sexta-feira, 30 de setembro de 2016

SÓ A SIM





Só a sim,
Me descomprimo,
Porque sou leve
Como as penas.
É o não,
Que me condena
Pelo peso,
A minha razão.
É o Sol,
Que me sorri,
Porque o sinto ar
Que me aperta
O peito,
Sem o respirar.
É a Lua,
Que me beija,
Nas sombras de prata
Que só a noite entende
E me arrepia a pele.
Só tu,
Sabes tudo
O que digo,
O que sinto.
Até aqui, 
Do que falo.



30SETEMBRO2016

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

O OUTRO LADO DA LUA







Dizer-te que sim.
É imaturo,
Sem a ruga simples.
Alvo fácil
De um Sol nascente;
Preferia a Poente.
Eu,
Sou gente.
Digo-te que sim.

É prematura,
A cera nas velas,
As igrejas e tabernas.
Um mundo.
É vinho e sangue,
E Fé até.

Sou Eu que sim,
O que tantas vezes nega,
Que não apregoa.
Nada!
Dizer que sim,
É como um nada.

Depois de outro tanto,
Um talvez,
Sem apurar a sombra,
A minha sombra,
Rebelde e surrealista.
Distorcido por tudo,
Todos os lados
Menos o chão.

Onde toco,
Onde ando ou corro,
Não se vê.
Não me vêem,
Não me vejo,
A sombra é lateral,
Oblíqua ou vertical.

Do espelho,
Só a moldura...

Pode ser horizonte,
Mas não horizontal.
Dizer-te que sim,
É o outro lado da Lua.


22SETEMBRO2016

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

iMUNDO




Mundo louco.
(oiço o Gary Jules)
Mundo.
Mundo triste.
Mundo.
Mundo velho.
Mundo.
Mundo verde.
Mundo.
Mundo perdido.
iMundo.
Mundo e guerra.
Mundo.
Mundo e Paz.
Mundo.
Mundo terra.
Mundo.
Mundo doente.
Mundo.
iMundo Homem.
Mundo.
Mundo azul.
Mundo.
Mundo e Amor.
Mundo.
Mundo meu.
Mundo vosso.
iMundos.



21SETEMBRO2016

O OUTRO LADO DO SOL

Cruel a noite.
Abusa da minha paciência.
Desculpas fáceis
Que me fazem sentir cansado.
Um peso enorme
Que as pálpebras carregam
Sem vontade expressa em lutar
Mas derrotadas pela insónia.
Posso entregar-me à escuridão
Castigando a frustração
Que nada resolve. É ser nada.
Custa-me acreditar que
O sono seja tão necessário
É um dogma de todos os corpos
Que a justiça do sonho trai.
Doem-me os olhos.
As janelas de uma alma
Que precisa de trabalhar em silêncio.
Mas quando o silêncio abusa
Por persistência mal vinda,
É como estar nas terras do Sol
Sem noites naturais
Tapando as janelas do quarto
Com um já enorme desespero
Pela sombra, por um pouco de escuridão provocada que me adormeça.
É noite cerrada,
Mas sinto-me do outro lado do Sol.

21SETEMBRO2016

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

REFLEXO FRÁGIL





A imagem.
Reflexo frágil,
Invisível à distância
De um espelho.
É entrar,
Sentir o portal
Gelatinosa sensação
De um novo Mundo.
O lado de lá.
O lado de cá.
A imagem.
O toque receoso,
A incredibilidade frágil,
Inacreditável fragilidade.
Tudo é frágil
Em ambos os lados.
O que está em cima,
Como o que está em baixo.
Tudo é frágil!
Não sinto redomas
Que me apertem a mente.
Sou subsequente à inércia,
Apesar de sedentário
Aqui.
A Harpa soa
Ecoa ao hastear a Alma.
O baloiço está a meio,
Embalo
Nos dois lados.
No lado de lá e,
No lado de cá.
Consolo é o resultado
De ser ambíguo,
Claro e exato
Comigo.
A imagem,
A imagem não existe.
O espelho
Não me reflete.
Será prosaico
Saber que existo
Se existo, ou não...


16SETEMBRO2016



DESCALÇO





Penso tanto!
Pensar, penso sim,
De uma forma estranha,
Talvez; sim.

E descalço-me.

O que me absorve
É o contacto da pele
Com a frieza cruel, ou não
Das pedras que piso,
Do pó que espalho,
Da chuva que chapinho...
De, de, de,
De tanta coisa.

Penso tanto que
A realidade às vezes me escapa.
Transforma-se à velocidade da luz.
É aí que eu corro,
Contra o vento, bolinando
Todo este corpo,
Sem esforço...
Sem perceber que
Afinal sou veloz.

Pensar descalço,
É alucinar uma certa hora,
É quando me olham de lado
Sem certeza se é a sério
Se é a tal estranheza
Que me sai pela boca
Ou calado,
Pelos olhos,
Ou concentrado,
Pelos dedos.

Pensar é um vício,
Já não penso
O que me faz pensar.
Há alturas certas de o fazer.

Não tenho de pensar,
Que mais tarde,
Vou ter de pensar
Nisto. Ou nisso.
Ou até naquilo...

Leio o que os outros pensam,
Até porque ouvi-los, transtorna.
Os que já estão mortos,
Os poetas,
São os únicos com quem falo
Sem me enfadar com arrogâncias.

São sinceros,
Adoro ficar sentado
A ouvir-me ler a sinceridade.
A sentir as sombras materializar
No meu subconsciente.

Sentir a felicidade, é consciência.

Preciso de pensar.
Penso muito!
Penso tanto!
Não sei se é bom pensar
Mas sei que gosto, porque penso.

Os motivos, a razão, a pessoa,
É a parte variante opcional
Que não me faz pensar tanto.
Não páro aqui,
Apesar de ter de sair,
Porque vou até um qualquer lugar.
Um poiso à beira mar, onde possa
Pensar em tudo o que penso,

Descalço...



16SETEMBRO2016

sábado, 10 de setembro de 2016

UM MOMENTO SÓ




Podias passar por mim,
Sentado talvez,
Num banco de qualquer jardim
Enquanto leio este livro.
Daria por ti, sem te ver.
Deixas um perfume,
Um sopro de vento,
Que passa dentro de mim.
Só Vénus me sabe dizer,
A fertilidade da tua beleza,
Que me aquece o sangue.
Só Eros me sabe dizer,
O quanto te desejo,
Por querer amar-te;
Com sexo.
É assim que,
Ao virar desta página,
Absorvo o teu corpo,
Inalo o teu cheiro
Fechando os olhos
Saboreando-te.
Amo-te!
Neste momento de memória.



10SETEMBRO2016


sexta-feira, 9 de setembro de 2016

PARAFERNÁLEA AUTISTA






Tenho esta varanda,
(espaço extra do betão)
Para imaginar.
É de noite que se sente,
É de noite que se criam as cores
De um dia passado sem atenções.
Rewind humano.
No escuro confortável,
Os neons de outras paredes.
Publicidade que não dorme.
Até o som da rua oiço,
Neste silêncio quase total.
Som do dia,
Multidão confrangedora,
Hipócrita e egoísta.
Empurrões, gritos
Telemóveis, carros,
Autocarros, motos.
Parafernália autista,
Demasiado tudo!
Tanto o que aqui vai,
Dentro de mim,
Que eu dê por isso.
E o resto?
É esse resto que quero!
Um dia, é isso...
É isso tudo, o que me assusta.


08SETEMBRO2016

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

SERENATA PARA CORDAS






Serenata !
Altos
Baixos,
Pináculos de sons,
Chuva de cordas
Obués,
Percussão,
Silvos de flautas
Agudos
Agudíssimos,
A calma,
Arpas,
Arcos de crinas,
Violinos,
Cellos,
Violoncellos.
Louco
EU
Altíssimo
Absorção
Intensidades
Paixão
Descompressão
Anormalidades.
Aiiiiiiiii,
Tudo junto.
Alto,
Altíssimo!
Crescendos.
Finale.
A Pausa...
BRAVO


08SETEMBRO


PINTAR-ME





Fechado
Guardado
Revoltado
Intenso
Agreste
Cruel
Sensível
Sentimento
Amor
Ternura
Pastel
Óleo
Pigmentos
Loucura
Esponjas
Espátula
Pincéis
Tela
EU.


08SETEMBRO2016


quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O CÉU E O MAR




O crepúsculo é extraordinário!
Celebrar a natureza como a admiro,
É um lugar marcado no resto do Tempo.
Há um promontório, escarpa, o que for
Onde me sinto alto, como os Homens são!
Alto de grandeza assumida, por vezes...
O grasnar das aves, é o exemplo divino;
O acordar numa vida, cheia de vidas diferentes.
O vento. Ó o vento que esvoaça o cabelo
E arrefece a face, uma mistura energética
Entre calor e frio que a pele ama.
O Sol não descansa. Nem a Alma!
Temos essa ilusão infantil das estórias
De uns avós que se deram ao trabalho
De acarinhar e encaminhar o futuro.
O azul, é a mistura gasosa e líquida
Lá bem ao fundo até onde os olhos vêm.
O Céu e o MAr.  E Eu e, os Eus.
Somatório fino e arrumado de deslumbre.
Nada como a minha mente disturbada.
É o momento! É este momento.
É como estar onde escrevo,
É este o valor de me transportar acordado.


07SETEMBRO2016

QUATRO CANTOS





Quatro cantos,
Por cada pedra de calçada.
Quatro cantos,
Onde a semente germina.
Quatro cantos,
De uma música erudita.
Quatro cantos,
Do quarto onde me escondia.
Quatro cantos,
À volta do Mundo.
Quatro cantos,
Que tem esta folha.
Quatro cantos,
Tem a tua doçura.
Quatro cantos,
De um corpo que adoro.
Quatro cantos,
Têm os membros imóveis.
Quatro cantos,
Tem a fé de uma vida feliz.
Quatro cantos,
Dos dez cantos dos "Lusíadas".
Quatro cantos,
Preparando o meu Quinto Império!
Quatro cantos,
Formam a minha morada.


07SETEMBRO2016

terça-feira, 6 de setembro de 2016

VICTORIANA






Este cheiro lamacento
É pouco dignificante.
Incómodo e nojento,
Como se tivesse regredido
Até ao Século XVIII.
Junta-se o breu e a névoa.
Cinzas claros e escuros,
Com sons de cascos
Escorregando no basalto
Que acompanha as caleches.
Vejo luzes fuscas
Que o nevoeiro eleva
A um calafrio fantasmagórico,
Mas agradável de ver.
O eco mole e lento do rio,
É onde se escondem
Os salafrários fugidos à grei
Por leis que não os reconhecem.
Assobios de sinetas de polícia,
Sons de correrias perseguidas
Nos cantos mais nojentos
De uma cidade velha.
Portas que rangem de peso,
Na madeira grossa de séculos,
Cuspindo os bêbados da noite.
Já é hora de recomeçar o dia.
Quem iluminou o gás comum,
Encarrega-se de o apagar.
Porra de vida ritualizada
A rituais ignóbeis e vazios.
As cartolas recomeçam o dia,
Nos passeios húmidos da noite,
Levantando o restolho da névoa
Com capas opulentas de virtuosidade,
E a correria desajeitada das polainas.
Um violino vibra nas crinas
De um arco cansado dos anos.
Cheira a cachimbos de pedra,
Mistura de tabacos asquerosos
E chinesices indesejáveis.
É engraçado, como vejo eu isto,
Encostado a um Thames
Que me conta as suas histórias.
Basta sentar-me neste lado
No Embankment dos destemidos.
É bom sonhar acordado!


06SETEMBRO2016


O VERBO





Tens o corpo inundado de um verbo.
Uma fórmula quase inadiável,
Que aprendo quando te beijo.
É fácil memorizar o diálogo,
O presente, o passado e o futuro.
Serás quase mais que perfeita,
Pela simplicidade e suavidade
Quando beijas com as palavras.
Tão certas! Tão delicadas!
Sei que é inadiável o futuro,
Já falei nele, no passado.
O verbo és tu, quem eu te leio,
Virando-te página por página,
Com a ponta dos dedos.
O som, é prolongado.
É o arregalar dos olhos,
Que me arrepia dentro de ti.
És o desejo sem o desejo,
Que eu desejo sem ter o corpo;
Porque o corpo é vontade,
É falta e felicidade,
É amor e saudade,
É quase tudo...
Mesmo aqui, de tão longe!
Os dedos interligados, apertam-se
Com a força brutal do momento.
E abraço-te com a intensidade
De um rio bravo que te inunda,
Incontrolável nas tuas margens,
Pelo desejo mais puro que existe.
O verbo é Amar.



06SETEMBRO2016

sábado, 3 de setembro de 2016

REMENDAR MUROS




Hoje era o dia certo para um passeio.
Se é que existem dias certos para isso.
Talvez o local.
Campo, paisagem simples, agreste.
Uma sensação de veludo,
revestida a um cru quase doentio.
De bom!
Uma estrada de pó,
solto em redemoinhos pequenos,
que o vento fraco conseguiu sem saber.
O prado, é tudo o que me cerca,
separado por pequenos muros de pedras soltas,
sobrepostas umas às outras,
em equilíbrio preciso.
Uma preciosidade de remotos milénios.
A simplicidade funcional.
Tem zonas, em que os muros estão remendados.
Como a Alma, como as Almas,
com pedaços evidentes e deslocados, mas funcionais.
É nesta zona que sem me aperceber me concentro,
e sem dar por isso também,
começo a ver formas.
Faces, pessoas tortas, tudo meio surrealista.
Uma reticência de probabilidades a explorar.
Assim passa às vezes o tempo.
A pensar nos remendos da vida,
que o abstrato se encarregou de surrealizar,
auto suficiente e esfomeada de coisas diferentes.
Há que ter coragem.
Há que remendar os muros!



03SETEMBRO2016

SONHO BRANCO




Ali ao canto,
Há um espaço extra.
Uma cama, com rodas,
Branca.
Tudo é branco.
O chão, as paredes,
O corpo da cama,
Os lençóis, almofadas.
O biombo,
As enfermeiras,
Até tu, Mãe.
Deitada,
A olhar o tecto,
Também branco,
Com os olhos brancos,
A pele pálida,
A mente quase vazia.

Sonhei-te hoje!
Revesti-me da mãe,
Que me escapa aos poucos.
É a desistência que sinto,
E que não posso contrariar.
Se eu te pudesse abraçar...
Será que o Amor acaba assim?
Deixa-me chorar por ti,
Vejo que já não choras.
O meu Amor não acaba aqui!


03SETEMBRO2016