Talvez me sinta chegar a este hotel.
Talvez ser homónimo de mim próprio, me cure.
Assistir ao inexplicável e impulsivo,
embarcar num navio com asas,
pode ser o inexorável. O partir e o voltar.
Ricardo Reis assim o fez, inseguro
de uma certeza magnética. As odes.
Um médico poeta sem sombra, frágil
tão frágil como as falas com Pessoa.
Se chove agora, se faz frio agora,
perguntem-lhe se nessa vida inexistente,
a chuva e o frio não permanecem!
Um espírito que nos persegue.
Eu, um simples mortal, eu que os leio,
que sigo a admirável leveza do ser,
e a preponderância do imaginário.
Um único imaginário. Um génio separado
do génio que o separa, este que os escreve.
Não eu, claro. Mas Saramago, outro que tanto.
A paixão arrepia o dom da genialidade.
Ao lê-los em pequenos, finitos pedaços
onde a felicidade e espanto me perseguem,
vou tentando decifrá-los, mesmo que desconexos.
Como será ser génio sem que se saiba?
Como será saber ser génio, sem auto elogio?
Humildemente. A simplicidade das palavras.
Visitar o mestre morto, um diálogo defundo,
sem emoção da surpresa que não surpreende.
Fernando, Ricardo e Saramago, trilogia divína.
Um Hotel, repousa a evasão das almas,
a invasão dos corpos, o fingimento servil.
Lisboa velha, com cheiros imortais e infinitos,
uma viagem pela cadência intensa do génio.
Preciso de um hotel como este, esperar...
Talvez apareça um mestre que não conheço.
Talvez toque o clarim do gentil gigante,
escreva uma ode onde me entenda, e respire.
Respire o tempo e o oxigénio das palavras.
(poesia dedicada a Saramago e o seu livro
"O Ano Da Morte de Ricardo Reis")
07 JANEIRO 2013
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