade, e a arte que me faz falta.



02 DEZEMBRO 2102
 

sábado, 1 de dezembro de 2012

TEMPO



Sinto o tempo que não tem tempo,
apenas passa e, nunca pára.
Temos todos o nosso tempo,
cada vez menos tempo,
porque passa e não para.
Só conheço uma forma,
em que o tempo não é tempo,
apenas porque pára.
O sonho.
Por ele, ainda tenho tempo,
todo o tempo para sonhar.


01 DEZEMBRO 2012

TEMPESTADE E BONANCA



Sera bom que as nuvens nao sejam apenas portadoras de sonhos.
Sera mesmo bom que se tornem cinzentas, carregadas de escuras,
de chuvas e tempestades. Que tapem o Sol de vez em quando...
Esquecam la o Inverno... O sonho ultrapassa a luz e a escuridao.
O resultado esta na mesma proporcao, que a dor. Nao so fisica...
Tal como a dor, so a sentindo, damos valor ao prazer, so assim,
nos sentimos imortais por momentos, onde nada se passa de mal,
a nao ser o mal. A esperanca associada ao brilho, mesmo fora de epoca,
nao esquece que existo, quando a chuva me invade e o frio me aquece.
As tempestades tambem teem beleza que por vezes escondo. E mais...
So apreciando e sentindo a tempestade, me invade o deleite da bonanca.
Era bom... Era bom que talvez quando esse dia chegar, o usa-se agora...
Que ao toque de um dedo, ou ate pensamento, pudesse controlar o tempo.
As horas eternas e incansaveis, que nao param de girar o mundo,
mas que resistem livres, imutaveis e desinibidas, no meu envelhecer.
Mas e tao bom que passe o tempo... Mesmo vendo a decadencia,
que nao para de me gritar aos sentidos, faz-me pensar... e tanto.
Aos poucos, cada vez gosto mais das nuvens carregadas de chuva,
peco-lhes que desabafem em mim toda a agua possivel, enfrento-a
de face erguida, fazendo com que sintam que nao tenho medo.
Agrada-me... adoro que me toquem a face desprotegida e me encharquem.
Adoro... tal como molhar os pes, no mar do Inverno, que me gela os ossos,
mas que me faz sentir vivo, no troar das mares, e no macio do toque.
Basta fechar os olhos, a cada momento que preciso brilho do Sol.
Para o sentir, basta sentar-me em frente a uma lareira, que ele criou,
basta sentir o calor dos elementos que se consomem em si proprios.
Nao... Nao ha so nuvens brancas de veludo...
Mas fica sempre o prazer eterno da bonanca.

01 DEZEMBRO 2012

 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

AMOR



Amor não tem nada, que se lhe diga.
É sentir a outra margem escondida e, viva
pela tempestade, do oceano que nos separa.
Amor é cheirar-te ao longe, sem ter dúvida.
É encontrar-te no meio de tudo.
É como sentir um sopro, por cada bater de asas,
Mesmo pequenas que sejam, mas que me acordam,
Piando o pássaro, no parapeito da janela.
Percebo seres tu, quem não pode voar.
Um piar que me acorda de tão simples e leve,
Como folhas de Outono, vestidas com cores alegres,
Quentes, que me fazem parar, pensativo,
Enquanto vejo o bailado, enquanto caem.
Amor, é o silêncio dos olhos, que não se calam.
Sentir todos os poros que tenho,
Que se conhecem, um por um.
Um impulso apertado,  lábios colados. Um abraço.
Abraço forte, de veludo, onde a pele escorre
O suor da entrega, e as lágrimas do prazer.
É o teu gemido, doce, que me agarra a alma,
Que me aperta esta vontade, de não dizer nada.
Amor não me traz a tristeza,  já a provei acre,
mesmo partindo. O murmúrio do teu olhar,
Tem uma linguagem própria e tão intensa...
Capaz de iluminar, os meus passos incertos,
Aqueles que me trazem de volta.
Mas o cheiro fica...
Amor ,não tem nada que se lhe diga.
Amor faz-se...
Contigo!

30 NOVEMBRO 2012

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

VOLTAR A SER CRIANCA



Nao sinto nostalgia, nao me pesa nos ombros.
Sinto apenas um sabor, acre e doce de saudade.
Considero o passar dos anos como um dom,
que podendo, aproveito e sustento aprendizagem.
Adulta... matura, mas por vezes um pouco escura.
So assim sinto esta saudade de ser crianca.
Porque vejo o vibrar, numa energia interminavel.
Falta-me por vezes essa energia no corpo.
Nao me queixo, nao pensem... apenas relembro.
Tenho outras energias, outros movimentos,
talvez mesmo mais discretos. A energia difere...
Uma alma que sente, uma mente que pense.
A felicidade e alegria, nao me fazem saltar ate esgotar.
Penso... tenho outra energia, invisivel quanto baste.
Alegre ou ate feliz, mas por vezes ate frustrante.
Porque penso... aqui sim seria bom, voltar a ser crianca.
Nao fujo a nada, admito tanto erro e falta de senso.
Mas aprendo... So assim aprendo e cresco, porque penso.
Tudo se complementa, obrigatoriamente entendo a vida.
Sentado num espaco de relva rapada de fresca,
onde o cheiro, adoca o sentido das coisas vivas,
incoerente, mas no renovar das mesmas, observo...
Observo a correria da felicidade, a gritaria inocente
da pequenada, amizades simples e sinceras,
sem espaco para falsidades conscientes. Apenas criancas...
Neste mesmo espaco, onde me sinto parar no tempo,
assim penso, observo e sorrio, com um simples desejo.
Nao perder o que sei, mas voltar a ser crianca.

29 NOVEMBRO 2012
 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

SILENCIO



Estou de cabeca vazia.
Pensar, falar, escrever... nada.
Apetece entregar-me ao silencio.
Deixa-lo falar por mim, ouvi-lo.
As palavras sao alimento da memoria,
mesmo que poucas, mesmo ingenuas.
Oico o vento que empurra a janela.
A comunicacao dos elementos.
Nao falam comigo para que os oica.
Apenas nos falamos tanto, ate demais.
Conseguir a entrega ao silencio,
vale tanto mais, que mil palavras.
Falar demais, nao me diz nada.
Prefiro ler o que se diz,
prefiro pensar no que escrevo,
prefiro a maravilha do silencio...
Estou de cabeca vazia.
Tenho um vazio enorme de conhecimento.
Preencher este espaco, vai ser impossivel.
Por mais que tente, por mais que leia e pense,
nunca saberei o inicio e o fim.
Silencio, a melhor forma dos sons.
Quando se calam, oico... e o eco fica.
No silencio, volto a ouvir tudo de novo.
No silencio, revejo as imagens.
No silencio, gozo o brilho das sinfonias,
embalo-me pela harmonia dos sons.
Apesar de sentir a cabeca vazia,
sinto-a cheia de tanta memoria.
O silencio, torna tudo tao diferente...
Calem-se todos por momentos.
Deixem falar o silencio.

19 NOVEMBRO 2012

 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

MENINA DO BAIRRO



Conheço todas as pedras desta calçada.
Não tenho coragem para te falar,
sempre que te procuro nesta ruela.
Só para te ver. Só para te ouvir.
Formosa te debruças da velha janela,
tão bela a pobreza, que me faz viver.
O esganar da varina, o pregão do jornaleiro,
são os tons que afinam os sons deste bairro.
Só os encantos raiados do sol,
aquecem os brilhos nas telhas de barro,
e o eco das socas na tua correria,
realçam esse sorriso que a mim me ofusca,
pensamentos do abraço que sentireis um dia.
Um martírio estranho que adoro sentir.
Mirando essa janela alta, feia de velha,
sózinha me atrais com tua destreza,
mesmo que chuva escorra na telha,
esse sorriso será sempre luz e beleza.
Vives no topo da mais alta colina,
nesta viela tão estreita e tao fina,
gasta de séculos e paredes caiadas.
Alegram a alvora agudos gritos de varinas,
pregões da manhã, que dobram esquinas,
neste bairro e aldeia que adoça a cidade.
Mais bela ainda se torna a idade.
Bairro Alto sentindo os ventos,
como vela aberta, gozando a bolina,
deslizas na encosta até às águas do Tejo.
Mas não me ligas, nessa pobre janela,
ignoras a minha incognita  paixao.
Não tenho coragem de te falar, tão bela
de trás para a frente nesta ruela,
sigo sizudo em tristeza enfadonha,
sem desistir que um dia o teu beijo,
galgue a calcada como quem sonha,
e me toques os lábios como um anjo.
E um dia... quando ja tiver esquecido,
olharás para mim, e no teu belo peito,
sentirás por fim o meu amor perdido,
com a bilha de água de regaço a teu jeito.
Cruzaremos olhares moldados de barro,
ficarás para sempre como quem sonha,
o amor que perdi na menina do bairro.


15 NOVEMBRO 2012

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

SE HOUVER LUA



Quero ouvir o adormecer dos movimentos.
Sentir o cansaço de repetições previsíveis,
as intermináveis noites, iluminadas de sombras.
Tão previsíveis, como eu gostava de o não ser.

Toda esta antecipação faz-me adivinhar,
como funciona o meu engano, o fabrico de nuances
que a harmonia me oferece. A frieza sombria.
Tudo me faz optar obrigatoriamente pelo belo.

Pela indispensável fúria dos elementos.

Pelo bailado dos corpos.

Atrai-me imaginar o outro lado do horizonte,
Só assim a criatividade como a conheço,
valoriza indisfarçavelmente a minha satisfação.
Só assim admiro a beleza.

E sinto este lado dos antípodas.

E cheiro o luar.

Tenho este fascínio pela noite.
Um mistério pouco sombrio,
cheio de sombras, de todas as sombras,
que se misturam ao breu da madrugada.

E camuflado fica esforço algum.

E o movimento em rigidez profunda.
A Beleza de uma estátua.
Sentir a inércia tão segura.

Se houver Lua, tudo o que disse muda de figura.
Se houver Lua, o encanto movimenta as sombras.
O inerte cria vida, as sombras ficam irrequietas
num trote estranho. Girando, se houver Lua.

Se a previsibilidade da vida for como a sombra,
será sempre diferente, todos os dias.

Haverá luar,
se houver Lua.

14 NOVEMBRO 2012

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A MINHA SOMBRA




A imparcialidade espreita sombria, como a noite.
A noite... indomavel tempestade de sombras.
O imparcial, tem o poder da beleza, humilde e distante
de uma estrada, sem final nem desvios, uma recta imensa
galgada, metro por metro, nas cores tao disformes,
os cheiros diversos,  um paladar de diversidade. Apreciar,
sem optar por locais mais faceis, menos entusiastas,
lamacentos ou de luxo pardo, translucido como
a certeza de que o Sol se esconde, sem preocupacoes,
sabendo que volta brilhante, na manha seguinte.
A imparcialidade das sombras, substrai o absurdo
da logica previsivel. Movimentos alongados, ou nao...
estaticos e geneticos, ou nao... o imparcial da sombra.
Irreverente sombra de qualquer movimento, de qualquer
alguem, que aproveita naturalmente a noite sombria,
e o dia das sombras. Inventa desenhos, sempre diferentes
sempre sombrios, com a simplicidade dos obstaculos.
Atrai-me imenso a sombra. A minha, que de nunca para
nunca e igual, sempre maleavel aos movimentos.
A sombra nasce da luz, mesmo que o interior da mente,
perca a luz da felicidade e se agarre a sombras indesejaveis.
A sombra... a minha sombra. Serei sempre eu!

13 NOVEMBRO 2012

domingo, 11 de novembro de 2012

UM CAFE, UM LIVRO E ALGUEM...



A criacao de castas sociais, desafia-me a consciencia.
Observo pessoas incognitas, desde a esquina da rua,
passando a minha frente, sem me verem com a simples
indiferenca do ser humano. O cotidiano actualizado
nas massas de betao armado, onde a maior indiferenca
e a mesma atencao que damos a outros como nos.
Somos tao culpados como os reus. Os reus de rua
incognitos, no olhar objectivo, mas sempre admirado
por uma critica individual, que serve de auto afirmacao.
Repara toda a gente, no pequeno estranho pormenor,
de outra tao pequena atitude, diferente da nossa.
Claro que ha reaccoes antagonicas, critica mais metodica,
acabando de forma inconsciente, classificar como casta
o antagonismo do comportamento social. Cada um,
perde tempo de vida propria, na critica da vida alheia.
Ciume ou admiracao... desdem ou consternacao,
a casta fica subjectivamente nomeada na memoria.
E somos todos contra isso! Contra castas sociais,
que desesperadamente construimos, na vontade sincera
de as eliminar. Severos e humanizados, com a pena
expressa pelo mais fraco, acabamos por enfraquecer
esses mesmos pobres, que mesmo de alma, tenham
a capacidade impensada de ser diferente. Por isso,
me sabe tao bem, este cafe quente, num frio que acentua
a mudanca do ciclo da vida, onde o vapor do meu bafo
gelado, se confunde com o aroma do fumo do cafe quente.
Aqui sinto, sem pensar em nada de significativo,
enquanto leio o livro que me atrai nas sobras do dia,
um sorriso que nao evito, que me torna ironico na
minha propria forma de estar como pessoa. Apenas
a concentracao de momentos, transformam o meu mundo
em capitulos imaginarios que me confundem o real,
que me interrogam a consciencia, e que me atraeem
a duvida de ser tao pequeno na atitude, como todos os outros.
Um cafe, um livro e tempo para olhar, momentos de prazer.
Um prazer que nao tinha antes de me sentar nesta mesa.
A duvida, a critica e a atitude, surgem quando menos se espera,
ao observar alguem indiferente tal como eu serei para outros,
que surge incognito, no dobrar de uma esquina qualquer.
E tao estranho ser humano, quando a inteligencia nos atraicoa.
O cafe e bom, aqueceu-me o corpo, o livro que pouco li
servira de contento mais tarde, ao deixar de pensar nos outros.

11 NOVEMBRO 2012
 

DIAS... QUE FORAM TRISTES




Sei que pensar aquilo que foi ontem,
nao me torna na pessoa mais apetecivel.
O dia de hoje aniversaria a tempestade,
enrolado no meio das ondas, enormes
na mare mais morta que conheci, afoguei-me.
Afoguei-me a olhar para mim... o susto corroeu-me.
Toquei-me incredulo, na quantidade tao enorme
da escuridao que me envolveu... o panico assaltou-me.
Desejei o fim do mundo... de agora e sempre.
Entendi as escarpas gastas, nas derrocadas
que remexem milhares de anos, num segundo.
Descobi em mim, um outro eu... fraco, e como me odiei.
A fraqueza das cicatrizes, fechadas a tanto tempo,
reabriram em doenca diferente, mas presente.
Nao consegui o choro, perdi a alma por dias seguidos.
Oco de tudo e de nada, vazio como um balao.
Apenas ar... apenas respirar afogado.
Os deuses e crencas, perderam-se sem fe em nada.
Em absolutamente nada... apenas dor profunda.
Longa e sadica por cada visao da minha sombra.
Fiquei quedo, absorvido em medo sem o ter.
Descrutinar os momentos e obra do diabo.
Relembrar os tormentos e viver o passado.
Na melancolia do poema, sai o desabafo.
Sempre e so assim... sempre e so assim eu penso.
Amo porem a vida, como que por encanto.
Amo cada vez mais o final que comecou aqui.
Nada se perde na escrita, onde so assim me encontro.
Sozinho... feliz por estar sozinho, sempre serei
por mais companhia que tenha, feliz por me sentir so.

11 NOVEMBRO 2012

sábado, 10 de novembro de 2012

CEREBRO VAZIO




O cerebro vazio, precisa de alimento.
Um passeio por uma qualquer rua,
cheia de uma mar de gente, avivando
a cada carga de ombro que faz olhar
o desconhecido. A maquina aquece,
mesmo ao pensar devagar, no desdem
do ombro que me empurrou, indiferente.
Sigo entre a calcada e os passos.
Deixo um espaco infimo, que me afasta
sem que toque completamente no chao.
So aqui e ali, sem poiso certo, apenas
preciso lembrar de vez em quando
o local onde estou, os ombros que me tocam,
aquele onde encosto a cabeca... e a diferenca.
A diferenca das coisas, das pessoas que
tantas vezes enchem a indiferenca que sinto.
O cerebro vazio, consume atento desconfiado,
toda a informacao que recebe, sem pedido
expresso ou voluntario, tudo o que se passa.
Esvazia-se mesmo por ameaca. O medo existe,
potente e indiferente, a reaccoes de outros cerebros.
O agitar do corpo, solto, empurrado pelos outros,
torna-se combustivel ecologico, mas degradante
na forma em que me faz pensar... vou acordando.
Devagar e de forma pouco elementar, mas vazio...
Cheio do espaco que alimenta o limbo adormecido,
acordando devagar, onde parei de pensar ontem.
E o mundo funciona, quando os meus ombros,
nos passos cada vez mais decididos, invertendo
todas as criticas, comecam a fustigar, empurrando
agora os outros ombros, de outros cerebros vazios.
Passo a minha indiferenca por simpatia,
desvio-me de tudo e de todos... sigo a minha vida.

10 NOVEMBRO 2012

 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

SACIAR A PRESA




Seguindo as pegadas da presa,
cheirando o odor que me excita,
descubro cama vazia, sem cheiro
o pouco tempo... os lencois famintos,
enfomeados de desejo e gemidos.
Es a presa que espero comer,
cheirar e lamber, tocar com os dedos.
Quero ser impetuoso, mas macio
puxar-te ancas e peito, ansioso
que me queiras, e te possa provar.
Quero ser lento ao despir-te a pele,
sentir a carne saltar devagar, invadir maos,
bracos e pernas, apertar-te sugando
tudo o que a boca deseja e quer provar.
Quero demora na prova, tempo sem tempo,
manter o momento, por mais que possa.
Sentir-te por fora e por dentro, louca...
na loucura que o corpo, liberto devora.
Vais-me segurar, apertado em ti
no sumo que bebo ate a ultima gota.
Entrelacar os dedos, sentir no aperto
intensos orgasmos, o auge dos cheiros .
Sentir os peitos exaustos, saltando
procurando o ar consumido a fundo.
E ficar... em lacos de pernas coladas,
amolecendo a carne que fica em ti.
Mais tempo... tempo sem tempo,
manter o momento e sentir-te assim.
Domada a presa, que comemos os dois,
devorados os cheiros, saciada a sede
nos ribeiros que fizemos escorrer.
Saciados em sossego, desfalecemos a carne,
retesando a vontade dos corpos colados.
O olhar foca,  ao falar em silencioso, lento
como o piscar dos olhos, os sorrisos que contam,
as sensacoes de prazer, que ambos consumimos
devorando um no outro,  a carne da nossa presa.

09 NOVEMBRO 2012


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

AS LETRAS






Se as letras tivessem vida propria,
uma animacao desnorteada e caotica,
curioso seria o resultado. Observar
o que lhes passa na ideia. Ideias,
as letras so podem mesmo ter ideias,
porque as nossas sao feitas de letras.
Ideais, e ideias uma mistura explosiva
que se pode tornar comica libertando
num filme animado, a creatividade
individual de cada letra. Serao egoistas?
Complicadas ou arrogantes? Acho...
Acho mesmo que sao das poucas coisas
que conseguem ser tudo ao mesmo tempo.
As letras teem um poder que fascina.
Animadas ou paradas, preguicosas
ou ate mesmo exaustivas, sao letras.
Sao sempre letras, novas de velhas,
de formas e linguas diferentes, sempre
sempre potentes na configuracao humana.
A animacao pode ser tragica ou comica,
com mascaras gregas, ou paginas brancas
escondidas no proximo virar de pagina,
onde nos surpreendem pelo espanto,
pelo encanto do proximo conto ou estoria.
Sao imprevisiveis de nascenca,
uma forma transcrita da alma humana,
em episodios inventados e consequentes
de quem as preenche pagina por pagina.
As letras sao apenas, reproducao da alma.

08 NOVEMBRO 2012 

A MINHA DUNA




Conheço esta duna, como a palma da minha mão.
Igual a tantas outras, mas com este gosto diferente,
talvez porque seja o meu local ideal. Prefiro senti-lo.
A magia é diferente, o local mantém-se o mesmo.
Voam-me os cabelos em vendavais, que me animam
pela beleza do eco e troar das marés vivas.
Aqueço o corpo embrenhado-me na areia, penso em ti,
com a ajuda do Sol e dos tons quentes do crepúsculo.
Apaixono-me no misterioso troar da sirene do farol,
o seu poder de penetrar pelo nevoeiro, que por mais
que tente, nao vejo nada mais que o ouvido sente.
Esta duna é especial. A parvoice, dá-me a ilusão
que nunca muda, que se mantém intocável
resistindo aos elementos brutos e puros,
apenas abrindo as boas vindas quando eu chego.
A praia sim, porque é de uma praia que falo,
também e insignificante no leito das escarpas
avivadas pelo grasnar das gaivotas, animando
no voo incessante, esta paisagem morta, além do mar.
Abraço-me a mim, saboreio assim a dádiva da natureza.
Obra de arte viva, onde alguma tela longe tenta imitar.
E os sentidos voam, voando fora de mim, acabando sempre
e inevitávelmente a pensar em ti. Uma duna vazia,
um espaco enorme por ocupar, uma conversa longa
que poderia ter contigo, preenchem a magia do lugar.
Mas sorrio sempre, porque sei que estás presente.
Olho o mar, medindo milhas e léguas, onde o limite
nunca finda na outra margem que não vejo.
Abraçado a mim, chega o frio irritante, tomando
o meu corpo por assédio, deixando ficar um esgar
de desespero, na concentração que perdi, ao olhar o mar.
A sirene calou-se desiludida, deixando um vazio estranho,
como a partida do nevoeiro que antes me abraçou.
O Sol, esse perdeu-se no meio do crepúsculo, esfriando
o meu corpo, sem cores quentes esvanecidas no horizonte.
Ficaram as gaivotas, ja cansadas, recolhendo às fendas
que se tornam brancas, pelo alargar das penas e do frio.
Resto eu, o mar e a minha duna.
A despedida inevitável, sem necessidade de uma palavra.
Declamo uma centena de poemas, que ficam planando
na minha alma calma, que por simpatia ritual,
afago neste poiso onde sempre me sento, no mesmo local,
trazendo-te comigo, ainda presa na memória viva
que abraco em mim, sem te abandonar no meu pensamento.
Há locais mágicos como este onde costumo ficar e,
sempre me oferecem estes pensamentos fantásticos!

08 NOVEMBRO 2012

terça-feira, 6 de novembro de 2012

UM NADA PREVISTO



Será confortável desejar ser ínfimo.
Tamanho suficiente que chegue,
para que sob um cogumelo selvagem
me proteja, modesto, dos pingos de orvalho
que me pesam e dobram, como a chuva.
Reduzir-me à inteligência insignificante,
Trás-me esta curiosidade liliputiana,
em arranjar coragem, sentindo na pele,
a importância imprescindível da pequenez.
Vendo o Homem como um gigante,
imenso, arrogante e de uma inocência
ainda mais ínfima que o meu tamanho,
talvez só o cosmos  justifique esta forma.
Ainda mais ínfima, a nossa nano presença
que ignora, pela nossa insignificância.
A imensidão existe, não pelo infinito,
mas por ser imensa, com muitos nadas,
com muitos infinitos, onde os contextos
existenciais, são tão insignificantes,
Com pequenos planetas, bonitos
como este... e, com vida própria.
Vida própria! O que significa isso?
Não passamos de uma sucessão evolutiva,
sem origem que se conheça, só sabendo
que o final, é definitivamente certo.
Sentir-me assim, tão pequeno como um insecto,
dá-me uma perspectiva minimalista fantástica,
usando o favor da pequenez,  talvez possa pensar,
imaginando e atuando, tal como o gigante mistico.
Conseguir ver tudo pelo divino. O Superior...
O Domínio dos Deuses talvez exista,
como os gigantes bíblicos que nos domaram,
deixando como paga, um esgar de inteligência.
Liliputiano de conto, insecto de espécie,
ou até Homem. Fica a Humanidade que,
não passa de um nada, com final previsto.

06 NOVEMBRO 2012


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

FELIZ INDECISAO



Ja nao sei se me apetece sentir o Sol ?!
Ja nao sei se me apetece sentir a Lua ?!
Tenho neste momento uma mistura de sensacoes,
tao interiorizadas e dificeis de transmitir,
que consigo tornar-me indeciso... e odeio isso.
O que me retem o grito, ou a fala ou os saltos
que quero dar, nao tem materialismos misturados,
muito menos nostalgias futeis, ou pessimismos.
O meu problema imediato, neste preciso momento,
impede-me de converter em partilha simples
o tao feliz que me sinto, no gozo desta vida.
Relembro e tenho projetos, passado e futuro
nao se disfarcam facilmente, nem quero.
Sou inato na verdade, pregando o asco da mentira.
Sinto-me bem... sinto que sou o que sou,
nao ha nada que gostaria de ser, e assumo
todo o passado de erros e alegrias mal geridas.
Ja nao sei se quero sentir o Sol?!
Ja nao sei se quero sentir a Lua?!
Adoro ambos, tao dependente me sinto deles.
Sei que sao elementares para a vida,
que me sustentam o respirar ora leve, ora sofrego.
Por isso a indecisao que tenho, afinal nao existe.
Confundo-me comigo mesmo, ja nao sei se por habito,
se apenas porque sei que me sinto irremediavelmente
feliz, ao sentir a vida, ao sentir o mundo.
Tenho fases de devaneio na responsabilidade civica.
Nao me calo ao que nao gosto, nao minto e escrevo...
Doi-me as dores dos outros. Os que nao teem opcao.
Mas nada impede a felicidade que se nos entrega
em tantas e diversas formas... a sabedoria,
esta nos momentos em que filtramos e gerimos
as diversas formas de felicidade. Adiciona-las,
tentar juntar o maior numero possivel, esse sim...
esse e o verdadeiro desafio da vida, que ninguem alcanca.
Fico feliz, mesmo sendo pobre, nao sentir falta de nada...

05 NOVEMBRO 2012

domingo, 4 de novembro de 2012

ROCA VELHA



As casas de granito antigo, ja gasto e velho,
onde a esquadria, vai quebrando ao sabor do tempo.
Apetece-me reviver aquela aldeia, onde tudo
mesmo tudo, ate pessoas, era perfeito para mim.
Os passeios de burrico teimoso, o gado lento
entregue no lameiro, e o frio... um frio de rachar.
A criancada vivia feliz, eu nos pincaros da alegria,
no gelo da manha, que bebiamos sem ralhares
mais velhos, quebrando as pocas pelo caminho.
Muros como casas, mais gastos, menos polidos
dividiam caminhos com cercas de madeira velha
enrugada e quebrada pela secura do tempo.
Ser feliz... momentos de saber ser feliz.
O cheiro da lareira, madeira seca e gesta,
onde o panelao de tripe, perfurava brazas
na espera do manjar lento para a jorna.
Os contos, arcaicos e inventados ao calor,
sentados a volta da lareira de sons crepitantes,
tao cheirosos, como o deslumbre que eu sentia.
A primeira experiencia de neve, pes descalcos
na palermice inocente de quem pensa,
que alguem pintara o mundo de branco.
Via o amanhecer dos mais velhos, escondido
sorrateiro, no meio da noite alta. Estranhava...
Estranhava sem dar valor como hoje, aos gestos...
Os rituais de vida agreste, a pobreza vivida
com o toque arrepiante e o brilho da felicidade,
a cada amanhecer, a resignacao de mais um dia.
Aquele som que ainda oico, em mecanismo tao arcaico,
que girava ha geracoes, no fiar calmo e tropego da la,
onde as horas nao se contam, onde apenas o Sol comanda.
Ribeiros, vinhas e hortas, distancias na poeira longa
que nao se sentia, ativando o prazer do falatorio,
dos contos passados, das anedotas matreiras,
em primeiros piscar de olhos namoradeiros.
Esta roca velha sobrevive neste museu que e meu.
Que existe na memoria, que ativo frequentemente
no reviver dos cheiros, dos sons e das historias.
Aquela roca velha, que me relembra a felicidade.


04 NOVEMBRO 2012

sábado, 3 de novembro de 2012

ASSIM PASSA O TEMPO




Como me sinto estranho com o passar do tempo.
Tao inevitavel e estranho, como o prazer de escrever.
Tao coerente e previsivel sentimos nos o tempo.
A angustia que sinto, sinto-a na impotencia propria
de nao o poder manipular. Nao quero adivinhar...
Nao quero no presente ser oportunista do futuro.
Mas o passado... ter o poder de manipular o passado.
Evitar miserias e dores, tao reles como evitaveis.
Ter um pouco a mao de Deus, decidir pelo bem.
Mas nao tenho ilusoes utopicas, apesar de sonhar.
So assim manipulo o tempo. Sonhando imaginarios,
sentindo reflexos nao invertidos da vida ideal.
O que me passa agora pela cabeca, e indecifravel.
Desejo... apenas puro desejo. Nao carnal, que e bom,
mas humano na intencionalidade, e conseguir
seja de que forma for, acabar com a miseria.
Talvez, concerteza, so mesmo pelo sonho.
Refletindo concluo, que afinal sei sonhar.
Que sonho mais vezes acordado, que dormindo.
Uma janela aberta absorvendo a energia solar,
que mesmo o vento por mais frio que sopre,
nunca conseguira esfriar aquilo que sinto.
Mas o passar do tempo, nao deixa de ser cruel.
Egoista e idiota tantas vezes, por nao parar.
Talvez sinta ciume... por ser efemero, por ser mortal.
Talvez sinta ciume... o tempo nao sente, por ser imortal.
Mas na consciencia da minha alma, da minha carne
e do meu espirito, nao lamento absolutamente nada.
Aproveito o que resta. Aproveito a lotaria dos momentos,
absorvendo a beleza da vida, a cada passo, a cada minuto.
Talvez mesmo la bem no intimo, sinta que o tempo
existe assim, por alguma razao que nao entendo.
Talvez por isso vou goza-lo, a cada segundo,
como lobo esfomeado de presas dificeis, lutando
para que a minha alma se sinta farta, na arte e na cultura.
O tempo passe entao assim... ja nao lhe ligo.

03 NOVEMBRO 2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

PRECISO DE DESCANSAR




Preciso de descansar.
Estou podre de cansaço. Não cansado de corpo.
Mas exausto por tudo o que não consigo esconder.
Preciso de descansar a alma! Esconder-me do Mundo,
Passear a minha alma, talvez apenas e só por sonhos.
Só de pensar nisto, já sonho. Impossível...
Descansar das noticias que são tantas, tão negativas.
Fome! Abuso! Corrupção! Guerra! Austeridade!
Sinto a alma violada por todo o lado, sem hipótese de defesa.
Olhando as crianças no parque, invejo-as.
Uma inveja boa, que me transforma numa delas.
Dificil seria manter o que sei, como criança adulta.
E sei tão pouco. Nunca saberei nada, por mais que aprenda.
Não quero noticias tristes, só peço ânimo e privacidade.
Provávelmente, vão etiquetar-me de cobarde. Que seja!
Que sejam felizes os que querem pouco.
A consciência é o conforto da alma, mantem-me vivo.
O ciclo deste planeta está em fase de renovação.
As profecias, que não acredito, são céleres em pânico.
Não quero pânicos. Será a única forma de adiar,
esse "fim do mundo" anunciado. E será um dia!
Como o conhecemos, assim, chegou talvez a nossa vez.
Somos nós os dinossauros, já em via de extinção.
E isto cansa! Pensar e ser invadido todos os dias em noticias
sobre a estupidez assumida e violadora da Humanidade.
Preciso descansar! Mesmo! Estou cansado!
Preciso dos tão falados "porto de abrigo" imaginários,
onde tudo se passa à minha volta, em velocidade virtiginosa.
Onde consiga focar apenas a minha sombra, indiferente a tudo.
Sinto-me cansado com tudo isto.
Sinto mais que nunca, sem dúvida nenhuma que,
Preciso descansar!

02 NOVEMBRO 2012

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

SINFONIA DE LETRAS



Um piano... Um violino...
Uma Filarmonica... E Eu.
Respiro e vivo como musica.
Apesar de ser individuo, os sentidos
absorvem harmonia, como oxigenio.
A musica, que nao sei tocar, toco-a
inculto, aqui escrevendo no meu lugar.
Agrada-me sentir que sou um musico,
nao sou virtuoso, mas curioso no sentir,
aproveito com amor, aquilo que aqui faco.
So assim enterro bem fundo, a minha dor.
Como pianista treina pelo prazer de tocar,
horas e horas infindas, sem esforco mental,
aqui escrevo a minha musica, como ele
onde o preto e branco das minhas teclas,
sao as letras negras e vazio claro, que sujo  
no papel enrugado, em consciencia tranquila.
Nunca serei compositor, menos ainda maestro,
mas o poder do amor, aplicado aquilo que gosto,
transforma a humildade escrita, em concerto
onde os musicos tocam, vibrando cordas e teclas,
nas reviravoltas das letras, ate que os dedos doam.
Nao sou assim tao humilde, porque existo... escrevo
a minha musica, que acredito so eu darei valor.
Mas fico entregue a diversidade do amor-proprio,
a todas as probabilidades com que me preencho,
conseguindo consecutivamente, atingir a felicidade.
A partilha, como o acto de uma orquestra,
desvia o egocentro da alma, que a entrega justa
aos poucos mortais que se disponham, recebam
e sintam "in loco" o sabor de me sentir feliz.
Esta e uma minha sinfonia...
Tao simples, como as palavras.

01 novembro 2012


 

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O QUE E BONITO



Tenho atracao fatal pelo que e bonito.
Nao me vou matar por falha disso,
a fatalidade so existe pela desistencia.
Atrai-me a beleza das coisas, pessoas.
As pessoas que fazem coisas bonitas,
as coisas bonitas que inspiram as pessoas,
a beleza no interior do pobre ao rico.
As coisas... apesar de imensas as opcoes,
tudo nao passa de pequenas coisas,
que mesmo sendo grandes, comecam do nada.
Bonitas ou nao, o desafio e glorificar
diferenciando a naturalidade da banalidade,
como estado mais puro da beleza.
E fica bonito... fica bem esta atitude.
Por procura frustrada ou inato, fica bem.
Reciclar o pensamento, nao fica mal.
Aproveitar o lixo das ideias, ideais perdidos
transformados em inteligencia reciclada,
fica bem... fica bem esta atitude.
Renovar a critica desenfreada, retornar
sentindo a importancia da simplicidade.
Os defeitos da mente, sao genes estravagantes
que transmitem as excentricidades da renovacao.
Apelidam os inconformados de hipocritas.
Pelo desprezo na mente, ou com o receio na alma.
O que e bonito, e para ser visto. Sem medos...
A nudez dos corpos, as cores... amor, tudo.
Nao e necessario muito, para ser bonito.
Um pouco de bom senso, um abraco e um beijo.
O mais bonito de tudo, e ser feliz.

31 OUTUBRO 2012

OXIDADO PELO TEMPO



Sinto-me de certa forma oxidado.
Talvez o tempo que me envelhece, seja culpado.
A ferrugem que me ataca, apesar de prorrogavel,
sorrateira mas irreversivel, tem a minha propria cura.
Sei que nao me torno novo, que nao volto atras,
mas agrada-me a idade, pela sabedoria do tempo.
Curo-me do ataque dos elementos, com a alma
que combate progressivamente, por inata reaccao,
os desafios nostalgicos e depressivos... oxidantes.
Tal como metal usado, gasto e raspado, fico fragil.
Uma fragilidade aparente pelas rugas que nao controlo
pelo emperrar da carne, mas o enigma da felicidade
controla todas as adversidades, como tratamento certo.
Tenho o carisma da imprevisibilidade, disfarcada
por atitudes de bom ator, e boas perfomances indutivas.
O prazer de provocar reaccoes, que me previnam
da imprevisibilidade dos outros, torna-se eficaz
por cada vez que provoco e recebo retorno inocente.
Este oxidar dos elementos no reboco da sabedoria,
embeleza como bronze velho, que invade a pedra
escorrendo o verdete que atrai admiracao pelo tempo.
Tenho o antidoto certo para a idade. Tenho a alma...
Tenho vontade que exijo em me tornar um ser melhor,
no passar de cada dia, com o que sei, o que vejo,
sinto e aprendo. Que me sinta a oxidar por fora,
a minha escultura interna mantem-se como nova,
com espaco e tempo ainda, para os retoques
que se necessarios, a vida precise e decida dar.
Que oxide o involucro, que envelheca o corpo,
porque a alma, essa nunca morre.

31 OUTUBRO 2012   

O MEU LOCAL SECRETO



Sei de um local secreto, onde o acesso
apenas passa por mim. Tem grutas enormes,
lagos subterraneos e pequenos belos monstros,
que por serem monstros, deixam que lhes toque
que fale, com a atencao de um mimo perdido.
A vontade que tenho e a partilha, por ser tao belo
por haver o potencial de tornar a vida real,
num local de sonho, tao aprazivel como vazio.
Tem a particularidade da escolha, onde cada um
por si so, e a cada momento, altere as formas,
os riachos e os monstros, que no fundo nao sao.
Sao diferentes, sao anormais aos cliches nomeados,
mas sao ternos, sao tao puros como o local secreto,
onde o acesso apenas passa por mim.
Ja nao e sonho, porque ja ultrapasso essa fase.
Passei a viver na espectativa do acordar... o medo,
oprime-me a vontade da realidade, mas so por pena.
Apenas por pena de quem nao consegue sonhar.
O meu medo nao e falta de coragem, mas um vazio
que ao prenche-lo, transporte o perigo de contagio
mundano, monotono e desinteressante, como o meu.
Ao entrar neste local secreto, a vontade e de ficar.
Indefinidamente eterno e nao efemero, mas ficar.
Tudo o que preenche, este espaco vazio da alma,
torna-se na rotatividade da minha imaginacao,
que nao para de trocar locais, pessoas e tanto mais.
Tudo se resume a pouco, na imensidao do que nao sei.
So a espontaniedade da fantasia, me anima e cura.
Ate o sinto acordado, a entrada e a saida, e o tempo.
O tempo que escolho para mudar, e mudar o tempo.
Mudar todo o conteudo, todo o significado de tudo.
Mas nao... nao vou arriscar. Nao vou mostrar
este meu local secreto, tenho medo que todos fiquem,
onde o acesso apenas passa por mim.

31 OUTUBRO 2012

terça-feira, 30 de outubro de 2012

ALICE NO PAIS DAS ARMADILHAS




Um brilho no olhar atrai a fantasia.
Criança perdida, esfarrapada pelo destino
brinca, sorri como ninguém consegue sorrir.
Um coração feliz, de talvez pouca felicidade
que a mim e a tantos difícil será entender.
A felicidade simples de não ter nada,
mas abraçar a fantasia como alimento
que sirva de exemplo ao abastado, aos felizes
materialistas, com sorrisos comprados
preenchidos por uma sociedade insegura.
O escárnio e desprezo fingidos, não passam
de admiração e medo, pelo poder das crianças.
Seria bom não crescer! Manter a fome viva
com uma alma cheia de alimento puro.
A inocência e rigor da necessidade,
consegue facilmente um pequeno milagre.
O milagre da vida dispersa, por tantas outras
tão diferentes entre si, mas que no final
todas elas vivem, consumindo o mesmo ar,
andando pelas mesmas ruas, no frio diferente
que acaba sempre, por aquecer a resignação.
Por mais que tente disfarçar a indiferença,
não consigo ignorar a frieza encantadora
na fantasia que alimenta aquele olhar, um brilho
tão próprio e inigualável como o desta criança.
Talvez sem família, sem casa e sem amor,
sem tudo a que tem direito, por decreto universal.
Talvez se chame Alice; talvez se chame os nomes
das fantasias que vive diariamente, nas ruas
desertas, escuras e repletas de nada. Habituada
ao breu, que a noite torna num único e seco sorrir,
preenchendo as fábulas e historias encantadas,
escondidas sob o cartão que lhe cobre a noite,
talvez só assim, se liberte deste pais das armadilhas.
Um sonho será talvez, para sempre um sonho,
mas a intensidade será certamente maior,
quando a pobreza se torna forma de vida.

30 OUTUBRO 2012 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

MINHA IRMA AMIGA



Sinto-te triste neste mundo imprevisivel.
Consigo ouvir o vibrar agudo lindo de violinos,
que te dedico, esperando que ao leres estas palavras,
saibas que e tua a poesia que escrevo, sentindo
exactamente o que sentes, por meu amor de amigo.
Ouve o som fantastico dos violinos, levanta-te...
danca comigo esta melodia imaginaria, que de tao doce
elimina o fel da amargura com apenas o teu sorriso.
Quero um castelo de muralhas fortes, impenetravel
que te proteja, que subas brava a escadaria dos ceus,
gritando pelo que mereces, sem temor ou preconceito.
Grita alto, libertando o que te oprime nesse corpo.
Assalta vitoriosa, tudo que deprima o teu coracao.
Luta como sempre, como eu sei, ate que o sangue
escorra das cicatrizes que nao mereces... que saras.
Saras o que te doi por dentro, vomitando o negro
das entranhas da vida, que te persegue sem piedade.
Mas tens flores nesse castelo, que regaste e proteges,
que te abrem a paixao adormecida pelo teu amor.
Tens crias que te sustentam a alegria da alma,
que te deram novas flores para cuidares no teu jardim.
Nao desistas da crueldade do mundo, que e pequeno
restaura o teu jardim, nesse castelo enorme impenetravel,
onde os muros de tao fortes e altos, te protegem
mesmo sabendo que os desafios nao acabam, e por ti
pelo lutar com que resistes, te oicam todos gritar
do mais fundo do coracao e alma, que amas a vida
como sempre, erguida e forte sem duvida alguma,
e o amanha, sera sempre um novo dia de Sol.

29 OUTUBRO 2012


 

ALMA VIVA



Se fiar lã por uma roca arcaica,
produzo o resguardo do mendigo,
se comer bem em prato de prata,
pois me alimenta, até o umbigo.

Se a profecia das palavras,
são eco de desgraças vindouras,
quero só a surdez nos sentidos,
e imaginar apenas coisas boas.

Se rasgar o mar sem milagre,
libertando povos de dor e fome,
prefiro antes o azeite ao vinagre,
e esquecer assim o meu nome.

Se Deus existe, e nele acredito,
peço ao povo que a fé seja sua,
pois pensando nisto eu medito,
sofrendo, afinal a dor continua.

Se o rimar da palavra, for o vosso ideal,
também não deixarei finar a prosa poética,
pois não acredito que por escrita final,
apenas valor tenha, a forma romântica.

Brinquei com palavras e temas,
porque variar tem uma virtude,
acabar com a inércia do apenas,
escrevendo cada vez mais atitude.

Escrever, é uma forma de amor,
pela rima ou pela prosa, tanto faz,
pretendo apenas um simples valor,
mostrar o pouco que sou capaz.

Escrever é a arte da alma viva.

29 OUTUBRO 2012

domingo, 28 de outubro de 2012

O GÉNIO ABSURDO


Desde que me lembre, a cinza do absurdo espalha
todo um cheiro e desconforto total, em tudo que toca.
Ser absurdo é o acto do (i)realista intencional, que
na crítica que tenta ser fogaz e incisiva, se
torna pobre pela (in)capacidade e (in)competência,
ao opinar aquilo ou o que até sabe interpretar.
Só tem como defeito simples, tentar inibir opiniões
a que todos temos direito. Absurdo é alguém que
se acha detentor da verdade, sem créditos de opção.
Muita gente absurda existe neste momento.
Se a vida do comum mortal, desde incultos a cultos
incompletos, fosse respeitada, um mundo diferente
sobreviveria, de forma muito mais agradável,
tal como o comum mortal, que especificamente inculto,
observa, crítica e absorve, por exemplo, a beleza das artes.
Basta gostar. Basta interpretar o filtro individual,
o prazer exacto, que cada circunstância ou matéria
representa e, alimentar de forma única, o próprio ego.
O poder do absurdo, está na forma e, ao deixar de a ser.
A falta de tempo, ou a arrogância da pouca paciência,
transforma o "iluminado", em criador de castas sociais,
que ele próprio na fineza intelectual com que se intitula,
critica tudo de forma afincada e publicamente irreverente,
como sendo anti social, ou até altamente reprovável,
pela aplicação do seu "modus vivendi" civilizacional.
Tudo isto me faz correr as letras e, perder o fôlego.
Neste século contemporâneo, intransigível por obrigação,
ignoram-se os atrasos civilizacionais de outros povos.
O absurdo tem o poder máximo no egoísmo politizado.
O escárnio critico, no rebaixar outras ideias, acaba
por conquistar seguidores fanáticos, pela absurda
forma intransigente, a quem tem ideias opostas.
A democracia é uma horta fértil destes frutos.
O absurdo floresce, germina criando uma flor
que atrai atenção pela novidade, mas que apodrece
sem hipótese opcional, deixando um rasto nauseabundo.
Esta horta devia plantar frutos doces, agradáveis e desejados.
O absurdo cria a cinza das ideias, atiçadas por si próprio
na sua própria fogueira, em contrasenso ambiental
onde esse mesmo incêndio intencional, destrói toda
uma floresta recheada de egos simples, que têem
todo o direito de respirar ar puro. Esta cinza é nefasta.
Nada absolutamente mais ignorante, que o génio absurdo.

28 OUTUBRO 2012


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

REENCONTRO



Lembro-me do quarto de Hotel!
Reencontrei-te, onde o mar acalmou
o receio de te tocar. Senti o vazio das rosas,
nuas de pétalas recentes, onde o veludo
fresco, se misturou no cheiro da tua pele.
A incredibilidade do momento, passou.
Assim o vento, teimou gemer inquieto,
tão nervoso como eu, na ansiedade do teu corpo.
Uma varanda fechada. Um som tão surdo
como o silêncio do nosso desejo.
Não foi a rosa que te dei, nem o champagne,
que nos animou o corpo, talvez a maré viva.
Imortalisado o momento. Foi muito mais...
Foste tu. Fui eu. Foram horas de pele refinada,
tocadas com sabor, escorreram seivas de amor.
Todos os vulcões se fundiram. Desenfreados
numa fusão que nos derreteu. Transformei pedra
em lava incandescente, jorrei a seiva
do prazer, nesse vale humedecido.
Foi tão sagrado como a arte. Um bailado,
uma tela, um teclado. Não contei o tempo.
Esgotaram os corpos. Finalmente.
Mas o sabor, o cheiro do mar,
tal como todo o suor, resistiram fortes.
Organizei-os no arquivo da memoria.
Rezei que parasse o tempo, 
Rezo que volte o momento.
Lembro-me daquele quarto de Hotel!

26 OUTUBRO 2012

O MEU PASSEIO



Apetece-me falar de coisas vas.
Falar por falar... coisas simples.
Dar um passeio, olhar os meus vizinhos,
ainda com um sabor a cafe na boca.
Misturar-me num passeio assediado,
onde as cabecas ondulam incognitas,
diferentes, passos diferentes... e falam.
Falam de tudo aquilo o que nao sei,
vidas estranhas, saudaveis, doentes .
Mas falam... falam muito.
Desconcentrado perco o sentido do destino,
concentrado em absorver o mais que possa.
Nao fujo a um sorriso, eu... que penso.
Imagino os pensamentos, disformes misterios
onde a curiosidade se concentra, descontraida
um pequeno segredo  ha tanto tempo meu.
Observo os comportamentos... adivinho.
Humano sem opcao consciente,
faco parte deste ondular aglomerado,
em mentes incognitas camufladas em carne,
ainda mais camufladas que vestuario,
onde o desespero individual nao resiste,
em tentativas desesperadas de camuflagem,
onde o pensamento, nunca deixara de ser
decididamente, o maior perigo da existencia.
Se berrar um improperio, ganho espaco...
o espaco da vergonha, a loucura que assusta,
a imprevisibilidade vista, em qualquer comum.
Um sorri, outro encolhe, outro ainda grita de susto,
sobrando aquele que enrija a tromba,
na total indiferenca das boas maneiras.
E passou... passamos todos uns pelos outros.
Uma epidemia massiva de expressoes tao vas,
como o que me faz falar... a vida.
Basta so mudar de lugar, atravessar a rua,
voltar a berrar para que seja novamente louco,
interromper o reciclar de cada passo diferente.
Tanta outra gente, ondulando feliz, triste,
ate indiferente com o cerebro parado.
Uma rotina humana que observo, em vao.
Mecanizado e alheio, num qualquer passeio,
num qualquer outro lugar do mundo,
onde me apeteca voltar a gritar,
enquanto falo de coisas vas.

26 OUTUBRO 2012

PRAIA DESERTA




Se sentisses hoje o que me apetece, abracavas-me
sentindo-me desfalecer aos poucos, em movimentos certos
como revolta calma sem resistencia a uma tempestade previsivel.
Sentir a areia aspera, entregues a um so prazer.
Na queda lenta dos nossos corpos, que se entrelacam misturados
nas dunas que alisamos... praia deserta onde o silencio, ecoa uma melodia...
Ouvir-te gemer ao ritmo das ondas, onde a espuma nos confunde,
onde o frio enriquece o sabor salgado da tua pele, que se descola
da minha, em intervalos destemidos como a cadencia de mares vivas.
O brilho languido e solene do mar, reflete este luar intenso prateado,
onde a cor se transforma, em lava que petrifica, ao tocar o calor dos corpos.
A escultura nasce, imberbe e intensa ao toque de cada dedo,
que sem segredo nem pudor, se move desinibida nesta praia deserta.
Deito-me ao longo da tua silhueta, que me atica o fogo brando,
onde a cada toque pachos de nevoa, silvam como vapor de agua fervente.
Quero provar o mar, nas ondas que nao param de saltar,
quero beber da tua espuma que me abraca, que me queima a boca
como mel quente, tao quente que nao sinto o frio do tempo que passa.
Talvez mais tarde ao vazar a mare, a lava derreta novamente
e nos misture na areia que ja lisa, pelo rebentar cadenciado das ondas
criamos neste mar tao grande e solitario, onde o reflexo do luar
cintilante a tona d'agua, como o brilho dos teus olhos, satisfeitos
e cansados, rogando pela espuma suave que ja nao volta.
Mas ja a saudade desta praia deserta, depressa deixa um vazio...
Tao imenso, como este oceano desencantado, pela vastidao das ondas
que ja nao nos tocam, que ja nao nos assaltam, onde o eco ja nao geme.
Agora, as bocas perderam o fulgor desinibido, os corpos descolaram,
mas mesmo partindo, os passos lentos que demos ao partir,
deixaram para sempre feliz esta praia deserta.

26 OUTUBRO 2012
 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O SIGNIFICADO DA VIDA





Talvez o significado da vida, seja neste preciso momento,
Um vazio infinito, onde o prazer de voar, não seja interrompido
Por olhares de espanto, críticos ou incrédulos, que me façam
Devolver, um esgar de desdém, na insignificância dos outros.

Talvez pudesse antever, em profecias descriminadas,
A censura de expressões apaixonantes, que por tão sinceras,
Reacendam e acordem ódios, tao dispensáveis como a morte.

Não tenho medo absolutamente nenhum da morte! Estou
Vivo, até que o momento chegue, em conversas íntimas com Ela,
Talvez desesperando os inocentes que não sabem o que se passa e,
Pensem que o presente, será futuro ausente deste invólucro.

Talvez, o significado da vida, seja mesmo o amor.
Aproveitar os momentos que, mais ninguém vive, senão nós próprios,
Sem as mordomias do pudor, nem as exigências do correcto.

Saber que estamos de passagem, por uma razão qualquer,
Ainda que transtorne uns quantos, pelo pânico do final e,
Me faça assim sorrir, pela fraqueza desses alguns que, perdem
Tanto tempo com os medos de "benfazeres" das imposições.

Escrevam leis, correctoras de palhaçadas incontroladas que,
Por ser humano, tantos desvios à norma criticável,
Sem dúvidas, que fazem parte de uma outra forma de vida.

O desperdício do prazer, a frustração de passar ao lado da vida,
Onde o amor é o dado concreto, elevado a um estado superior,
É essa a prova viva, da extrema estupidez, de quem não sabe,
Ou finge não saber, a perda deste restrito tempo no mundo.

Os limites são imensos, é evidente. O paraíso mantém-se imaginário,
Tal como o divino e, o dantesco inferno. Talvez...
Talvez o teste, seja enfim, este purgatório de vivências,
Tão boas como más, loucas e finas e, afins...

O objectivo proposto, será o fim do dia, as cores quentes,
O desfrutar do horizonte, um copo de vinho, uma mulher,
Talvez até, para acelerar o fim, um simples cigarro,
Mas que tudo seja em prol do prazer de viver esta vida.

Cada um, com limites, vontades e fronteiras por ultrapassar,
Procure a consciência, ou talvez não. Apenas a vida é opção.
O final será filtrado, pelo restolho do sentido da vida.

Em mim, fica o resumo da arte.
A linguagem da Pintura, o som da música,
O esculpir da pedra e da madeira,  os estilos,
Certos, irreverentes, extravagantes, loucos e por aí fora.
Depois de tudo,
O que fica,
É amor.


25 OUTUBRO 2012

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

NAO ...




Nao...
Sim, a palavra e "Nao"!
Preciso de dizer "Nao",
como de ar nos pulmoes.
"Nao", de ter a certeza,
"Nao", de ter o caracter.
Dizer "Nao", ser ativo
remexer um bau esquecido
perdido no sotao da memoria.
Encontrar aquele objecto perdido,
que depois do desleixo, afinal existe.
Promover o "Nao" e ser exigente,
liberta-lo faz mover o Mundo.
Dizer "Nao" transforma as apatias,
atitudes que consentem o positivo,
negando o poder da negatividade.
Imagino varias manifestacoes publicas,
com uma unica palavra de ordem.
"Nao"... "Nao"... "Nao"... "Nao"...
Nao basta explorar o motivo da duvida,
mas descodificar ao agir, e dizer "Nao".
Falando, cantando, escrevendo, pintando...
"Nao", tem um poder proprio e adverso,
tem direito explicito, sem mordacas,
sem politicas ou preconceitos...
"Nao" a fome !
"Nao" a guerra !
"Nao" ao abuso !
"Nao"... "Nao"... "Nao"... "Nao"...
Hoje apetece-me dizer "Nao" a tudo.
Hoje, dizer "Nao", enche-me o peito de positividade
"Nao" !
Tenho dito!

24 OUTUBRO 2012
 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

QUERO INVERNO




Quero que o Inverno chegue!
Quero sentir o meu corpo lutar contra o frio,
animando-o amolecido pelo verao, de tao quente
me adormece a vontade consciente de reflectir.
Quero calor sim... mas da fogueira crepitante,
na magia do fogo, que nao me consome,
mas que me relaxa na contrariedade dos elementos.
Talvez um copo de vinho, beijado aos poucos,
sentindo a seiva dos deuses aquecer-me por dentro.
Talvez uma mulher que amo, se entregue nesta magia,
em cumplicidade quente, ardente que nao o fogo,
mas outra fogueira que me tente, sem refreios.
Mesmo que o frio sopre na vidraca, assobiando
uma melodia tao pura que apetece deixar correr,
o calor desta fogueira, enlaca-me sem o saber,
nas pernas desta mulher, onde o calor me queima
de um prazer intenso, gemendo sem pudor, igualando
a vidraca incontida, no assobiar do nosso alento.
Que escorra a seiva tinta, nos sucalcos desse corpo
onde eu espalho, bebendo ate a ultima gota.
Nao ha frio que melhor viole assim os corpos,
quentes de prazeres diferentes, onde a lareira
aquece o corpo, o vinho aquece a alma
e o esfregar dos corpos aquecem a loucura de viver.
Assim, quero que chegue o Inverno...
Que sirva de mais uma desculpa, para te ver.

17 OUTUBRO 2012
 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

SONHO SURREAL



Renasço a cada acordar.
O decifrar da noite leva o seu tempo e
custa-me focar na interpretação do sonho.
Consigo manter por breves momentos
imagens e acções maioritariamente
surreais que, se encadeiam disformes
com um sentido que não entendo.
Sei que há significados, que são latos
que frustram o entendimento lógico
pelo desenrolar abstrato do sonho.
O aliciante nem sempre tem a lógica
mínimamente imediata, aos impulsos
que tento acelerar, para não perder
os momentos e detalhes estranhos,
que se perdem da norma e realidade.
Canso-me tantas vezes. Acordo cansado.
Não que o corpo me entorpeça movimentos
mas ao adiar o amanhecer, a própria alma
que confundida se atrapalha por momentos,
teimosa ao tentar definir uma teia ilógica.
Acordar, só tem a lógica da vida,
só tem a lógica de um ritual corporal,
incontornável, que ultrapassa a intenção.
Quase semiologia do corpo.
Por enquanto, talvez por enquanto,
até que as sinapses se alterem em revolução
neurologica, evoluindo esta matéria cinzenta
tão imensa, tão intensa e desconhecida.
Acordar trás-me a ressaca da noite,
no desejo intenso, na opção certa
onde possa galgar a fronteira dos sensos.
A realidade, estranha mas atraente
do sonho, cria-me ansiedade neste encontro.
Nunca sei... A incerteza da surpresa atrai
todas as forcas que me restam, que reforço
de intencionalidade própria de me sentir sozinho
e passar para o próximo estágio da mente.
O meu ciclo de vida, (re)começa durante o sonho.

16OUTUBRO2012

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

ESCURIDAO




A decisao do meu espaco, e a escuridao.
Gosto de luz, de Sol, de tudo o que implica
o positivismo terno, de esperancas perdidas.
Mas a escuridao... um quarto escuro
nao necessariamente breu, mas a sombra
de um cinzento palido, que me toca indelevel
como ouvinte atento do meu pensamento.
Nao quero confundir a forma negra
da negatividade, mas explorar a pureza
que a escuridao possui, calma e disfarcada.
A sensacao do vazio da procura, um pesadelo
tao antigo como eu, a procura de uma porta
escondida numa area que nao conheco,
recompensa-me com o iluminar do caminho
no valor superior, do poder da escuridao.
Como a noite que remexe os amantes nus
nos corpos que nao se perdem, que se conhecem
em tactos luxuriantes, explorando o misterio
do proximo toque, do proximo beijo no escuro.
Escuridao da-me a liberdade de expressao
sem olhares criticos, mesmo que sinta a presenca
remexendo corpo, ego e alma, sem refreios
nem criticas que aceito, por nao ser perfeito.
O espaco, esse ainda nao conheco realmente.
Existe, sei que o tenho de tamanho inconformado
em paredes de papel que tremem, por cada bafo
sereno ou de desespero, onde limito a escuridao.
A minha escuridao esta no fechar dos olhos,
como ponto de partida para a ilusao consciente,
onde me perco em passado e presente,
no sonho imprevisivel que me ilumina.
Escuridao passou a ser o meu ponto de encontro,
onde tudo e todos se movem em bailado
tao contemporaneo, com a expressividade
de procura insistente e permanente,
de um ponto de luz, que mesmo sendo fraco
longinquo ou disfarcado, sirva o proposito
de iluminar esta escuridao, com esperanca.
Mas nao pensem que me escondo.
Gosto da escuridao... porque me ilumina.

15 OUTUBRO 2012

domingo, 14 de outubro de 2012

OS MENTIROSOS



Todas as promessas que conheço,
são pedras de arremesso, dolorosas.
É preciso ter um gene programado,
pela displicência e sorriso nos lábios,
na porca destreza do potencial mentiroso.
Tem classe e brilha fosco, prestativo
até ao fundo de um poço, ao tropeçar
na verdade, como anedota caída no vácuo.
O bónus, oferecido em promessa refinada,
previamente calculada e nunca cumprida,
seria uma bela prenda em veludo azul,
de ouro fino, na forma de corda torcida
lindissima como a promessa imunda,
colocada muito a gosto... No pescoço.
Faz-se pompa e circunstância ao mentiroso.
Tem poder e desenvolve fino e grosso,
a forma manipuladora do sonho do fraco.
São potentes e criativos, epidémicos
e geneticamente desenvolvidos, aceites
afinal pelos que ouvem e os consomem.
Somos uma cambada de renegados,
conscientes da fraqueza futura, mas
desta doença, pelos vistos, não fugimos à cura.
Surpreso ficarei um dia, educa(n)do
uma classe competente que me governe.
Há o vício da mordomia, o novo rico,
que em desespero de causa, acrescenta
sem fim previsto, interminável capacidade
do luxo fusco, com que se auto gratifica.
E ficamos assim... nas promessas,
nas promessas que eu conheço,
a procurar pedras que arremesso,
para acabarem com a mentira,
de uma forma igualmente dolorosa.
Nestas linhas, tenho pedras.
Nestas linhas, vos condeno,
a um final cruel!

14 OUTUBRO 2012