sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

FOLHA


Tenho pena de te ver assim.
Vazia... branca como tela por pintar.
Talvez prefiras que te chame... nuvem.
Indecisa em desaparecer ou repleta de chuva.
Talvez prefiras que te chame... algodao.
Suave e macio, enquanto me limpas a alma.
Mas quero muitas assim, como tu.
Apesar de um primeiro olhar impavido,
ao tocar-te, sinto um desejo infernal.
Quero pegar em ti, sujar-te...
Quero tocar-te com os dedos, sentir-te...
Quero amar-te assim, porque me ouves.
Nao discutes, nao criticas, apenas me sentes.
Sempre... imaculada pela minha ansiedade.
A minha ansiedade de te possuir, abusar...
Ganho serenidade, com a que me fazes perder.
Sao tantas como tu... Livres, vazias e felizes.
Sao tantos como eu... Presos, ocos e loucos.
Passo o dia, e dias sem conta a pensar em ti.
Nao e paixao efemera, apenas o meu corpo...
Mas a minha alma ama-te eternamente.
Tenho pena de te ver assim.
Vazia... a espera deste meu toque.
Sinto-te os poros quando deslizo a mao.
Basta tocar-te para que me transforme,
que te suje sem rota certa, com paixao.
Nestas letras e outras que tantas, te encho.
Nestas frases e outras que tantas, te pinto.
No final sorrimos, cansados mas felizes.
De ti... por ti... em ti... nasce a poesia.
Folha branca... e vazia.

28 DEZEMBRO 2012

DESTINO



Se sobreviver ao sopro do destino,
o caminho que percorro, não muda
nem com vendavais. Sobrevivo.
A felicidade não é utópica,
nem tão pouco, opção à sobrevivência.
Apenas um complemento. Às vezes isso.
Uma forma suave, passando pelo tempo,
dividido com a sabedoria dos inteligentes,
com ou sem formas, com ou sem conteúdos.
Não conheco tratamento nesta doença.
Ao acordar e adormecer todos os dias,
o destino é para mim uma incógnita,
para a qual nem tenho interesse real.
Talvez  forma leve de esperança, de surpresa,
refazendo todo o meu Ego, girando,
por uma espiral tão rápida, que me perco.
Mas desistir está fora de causa,
não posso perder este centro gravitacional.
Mas não sou incógnito! Apenas um indivíduo.
Tenho a personalidade viva e exclusiva,
um desdém conveniente. Alturas certas.
O sopro do destino, será o horizonte.
Gozar o amanhecer, idolatrar o crepúsculo,
como símbologia da vida humana.
As cores, sofrem de formas e amor.
São as rugas que o corpo oferece,
que a alma se recusa a acompanhar.
O destino pode ter a forma de caminho.
Talvez pintar umas telas abstratas,
induzir admiração às opiniões diferentes,
talvez então sim, imagine o que é o sonho.
Todos estes caminhos são diferentes.
Usados por cores gastas e baças,
punindo o estado de espirito,
com formas de percursos surreais.
E há o amor. O caminho do destino.
O que o destino esquece amiúde.
Tenho esta certeza absoluta,
que o dito Destino sou Eu!
Na próxima letra,
e já de seguida.

28 DEZEMBRO 2012

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

UM SONHO ESTRANHO



As montanhas de betao crescem.
Sao feitas de suor, e caminhos sem nexo.
Tornam-se engalanadas por buracos,
onde a luz se prende ao entrar,
que as aquece e anima, janelas.
Estou do lado de dentro. Absorto...
Unico ser vivo de sangue corrente,
que estende a mao em direccao ao sol,
e o transforma, em nuances de brilhos,
por cada movimento abstrato dos dedos.
As maos... sao o poder escravo da alma.
Costruiram estas montanhas... estranhas,
inertes no egoismo de arranhar os ceus.
E saio, sozinho desta caixa esburacada,
onde o ar, agora sabe e cheira diferente.
So me pergunto porque... quem sou eu?!
Aqui no meio desta poeira petrificada,
sem vivalma que se me assemelhe.
Serei flor no deserto? Foi-se o juizo...
Ando em passo lento, que sinto poder mudar.
Acelero ate correr, e sentir esta dor no peito
que nao conheco, exausto mas satisfeito.
E cheiro... sinto cheiro. O cheiro do mar.
Estou confuso, sinto sensacoes... sinto.
Percebo que posso optar, regular-me
calar e gritar... a voz. O som da voz.
Afinal nao sou filho do betao... penso.
Sinto o oceano que me gela os ossos,
que nestes pequenos saltos indecisos,
sem perceber, me fazem olhar para tras.
Percebo agora a enormidade das montanhas.
Entendo agora os buracos onde a luz se prende.
Do lado oposto, tudo e tao diferente...
Mas a montanha chama-me e obedeco.
No retorno triste, e na correria, tropeco.
A nocao de desiquilibrio, faz-me sentir
como que caindo num buraco sem fundo.
Falta-me o ar que me encheu o peito... acordo.
Que sonho estranho!

26 DEZEMBRO 2012





SEM ABRIGO



Falamos hoje... os dois.
Poucas palavras, ate desprezo.
Mas fico... "Esta frio..."
Tento pensar o que te vai na cabeca.
Talvez esteja a gozar com a vida... eu.
A tua... a minha. Sopramos o bafo gelado.
A minha consciencia, talvez fraca...
Uma mao suja, outra lavada... silencio.
So falam os gestos... a desconfianca.
Sinto-me gelar nesta pedra... mas tu?
Para ti ja nao gela... vives a tua "liberdade".
Um embrulho... olhos nos olhos.
Um esboco fraco de um sorriso.
"Por ser Natal?...", o teu bafo.
"Talvez, nao sei...", o meu perfume.
Uns bolos e uma sandes... um sorriso.
Diferente, mas sem palavras...
Tento ignorar a sofreguidao.
Nao acredito no que oico... "Es servido?!"
Eu? Como eu?! Tenho tudo.
Tenho uma lagrima que disfarco,
escorre mas nao de frio.
Tenho o tudo que nao e nada.
"Ja o foste?" um outro olhar.
"Estive quase..." e um sorriso.
Silencio... Sopramos o bafo gelado.
A crueldade do silencio fere-me a alma.
Levanto-me... deitas-te. Dou-te o espaco.
"Boa sorte..." dizes-me... nem acredito.
Mais uma licao que se me resume,
afinal tenho tudo, mas nao tenho nada.



25 DEZEMBRO 2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

NATAL IMENSO



Nao me apetece o Natal...
Apetece isso sim, imensas coisas.
Estou impedido de comemorar.
Este e so um dia, que seja feliz!
Tenho um calendario diferente.
Consegui a proeza de 365 Natais.
Ofereco um por dia, sem presentes.
Ofereco um sorriso embrulhado num beijo.
Recebo imensas prendas... sem presentes.
Todos os dias, a primeira do dia
faz-me viver, e desembrulhar a felicidade.
Respiro e penso, olho e sinto... os outros.
Adoro o Natal assim... imenso e prolongado.
Nao sou derrotista ou pessimista.
Sou aquilo que sou, e vivo tambem
apesar de um imaginario diferente.
Ofereco sempre algo meu... todos os dias.
Sem data definida mas constante.
Eu sei que sim... todos vos amais.
A vida, os filhos e os amigos no abraco
de uma redoma lindissima que vos protege.
Seu eu tivesse esse poder, seria redoma.
Seria o sorriso, ou ate o sopro fresco da vida.
Seria eu que vos arrepiaria a pele,
que vos faria sentir a beleza do mundo.
Nao falo em Deus... dizem que ha tantos.
Sou uma redoma protetora, ate que rache
com os descuidos que nos tornam pobres.
Mas remenda-se, e remendando o passado
fortifica-se o presente, protegendo o futuro.
Quero entao dar-vos o meu presente "natalicio".
Aqui esta... tao simples e de mao beijada.
Os meus 365 Natais, e um mundo com alma.

24 DEZEMBRO 2012

 

domingo, 23 de dezembro de 2012

PONTO FINAL



Acabei de receber um ultimato.
Girei por dentro deste cerebro,
consegui alem de eco, espanto.
Auto regulei drasticamente o meu Ego.
Percebi finalmente que me distraio,
que me perco em coisas futeis.
Todas estas diversoes da norma,
sao a minha teoria do ponto final.
Tudo se reune apenas num ponto.
Tudo se resume apenas num ponto.
A cadencia dos erros funciona...
Os restos ficam, mas nao a melhor parte.
Felicidade, e o meu ponto final.
Posso escrever, ler e chorar... ponto final.
Prometi aos meus botoes a liberdade.
O aprumo tal como a memoria,
resume-se ao agradavel, simples...
A extravagancia funciona alinhada,
tal como pintura abstrata inacabada,
onde a duvida esta no toque final.
Finada a obra... felicidade, ponto final.
Associando a minha futilidade,
o assedio aos meus devaneios, finda.
O ultimato esta em dia, racionalizado.
O eco do meu espanto ultrapassou-me.
Nao entendo, nem sequer sei
se ser louco e essencial, ou talvez...
Se me estrago em deformacoes escritas,
sera essa a minha impressao digital.
Perceberam? Duvido que sim...
Sei ser feliz, e ponto final.

23 DEZEMBRO 2012
 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

UM DIA BANAL


Quando o repouso chega ao fim do dia,
imediatamente a alma solta redeas,
em correria desenfriada, na calma do corpo.
Podem-lhe chamar o que quiserem... reflexao.
Acordado ou adormecido, ha algo de potente
que nao entendo, mas pratico em conviccao.
Desde o primeiro bocejo da manha, espreguico
este corpo lento que aquece o cerebro devagar.
A sensacao do calor do banho, tempera
o lustro que dou no retoque que me borrifo.
Um pequeno bonus ao estomago vazio,
para que nao se queixe irritante, no meio
dos outros corpos que se vao erguendo como eu.
E a fronteira surge, diaria e arrogante,
no simples abrir da porta, e o passo incerto
que me transporta para fora do meu sossego.
O zum-zum mecanico, o cheiro poluido
e os perfumes dos outros, pedem que nao mude,
que siga o mecanismo como peca de xadrez,
de regras certas e nuances de astucia e indiferenca.
Os corpos... as mentes e conversetas, devagar
vao acordando os meus sentidos da anestesia,
que a insonia me oferece, pelo toque.
Nao me toquem, que a maquina desafina.
Soltam-se as pecas, move-se o tabuleiro vazio,
e la estou eu outra vez a apanhar o que sobra.
Falei com alguem? Nao me lembro...
So sei que acordei e cumpri o dever de adulto.
Claro que adulterar algumas regras, nao tem mal.
Reanima o desanimo e a prepotencia das coisas.
Hirto como um pau, eu e todos seguimos,
por qualquer lado costumeiro, na monotonia
rotineira do prato que ha por encher, o copo
que tanto se quer vazar, e pelo final do dia.
Acumulando as ordens que recebo, como tantos,
fica o escarnio escondido, e o mal dizer interno
dirigido ao pecador do chefe, que me oprime.
Ou talvez nao... talvez tudo seja inverso.
O que quero mesmo saber, e a volta... a porta.
Atravessar de novo a fronteira do meu sossego.
Relaxar, um copo de vinho tinto, repousar o corpo.
O desejo fertil do libido, uma mulher que se ama,
investidas de jogos eroticos, e uma cama revolta
em lencois enrugados, de fluidos e cheiros... a vida.
Assim, nao sei se sempre, se passa um dia.

21 DEZEMBRO 2012 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL... MENINO DE RUA



Um passeio ao fim da tarde...
O mar de gentes, diferentes.
O eco de passos tresmalhados,
os sons e cheiros de rua... as luzes.
Misturo o cintilar de estrelas,
as luzes previsiveis de Natal.
Uma loja, tantas lojas e o frio.
Os bafos que falam em fumo
que se esvai a cada palavra.
Os olhares sorridentes do gasto.
Um vulto diferente estagnado,
onde a correria doida dos outros
se torna secundaria... vejo-te,
impavido e sereno no teu brilho.
Parado e indiferente, ao frio.
Uma felicidade em farrapos,
no brilhar de pequenos olhos.
Um olhar feliz, cheio de nada.
O calor da montra iluminada,
os pes trocados encavalitados,
as maos espalmadas no vidro,
agarrando desejos do outro lado.
O tilintar de sons imaginados,
o sonho de viver por dentro,
segurar apenas por um momento,
aquele brinquedo... apenas um.
A testa quente de febre,
talvez da ilusao que pensa,
encostada ao vidro da montra,
um momento de vida, te torna feliz.
Teimosa escorre uma lagrima lenta.
Nao entendo essa tua lagrima,
talvez triste, talvez feliz ou de frio.
Os vultos teimam em violar esta visao,
em passadas sem respeito por nos.
Eu que te vejo, tu que nao ves ninguem,
e a minha alma que chora na tua pobreza.
Os vultos sao negros, ao ver-te brilhar
sozinho, concentrado no teu mundo.
O mundo dos outros fica ali,
do outro lado do vidro, onde a fome
nao ecoa no estomago vazio,
onde a pele nao queima no frio,
e o meu mundo, que e o teu.
O aperto do frio, supera a tua utopia.
Esta na hora de virar as costas.
Esquecer a montra que fica... um sorriso.
Enfrentar os vultos sem face, e pedir.
Pedir um naco de pao, um agasalho,
uma simples moeda, e ter pena...
Ter pena das expressoes de desdem,
dos vultos que se queixam de tudo.
Chorar sozinho ao ver-te, indiferente,
que te queixas de nada, um desejo meu.
Na vergonha destas palavras ocas...
Feliz Natal, menino de rua!

18 DEZEMBRO 2012
 

AZENHA VELHA



Apenas quero sentir o som do acude...
Aquela azenha velha, abandonada
pelos anos e desprezo imposto pelo rio.
Estrutura de granito, ruina cinzenta
como a bruma da manha, rente ao silencio
de anos inertes, acariciada por acudes,
que as pequenas quedas d'agua animam.
Um quadro de fazer inveja, frio como cristal.
Um rio puro, livre, imparavel e transparente
de tal forma, que a minha alma para.
O som que cria a espuma branca, brilha
enquanto inalo o verde vasto precioso,
que nao morre... que nunca morre.
So morre a azenha velha, abandonada.
Apenas o eco dos acudes me acordam.
Um cheiro imune as coisas falsas,
uma visao que me cola ao chao fraco,
revolto de areias sorridentes, movidas
a cada golfada cristalina que nao para.
Submersos os limos e seixos redondos,
que apenas rolam livres na corrente,
cheios de vida tao inerte, que eu invejo.
Sentir o eco do ribeiro, transparente
como o meu corpo cansado da paixao
ardente no amor que fiz, como o frio doce
na agua deste regato. O abraco longo,
que nos adormece os corpos, incognitos
por onde o tempo passa sem resistencia,
felizes como os acudes desta azenha.
Um verde vivo, arrojado de vida diferente.
As arvores olham-me vaidosas, por serem altas,
tornam-me humilde, admirado pelos sentidos
que tanta beleza junta me ensina a simplicidade,
reanimando o meu ego, ja ha tanto adormecido.
Talvez os peixes sejam felizes, sem pensar...
toda esta fronteira do meu corpo, toca o ar
gratuito, em pequenos pingos salpicando,
toda esta humilde vida que se me entrega.
Sem esforco, tudo me faz pensar em coisas simples.
Uma azenha velha, que ja nao roda, cansada,
mas que nao deixou de ficar a gozar o paraiso.
E eu, que cobardemente feliz o abandono... no entanto,
guardo esta memoria. Ha momentos que nao morrem,
que me fazem viver a vida, com uma simples lembranca.
Admiro esta azenha assim abandonada, que resiste
saboreando a misteriosa bruma cinzenta, tal como o granito
nas paredes que a sustentam, animada pela agua cristalina
que afaga a revolta dos acudes, na pureza da vida,
acariciando-a de tal forma, que nao cai... e fica.

18 DEZEMBRO 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

IMPACIENCIA



Definitivamente tenho medo!
Tenho medo de mim proprio.
Tenho medo do Sol, da chuva.
Tenho medo do calor, do frio.
Tenho medo da minha impaciencia.
Esta vontade louca de ser assim,
tal como sou, inconformado.
Impaciencia e o que sinto.
Odeio Natais e Carnavais!
Sou egoista, sou intragavel ao mimo.
Nao por estar sozinho, isso gosto!
Tenho a impaciencia da injustica,
que me martela a alma, que me torna doente.
Tenho a visao dividida pela incoerencia.
Tanto vejo a fartura, mesmo que fraca,
como vejo a miseria imensa e impaciente.
E doi-me! Doi-me a minha impaciencia.
Doi-me a fraqueza dos corpos.
Doi-me a fome e a guerra dos inocentes.
Fico nesta impaciencia cronica,
que me enfraquece como qualquer doenca.
Uma doenca com vacina, que tem cura,
sem ser curada. E tenho medo!
Definitivamente tenho medo!
Tenho medo da traicao do Mundo.
Tenho medo das lagrimas que corroem a alma.
Das mortes intoleraveis e do Natal.
Tenho tudo e nao tenho nada, so impaciencia.
Tenho medo desta merda toda, de mim.
Tenho em mim enraizada a Impaciencia.

17 DEZEMBRO 2012

JEJUM DE PALAVRAS


Estou farto deste jejum de palavras.
Vazio se tornou o valor da existencia,
neste constante desabafo  inexistente.
Tudo sorri a minha volta, a minha vida...
Ate eu proprio, na minha constante insegurança,
sobrevivo na felicidade, com feicoes que nao finjo.
Tenho a benção de saborear tudo o que quero,
beber o que sinto, sem ter de esvaziar emoções.
Tirei o retrato do mundo, mesmo que tao básico.
Adorei as atitudes simples... o preto e o branco,
sem as cores, e sem o realce do que não preciso.
Adorei as cores, sim... depois, compostas de sonhos.
Amei e amo a lentidao terna, ao passar do tempo.
O meu tempo... A ternura que tanto estranho,
ao trazer esta emoçao permanente, que me agrada
que me acaricia, com a mão áspera da pureza.
Tenho o desafio da saudade, que me corroi em sabor de mel.
Desfaço toda a eloquência da falta... desinibida numa imagem,
num afago na pele que deixei, numa nostalgia contemporanea,
num sorriso que me traz o simples amor das palavras.
Penetro na mais quente das carnes, atabalhoado
pelo libido estonteante da minha alma apaixonada.
E não me perco... ate mesmo neste labirinto de cheiros,
onde as sebes me confundem, e pesam a frieza logica.
Mas o orgasmo preenche-me enquanto escrevo,
quando o jejum das palavras se esvai e evapora,
onde o troar dos farois, derrotam o nevoeiro denso,
quando me entregam as margens seguras... e o sonho.
Sinto o egoismo da fartura, na soberba gula pecadora,
que me alimenta, ao desinibir este meu jejum de palavras!
Quero papel...
Quero tinta...
Tenho fome...
Quero palavras!

17 DEZEMBRO 2012

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

MÃE, TUA CRIA



Tanto que te adoro mulher!
É bom, como é bom seres mulher!
Ja não te invejo, mas desejo.
Não o desejo da pele, que de tão bom
não te venho aqui dizer. Quero todas...
Todas as mulheres juntas a um lado.
E o resto do mundo a outro... as crias.
Alimentas a cria até morrer, seja tua
seja outra forma de ser tua. És mãe!
Sortudos e abençoados os felizes,
que te olham como crias. És mãe!
Das tuas entranhas, ou  outras
que sejam, são tuas as crias, mulher.
Como gostava de ter sido criado,
Como gostava de me sentir nascido,
Lapidado como diamante,
amado sem ser amante, mas por ti.
Tanto que te adoro mulher!
O teu silêncio é d'ouro, sem lágrimas.
A coragem, está no teu olhar disfarçada.
Como adoro todas as mães, mulher.
Serve-me o teu sangue, na sede
do parto, no amor de um choro. És mãe!
Mas elevo-te divina adotada,
teres o mundo vindo de um nada,
que resgatas sem medo da dor.
E dói-te... dói-te como parindo um anjo.
Sentes as asas que te abraçam,
que te veem mulher, e te chamam... Mae.
Tanto que te adoro mulher!

06 DEZEMBRO 2012

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

SIGAM-ME POR FAVOR!



Sigam-me por favor!
Abracem comigo a noite.
Os ecos das vielas vazias,
Sons estranhos e irreconhecíveis.
As luzes, trémulas e fracas
Os velhos candeeiros de rua,
Que assustam a minha sombra.
Sigam-me por favor!
Os meus passos deixam rastro.
Isso mesmo me assusta.
Não controlo a minha sombra,
Há uma luz ténue e trémula,
Nos velhos candeeiros de rua.
Sigam-me por favor!
Ajudem-me a fugir ao eco,
Sinto-me fechado, sem saída,
Arrepiado a cada passo e,
Com medo da minha própria sombra.
Agarrem-na. Não a deixem fugir.
Sigam-me por favor!
Convençam a minha sombra,
De que sou eu mesmo. Eu!
Por mais que queira, só assim
O meu corpo perde a forma.
Só assim, me sinto diferente.
Pela minha sombra. Eu!
Sigam-me por favor!
Falem com a minha sombra,
Segurem-na, devagar mesmo que estranha.
Quero manter esta fuga,
Preciso do meu abstrato nesta sombra.
Não suporto ficar sózinho.
Agora.
Sigam-me.
Por favor!
Ajudem-me!



05 DEZEMBRO 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

AMANHECER



O poder do amanhecer e fantastico!
Se e ciclo ou circo de luzes, gosto!
Ha qualquer coisa que me atrai,
no renovar diario. Algo dificil,
provavelmente simples, mas adoro!
A falada energia, consagrada na alma.
Uma forca que se liberta pelo corpo,
ao primeiro espreguicar do dia.
E mais um dia... sempre mais um dia.
Hoje... o Sol invadiu-me com um sorriso.
Ontem... a chuva animou-me os sentidos.
Amanha... estara frio, chuva e talvez Sol.
Nao refilo  nem desanimo, aproveito.
Consumo este poder do amanhecer.
Absorvo toda a energia possivel,
como fome e sede irreverentes.
Ao fim do dia, encosto cansado... penso.
Penso que bom foi o dia, mesmo que triste
mesmo cruel ou farto, e sorrio, obviamente.
Porque e obvio. So posso usufruir a vida.
Um amanhecer por cada dia... diferente.
Consumi-lo ao segundo, sem pensar muito.
Pensar sim, que alternativa nao existe.
Pensar sim, olhar o ceu ao sentir o corpo.
Todos os dias, sempre que amanhece...
Refugiar-me no amor do fim do dia,
apagar memorias imediatas, e sentir a pele,
nua e crua de uma mulher, sem pudor.
Fazer amor com sexo, ate a exaustao.
Adormecer feliz da vida... todos os dias.
Que me abencoe um novo amanhecer.
Viver cada dia, como sendo magia...

04 DEZEMBRO 2012
 

domingo, 2 de dezembro de 2012

ESPAÇO VAZIO


Apetece-me ficar aqui. Sem fazer nada.
Apenas deixar escorrer aquilo que não sei,
o que não previ, o que não imaginei. Apenas.
Ficar abstraído de frente a este espaço branco.
Vazio. Eu e este espaço. Acabei de ler um livro!
Preenchi mais um espaço. Esvaziando outro,
já preenchido por alguém, mas aqui, este vazio,
curiosamente me apetece encher de parvoíces
inusitadas. As palavras que apenas saem, por sair.
Quero sair daqui. Este espaço rectangular de papel,
completamente branco e vazio de mim e do mundo.
São espaços que me enfatuam tantas vezes.
Já não sei o que me apetece e, sobrevivo até sempre,
até ao próximo minuto. Esta cadência constante,
que improvisa a diferença. Eu, nunca sei.
Ja não sei nada, nem percebo se quero saber.
Tenho vontade de fechar os olhos e sair daqui.
Sinto-me apertado pela pele. Sinto os poros abrir,
como abismos, onde resvalo aos poucos e, por partes.
Quero agarrar-me ao mundo, este mundo que me foge,
onde os meus passos escorregam, sem equilíbrio.
O meu equilíbrio diário, automatizado só porque sim.
A mente mistura um cimento em pedra base,
que cinzela os alicerces, na construção do meu templo.
A alma constrói e alicerça os muros que o sustentam.
Só por ficar assim, sem fazer nada, fujo sem pânicos.
Desloco-me sempre no mesmo sentido, a visão.
Um certo receio, reconheço. Sou efémero e só.
Há sempre o oculto que não conheço, mas atrai-me.
Quero chegar ao topo da pirâmide e, sentir mais do que sinto.
Ao controlar estes nadas, é isto que faço sempre. Penso!
Fico cansado de pensar, até porque as perguntas,
que não são poucas, dão-me sempre respostas evasivas,
insensatas, temerosas e ocultas.  E fico assim,
como sempre, sabendo que ninguém sabe nada.
Fico aqui, descompensado no vazio espaço branco.
Com o mundo, minúsculo e inculto, ínfimo neste infinito,
tão cheio de espaços vazios, como esta folha de papel.
Tudo isto me faz querer sair do corpo. Ou do mundo.




02 DEZEMBRO 2012

HUMILDADE




O meu amor próprio, arrebatou o que resta de mim.
Não consigo agarrar-me a nada nesta queda louca,
onde raizes, árvores e pedras me rasgam a pele,
que já não sinto, que me ignoram deixando-me cair.
Fui fogaz e impertinente, na ascensão do meu limite.
Subi tão alto que tropecei na arrogância da vida,
rebolando nesta queda infinda, que só pára no fundo.
No fundo desta escarpa quebrada pela tolerância,
pelo destino previsto que a minha sede procura.
Parei apenas nesta fonte de mármore polido,
onde a gárgula cospe tudo menos água, fica a sede.
Fica a sede que sacio nesta corrente fraca,
a cada gota que me rejuvenesce e me afoga.
Quero viver como realidade desconcertada,
onde me atrapalhe em cada admirar de arte,
onde me torne humilde pela minha insignificância.
Quero mesmo que a dor do esfomeado, da crianca
que não fala por fraqueza, se transforme em mim.
Que a sinta eu, humilde da minha abundância,
que mesmo pouca, me torna arrojado na impotência.
Quero a Humildade generalizada, tal como a utopia.
Quando medito, sinto a humildade tão simples,
tão fácil e potente, de caminhos abertos... e sinto-a.
O meu amor próprio, rasga-me a alma indefesa,
que não desiste nunca, em gritar o que a transtorna.
O limite entre humildade e arrogância, a pequena
e frágil fronteira que os separa, são amor e ódio
que ficam confusos na mente do poder, a inoperância.
Preciso chegar a um estado de espirito onde a coragem,
me torne arrogante e poderoso e, conseguir finalmente,
talvez assim, abençoar todas as almas, em Humildade.

02 DEZEMBRO 2012

CALCETEIRO DE LISBOA



Nao sei porque, hoje deu-me para olhar o chao.
Comecei a contar, por serem tantas as pedras,
mas desisti, ao reparar no conjunto da calcada.
Aninhei os passos, com delicadeza por ser mais um.
Mais um que pisa sem pensar. Perdi-lhes a conta,
passei a admirar a harmonia com que sao feitas.
Nao sao so pedras... apenas uma calcada portuguesa.
Os desenhos estranhos simetricos, o preto e o branco,
fazem-me pensar, em quem pensa nos nossos passos.
Alguem algures no tempo se lembrou, em enaltecer,
embutir gloria, em cada passo vulgar, em cada passeio.
Afinal, calcarios e basaltos, nao sao so pedras inertes,
Sao pequenas obras de arte, que martelos nao torturam,
afinal, dao beleza a arestas presas na areia, com amor.
Uma destreza, que anima andar na minha  Lisboa.
Um passeio que cada passo tem um mimo calcetado.
De pedras se faz poesia, va-se la imaginar... pedras.
Mas sao obras de arte popular, que o povo possui
que nao vende nem compra, mas consome num sorriso.
Quero falar Lisboa, e aparecem-me pedras de calcada.
Nao tenho vergonha destas pedras, tao pouco desta cidade.
Sao apenas pedras, eu sei... nem sei porque falo delas.
Mas de tao longe, apetece o que nao tenho, a saudade
de coisas simples por onde andei, sem ter avaliado.
Sao os sons, os cheiros, os sorrisos, a luz e as pedras.
Sao os bairros, as fachadas, os carris estridentes.
Hoje lembro-me da simplicidade das pedras.
Como o valor da humildade... visionarios ajoelhados,
calceteiros artistas, animam seculos de passos vulgares,
em telas que martelam a preto e branco. Lisboa,
mais um pouco de saudade, e a arte que me faz falta.



02 DEZEMBRO 2102
 

sábado, 1 de dezembro de 2012

TEMPO



Sinto o tempo que não tem tempo,
apenas passa e, nunca pára.
Temos todos o nosso tempo,
cada vez menos tempo,
porque passa e não para.
Só conheço uma forma,
em que o tempo não é tempo,
apenas porque pára.
O sonho.
Por ele, ainda tenho tempo,
todo o tempo para sonhar.


01 DEZEMBRO 2012

TEMPESTADE E BONANCA



Sera bom que as nuvens nao sejam apenas portadoras de sonhos.
Sera mesmo bom que se tornem cinzentas, carregadas de escuras,
de chuvas e tempestades. Que tapem o Sol de vez em quando...
Esquecam la o Inverno... O sonho ultrapassa a luz e a escuridao.
O resultado esta na mesma proporcao, que a dor. Nao so fisica...
Tal como a dor, so a sentindo, damos valor ao prazer, so assim,
nos sentimos imortais por momentos, onde nada se passa de mal,
a nao ser o mal. A esperanca associada ao brilho, mesmo fora de epoca,
nao esquece que existo, quando a chuva me invade e o frio me aquece.
As tempestades tambem teem beleza que por vezes escondo. E mais...
So apreciando e sentindo a tempestade, me invade o deleite da bonanca.
Era bom... Era bom que talvez quando esse dia chegar, o usa-se agora...
Que ao toque de um dedo, ou ate pensamento, pudesse controlar o tempo.
As horas eternas e incansaveis, que nao param de girar o mundo,
mas que resistem livres, imutaveis e desinibidas, no meu envelhecer.
Mas e tao bom que passe o tempo... Mesmo vendo a decadencia,
que nao para de me gritar aos sentidos, faz-me pensar... e tanto.
Aos poucos, cada vez gosto mais das nuvens carregadas de chuva,
peco-lhes que desabafem em mim toda a agua possivel, enfrento-a
de face erguida, fazendo com que sintam que nao tenho medo.
Agrada-me... adoro que me toquem a face desprotegida e me encharquem.
Adoro... tal como molhar os pes, no mar do Inverno, que me gela os ossos,
mas que me faz sentir vivo, no troar das mares, e no macio do toque.
Basta fechar os olhos, a cada momento que preciso brilho do Sol.
Para o sentir, basta sentar-me em frente a uma lareira, que ele criou,
basta sentir o calor dos elementos que se consomem em si proprios.
Nao... Nao ha so nuvens brancas de veludo...
Mas fica sempre o prazer eterno da bonanca.

01 DEZEMBRO 2012