domingo, 2 de dezembro de 2012

CALCETEIRO DE LISBOA



Nao sei porque, hoje deu-me para olhar o chao.
Comecei a contar, por serem tantas as pedras,
mas desisti, ao reparar no conjunto da calcada.
Aninhei os passos, com delicadeza por ser mais um.
Mais um que pisa sem pensar. Perdi-lhes a conta,
passei a admirar a harmonia com que sao feitas.
Nao sao so pedras... apenas uma calcada portuguesa.
Os desenhos estranhos simetricos, o preto e o branco,
fazem-me pensar, em quem pensa nos nossos passos.
Alguem algures no tempo se lembrou, em enaltecer,
embutir gloria, em cada passo vulgar, em cada passeio.
Afinal, calcarios e basaltos, nao sao so pedras inertes,
Sao pequenas obras de arte, que martelos nao torturam,
afinal, dao beleza a arestas presas na areia, com amor.
Uma destreza, que anima andar na minha  Lisboa.
Um passeio que cada passo tem um mimo calcetado.
De pedras se faz poesia, va-se la imaginar... pedras.
Mas sao obras de arte popular, que o povo possui
que nao vende nem compra, mas consome num sorriso.
Quero falar Lisboa, e aparecem-me pedras de calcada.
Nao tenho vergonha destas pedras, tao pouco desta cidade.
Sao apenas pedras, eu sei... nem sei porque falo delas.
Mas de tao longe, apetece o que nao tenho, a saudade
de coisas simples por onde andei, sem ter avaliado.
Sao os sons, os cheiros, os sorrisos, a luz e as pedras.
Sao os bairros, as fachadas, os carris estridentes.
Hoje lembro-me da simplicidade das pedras.
Como o valor da humildade... visionarios ajoelhados,
calceteiros artistas, animam seculos de passos vulgares,
em telas que martelam a preto e branco. Lisboa,
mais um pouco de saudade, e a arte que me faz falta.



02 DEZEMBRO 2102
 

Sem comentários:

Enviar um comentário