Apetece sentar em frente a um espelho.
Produzir uma luz ambiente de sonho.
Tons quentes, reluzentes. E eu.
Reflexo de áurea amarelecida pelo tempo.
Uma biblioteca, globo terrestre e gárgulas.
Objectos de simbologia dúbia, atraentes.
Um cadeirão de época, quase um trono.
Um espelho, onde a prata se esvai,
estilhaçado, atraente e abstrato.
O veludo verde onde me sento, macio,
os punhos agarrados ao descanso dos braços,
cinzelados em garras de leao douradas.
Uma caveira de cristal, que me fita a alma.
Um meu outro eu, algo distorcido,
peremptório e pleno da minha atitude.
Completamente nu. A extravagância
do rei sentado. Um discurso imaginado.
A anatomia do abstrato, uma peça sem palco.
Sem audiência que não eu proprio, e receio.
O mais cruel critico e desconfortante
personagem, olha-me de frente, apático.
Não há palavra que mova a feição imóvel.
Reflexos cruéis, visoes surreais. Normais.
Gestos e alegorias, palavreado obsceno,
um acordar de mim proprio. Uma lágrima.
A anatomia deste abstrato, pertence-me.
Por inteiro e por direito.
Envergonho-me do que não digo.
O pudor de uma coragem envergonhada.
Descarrego no mundo a reflexão da minha imagem.
Mexo o direito com o verso. O desatino.
Comunicar em laivos de psicose apurada,
loucuras que absorvo, que invento e sonho,
de punhos fechados e olhos esbugalhados.
Nao compreendo o óbvio. Estou invertido.
Como á estranha afinal, a imagem.
Um local de sonho, a cor certa do tempo.
Doi-me este momento invertido da alma.
A anatomia do abstrato absorve-me.
Afinal sou eu o espelho. Critico
da ambiguidade da vida. De pensar.
Sou eu este inverso?
Sou eu o meu reflexo?
Apenas um espelho estilhaçado.
14 SETEMBRO 2012
Lindo! Gostei de ler!
ResponderEliminarMuito bom de ler!
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