Um passeio ao fim da tarde...
O mar de gentes, diferentes.
O eco de passos tresmalhados,
os sons e cheiros de rua... as luzes.
Misturo o cintilar de estrelas,
as luzes previsiveis de Natal.
Uma loja, tantas lojas e o frio.
Os bafos que falam em fumo
que se esvai a cada palavra.
Os olhares sorridentes do gasto.
Um vulto diferente estagnado,
onde a correria doida dos outros
se torna secundaria... vejo-te,
impavido e sereno no teu brilho.
Parado e indiferente, ao frio.
Uma felicidade em farrapos,
no brilhar de pequenos olhos.
Um olhar feliz, cheio de nada.
O calor da montra iluminada,
os pes trocados encavalitados,
as maos espalmadas no vidro,
agarrando desejos do outro lado.
O tilintar de sons imaginados,
o sonho de viver por dentro,
segurar apenas por um momento,
aquele brinquedo... apenas um.
A testa quente de febre,
talvez da ilusao que pensa,
encostada ao vidro da montra,
um momento de vida, te torna feliz.
Teimosa escorre uma lagrima lenta.
Nao entendo essa tua lagrima,
talvez triste, talvez feliz ou de frio.
Os vultos teimam em violar esta visao,
em passadas sem respeito por nos.
Eu que te vejo, tu que nao ves ninguem,
e a minha alma que chora na tua pobreza.
Os vultos sao negros, ao ver-te brilhar
sozinho, concentrado no teu mundo.
O mundo dos outros fica ali,
do outro lado do vidro, onde a fome
nao ecoa no estomago vazio,
onde a pele nao queima no frio,
e o meu mundo, que e o teu.
O aperto do frio, supera a tua utopia.
Esta na hora de virar as costas.
Esquecer a montra que fica... um sorriso.
Enfrentar os vultos sem face, e pedir.
Pedir um naco de pao, um agasalho,
uma simples moeda, e ter pena...
Ter pena das expressoes de desdem,
dos vultos que se queixam de tudo.
Chorar sozinho ao ver-te, indiferente,
que te queixas de nada, um desejo meu.
Na vergonha destas palavras ocas...
Feliz Natal, menino de rua!
18 DEZEMBRO 2012
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