domingo, 2 de dezembro de 2012

ESPAÇO VAZIO


Apetece-me ficar aqui. Sem fazer nada.
Apenas deixar escorrer aquilo que não sei,
o que não previ, o que não imaginei. Apenas.
Ficar abstraído de frente a este espaço branco.
Vazio. Eu e este espaço. Acabei de ler um livro!
Preenchi mais um espaço. Esvaziando outro,
já preenchido por alguém, mas aqui, este vazio,
curiosamente me apetece encher de parvoíces
inusitadas. As palavras que apenas saem, por sair.
Quero sair daqui. Este espaço rectangular de papel,
completamente branco e vazio de mim e do mundo.
São espaços que me enfatuam tantas vezes.
Já não sei o que me apetece e, sobrevivo até sempre,
até ao próximo minuto. Esta cadência constante,
que improvisa a diferença. Eu, nunca sei.
Ja não sei nada, nem percebo se quero saber.
Tenho vontade de fechar os olhos e sair daqui.
Sinto-me apertado pela pele. Sinto os poros abrir,
como abismos, onde resvalo aos poucos e, por partes.
Quero agarrar-me ao mundo, este mundo que me foge,
onde os meus passos escorregam, sem equilíbrio.
O meu equilíbrio diário, automatizado só porque sim.
A mente mistura um cimento em pedra base,
que cinzela os alicerces, na construção do meu templo.
A alma constrói e alicerça os muros que o sustentam.
Só por ficar assim, sem fazer nada, fujo sem pânicos.
Desloco-me sempre no mesmo sentido, a visão.
Um certo receio, reconheço. Sou efémero e só.
Há sempre o oculto que não conheço, mas atrai-me.
Quero chegar ao topo da pirâmide e, sentir mais do que sinto.
Ao controlar estes nadas, é isto que faço sempre. Penso!
Fico cansado de pensar, até porque as perguntas,
que não são poucas, dão-me sempre respostas evasivas,
insensatas, temerosas e ocultas.  E fico assim,
como sempre, sabendo que ninguém sabe nada.
Fico aqui, descompensado no vazio espaço branco.
Com o mundo, minúsculo e inculto, ínfimo neste infinito,
tão cheio de espaços vazios, como esta folha de papel.
Tudo isto me faz querer sair do corpo. Ou do mundo.




02 DEZEMBRO 2012

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