Conheço todas as pedras desta calçada.
Não tenho coragem para te falar,
sempre que te procuro nesta ruela.
Só para te ver. Só para te ouvir.
Formosa te debruças da velha janela,
tão bela a pobreza, que me faz viver.
O esganar da varina, o pregão do jornaleiro,
são os tons que afinam os sons deste bairro.
Só os encantos raiados do sol,
aquecem os brilhos nas telhas de barro,
e o eco das socas na tua correria,
realçam esse sorriso que a mim me ofusca,
pensamentos do abraço que sentireis um dia.
Um martírio estranho que adoro sentir.
Mirando essa janela alta, feia de velha,
sózinha me atrais com tua destreza,
mesmo que chuva escorra na telha,
esse sorriso será sempre luz e beleza.
Vives no topo da mais alta colina,
nesta viela tão estreita e tao fina,
gasta de séculos e paredes caiadas.
Alegram a alvora agudos gritos de varinas,
pregões da manhã, que dobram esquinas,
neste bairro e aldeia que adoça a cidade.
Mais bela ainda se torna a idade.
Bairro Alto sentindo os ventos,
como vela aberta, gozando a bolina,
deslizas na encosta até às águas do Tejo.
Mas não me ligas, nessa pobre janela,
ignoras a minha incognita paixao.
Não tenho coragem de te falar, tão bela
de trás para a frente nesta ruela,
sigo sizudo em tristeza enfadonha,
sem desistir que um dia o teu beijo,
galgue a calcada como quem sonha,
e me toques os lábios como um anjo.
E um dia... quando ja tiver esquecido,
olharás para mim, e no teu belo peito,
sentirás por fim o meu amor perdido,
com a bilha de água de regaço a teu jeito.
Cruzaremos olhares moldados de barro,
ficarás para sempre como quem sonha,
o amor que perdi na menina do bairro.
15 NOVEMBRO 2012
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