Se sentisses hoje o que me apetece, abracavas-me
sentindo-me desfalecer aos poucos, em movimentos certos
como revolta calma sem resistencia a uma tempestade previsivel.
Sentir a areia aspera, entregues a um so prazer.
Na queda lenta dos nossos corpos, que se entrelacam misturados
nas dunas que alisamos... praia deserta onde o silencio, ecoa uma melodia...
Ouvir-te gemer ao ritmo das ondas, onde a espuma nos confunde,
onde o frio enriquece o sabor salgado da tua pele, que se descola
da minha, em intervalos destemidos como a cadencia de mares vivas.
O brilho languido e solene do mar, reflete este luar intenso prateado,
onde a cor se transforma, em lava que petrifica, ao tocar o calor dos corpos.
A escultura nasce, imberbe e intensa ao toque de cada dedo,
que sem segredo nem pudor, se move desinibida nesta praia deserta.
Deito-me ao longo da tua silhueta, que me atica o fogo brando,
onde a cada toque pachos de nevoa, silvam como vapor de agua fervente.
Quero provar o mar, nas ondas que nao param de saltar,
quero beber da tua espuma que me abraca, que me queima a boca
como mel quente, tao quente que nao sinto o frio do tempo que passa.
Talvez mais tarde ao vazar a mare, a lava derreta novamente
e nos misture na areia que ja lisa, pelo rebentar cadenciado das ondas
criamos neste mar tao grande e solitario, onde o reflexo do luar
cintilante a tona d'agua, como o brilho dos teus olhos, satisfeitos
e cansados, rogando pela espuma suave que ja nao volta.
Mas ja a saudade desta praia deserta, depressa deixa um vazio...
Tao imenso, como este oceano desencantado, pela vastidao das ondas
que ja nao nos tocam, que ja nao nos assaltam, onde o eco ja nao geme.
Agora, as bocas perderam o fulgor desinibido, os corpos descolaram,
mas mesmo partindo, os passos lentos que demos ao partir,
deixaram para sempre feliz esta praia deserta.
26 OUTUBRO 2012
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