sábado, 22 de novembro de 2014

SER SOMBRA




Desconfio da noite.
As sombras.
Tenho uma atracção
que não entendo, pelas sombras.
De dia, menos sinistras,
o moldar do corpo é diferente.
A sombra é o desabafo do corpo.
É a forma de fugir à regra,
correr à frente de nós,
retorcer o que os anos criaram,
com a postura do quase perfeito.
É a manifestação abstrata
que mexe comigo. Adoro o gozo.
Este gozo recriado em movimento.
À noite, tornam-se pardas,
felinas e por alguma razão
incontroláveis e obscuras.
Fica um mistério no contraste,
os ecos, as ruas, a luz...
Só falo da fuga do corpo,
pelo próprio corpo em si.
Às vezes, ser sombra,
devia ser a única existência.

22NOVEMBRO2014

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