sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

É O TEMPO O CULPADO





Eis a contagem descendente.
O fim seguido de um início.
É o tempo a contar, os grãos de areia
transformados em matemáticas e
mecanismos digitais, analógicos
o que for preciso para que não pare.
É mais um segundo que se torna fino
de tão rápido no encalço de um minuto.
Mas o minuto é crescente, desafiante
não pára até à hora que o segue.
Nasce e cresce a ambição do tempo
porque as horas passam rápidas
até que encham de força um dia.
E nada pára neste frenesim persistente
previsível e impossível de parar.
Por isso se juntam os dias,
os bons e os maus, cheios de horas
numa imensidão de segundos
até que o mês toma forma.
Assim se alimenta a vida,
o fim do mês, as contas, as voltas
e camuflagens associadas ao tempo.
O que é incrível, é que ele não liga
passa porque tem de passar,
não pára porque não pode parar,
transforma e destrói tudo na passagem.
Juntando os meses, lá surgem os anos
que nos selam a forma e as rugas
a maturidade e a maturação.
É um processo que imita a natureza,
afinal, se ainda não esqueceram,
fazemos parte dela. Não a criámos
mas somos peritos em destruí-la.
É o tempo o culpado de tudo.
São estes somatórios fraccionários
medidos à maneira de cada cultura
que fazem que o mundo perca o brilho.
Nós, os inteligentes, inventamos
frases bonitas, novas modas psico
e parapsicológicas de zenificar a vida.
Criamos brilho onde não existe,
Pintamos cores onde as paletas estão vazias
pincelamos telas, onde só o "frame" existe.
Somos isto tudo e, muito melhores
que esse tempo, afinal de tudo.
Temos a capacidade de correr
dentro de um cérebro contra o tal
tique taque imparável. Nadamos
contra a corrente do envelhecimento,
fingindo que cada vez somos mais novos.
É a moda. É a forma triste de mostrar
Que afinal não temos mais nada que sorrisos.
E ficamos em grupos, num cinismo
hipócrita de amizades faz de conta,
tudo porque só assim a vida faz sentido,
ou ainda mais, até só porque sim.
Acho graça a tudo isto, porque não sabem.
Não se apercebem que somos mais que um,
que em cada corpo há gente diferente.
A diferença é receber o tempo,
sem medos nem fingimentos patéticos
de uma idade que já não temos.
Nem por fora, nem por dentro
não somos mais novos por partes.
Envelhecemos no mesmo invólucro
no mesmo pacote com todo
o interior correspondente à imagem.
É isto o tempo. Por isso existimos
porque somos feitos de tempo
porque nascemos do tempo
e é do tempo que vamos acabar.
É assim que acaba mais um ano,
É assim que começa outro,
com outro nome, por acaso numérico,
podendo ser animal, cósmico,
o que vocês quiserem. E vivemos,
vivemos assim, até que o tempo queira.



01JANEIRO2016


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