quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

ACABEI DE CHEGAR



Não sei se sabes, acabei de chegar,
Empurrado por uma força indiscreta.
Só agora dei por mim aqui, à espera;
Não há filas nem ordem de chegada.
Apenas ficar. Pensar se quero ficar e,
Fico... pelo menos enquanto penso.
Talvez seja melhor não o fazer, só ficar.
Pensar muito, pode tirar-me o sonho.
Afinal, acabei de chegar e, fico.
Talvez as interpretações, as personagens,
sejam o meu enredo. Discreto e simples.
Não sou bom actor, mas posso escrever.
Posso imaginar uma peça, um palco
ou até mesmo coreografar e produzir.
Um dueto?! Um monólogo será melhor.
Basta um fundo negro, como um cubo,
uma moldura vazia, uma cadeira velha.
Melhor pensando, uma mesa e um tinteiro.
Umas folhas, para que possa falar,
a nudez da simplicidade, no fundo.
Não será best-seller, poucos me entendem.
Mas eu, eu percebo o monólogo.
Escrevo o que está colado à alma.
Só assim consigo ser actor. A verdade.
Mas tudo isto não existe, está só nesta cabeça.
Além do mais, acabei de chegar.
Entretenho o tempo com pensamentos.
Aquele que chegar primeiro, ou depois de mim.
Talvez um "deja vu" me arrepie,
o inexplicável acaba por acontecer.
Acabei de chegar, afinal onde já tinha chegado.
Tudo isto já o vi... nesta hora, este lugar,
mesmo sabendo que acabei de chegar.
Afinal escrevi o que digo de certeza.
A cadeira está aqui, onde me sento.
A moldura viva de morta, existe mas não a vejo.
O cubo negro, pintei-o antes de chegar.
Falta o palco e a assistência,
esses e aqueles que não preciso e não vi,
que não imaginei. Puro esquecimento. Acho?!
Afinal, passa por ser um sonho, surreal
não alarmista, mas suficiente para me atrair.
Nunca sei o que se passa comigo. Acordo,
estremunhado e desfocado como sempre.
Mas não tem mal, acho eu que não.
Não sei se sabes, acabei de chegar,
e continuo a sonhar, acordado.

02 JANEIRO 2013

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