terça-feira, 18 de dezembro de 2012

AZENHA VELHA



Apenas quero sentir o som do acude...
Aquela azenha velha, abandonada
pelos anos e desprezo imposto pelo rio.
Estrutura de granito, ruina cinzenta
como a bruma da manha, rente ao silencio
de anos inertes, acariciada por acudes,
que as pequenas quedas d'agua animam.
Um quadro de fazer inveja, frio como cristal.
Um rio puro, livre, imparavel e transparente
de tal forma, que a minha alma para.
O som que cria a espuma branca, brilha
enquanto inalo o verde vasto precioso,
que nao morre... que nunca morre.
So morre a azenha velha, abandonada.
Apenas o eco dos acudes me acordam.
Um cheiro imune as coisas falsas,
uma visao que me cola ao chao fraco,
revolto de areias sorridentes, movidas
a cada golfada cristalina que nao para.
Submersos os limos e seixos redondos,
que apenas rolam livres na corrente,
cheios de vida tao inerte, que eu invejo.
Sentir o eco do ribeiro, transparente
como o meu corpo cansado da paixao
ardente no amor que fiz, como o frio doce
na agua deste regato. O abraco longo,
que nos adormece os corpos, incognitos
por onde o tempo passa sem resistencia,
felizes como os acudes desta azenha.
Um verde vivo, arrojado de vida diferente.
As arvores olham-me vaidosas, por serem altas,
tornam-me humilde, admirado pelos sentidos
que tanta beleza junta me ensina a simplicidade,
reanimando o meu ego, ja ha tanto adormecido.
Talvez os peixes sejam felizes, sem pensar...
toda esta fronteira do meu corpo, toca o ar
gratuito, em pequenos pingos salpicando,
toda esta humilde vida que se me entrega.
Sem esforco, tudo me faz pensar em coisas simples.
Uma azenha velha, que ja nao roda, cansada,
mas que nao deixou de ficar a gozar o paraiso.
E eu, que cobardemente feliz o abandono... no entanto,
guardo esta memoria. Ha momentos que nao morrem,
que me fazem viver a vida, com uma simples lembranca.
Admiro esta azenha assim abandonada, que resiste
saboreando a misteriosa bruma cinzenta, tal como o granito
nas paredes que a sustentam, animada pela agua cristalina
que afaga a revolta dos acudes, na pureza da vida,
acariciando-a de tal forma, que nao cai... e fica.

18 DEZEMBRO 2012

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