quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A TABERNA



Abafado o cheiro de uma vida pobre.
Encoberto o vício na tentação do rico.
Fala o vinho, tal pagem animado,
onde o rei é tinto e, a rainha é branco.
Chega cheio, com um traço ao meio.
Um copo-de-três, ou dois, ou três.
O guinchar da torneira no pipo,
o vidro potente do fundo do copo.
Lupa que distrai e afunila a vida.
Perde-se a frustração dos dias,
com a coragem do álcool barato.
Criadagem de corajosos tementes.
O dominó que roça o mármore da mesa,
belgadas contadas em papel de inteligência .
A bandeja de pega alta e, mais uns copos,
que são de três, e o belga que é de cinco.
Que saia a patanisca e o escabeche,
para enrijar o estômago que amolece.
Tiras de torresmo seco ou uma cebolada,
mais uns palavrões acompanham a jornada.
O casqueiro cortado, já rijo de casca,
endurece na vitrine, ao beijo da mosca.
Palmadas na mesa rija, de madeira tesa,
vasas de sueca emparceirada e batida,
o resmungo do galego pela paga certa,
prefere o tostão a uma casa deserta.
Um perfume vinicola que esfrega o ar,
os bafos já quentes pelo vinho que é mar,
os amigos do copo que já se diluem,
bebedeiras já fartas que por aqui afluem.
A tasca, um ponto de encontro, pouco fino
e perfeito, para mais uma fuga a preceito.
Chamar cabrão ao patrão que não os ouve,
chulo, que paga o pouco do muito que bebem.
Para que fique o sossego, no olho já baço,
acaba-se o dia com mais um bagaço.
Esquecer a vida, por mais um dia toldado,
sentir-se vazio como peixe escamado,
o vapor do vinho, nos adormeça na cama.
Amanhã, barris renovados, um copo vazio.
Mais um dia perdido esquecido na vida.

09 JANEIRO 2013

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