sexta-feira, 30 de novembro de 2012

AMOR



Amor não tem nada, que se lhe diga.
É sentir a outra margem escondida e, viva
pela tempestade, do oceano que nos separa.
Amor é cheirar-te ao longe, sem ter dúvida.
É encontrar-te no meio de tudo.
É como sentir um sopro, por cada bater de asas,
Mesmo pequenas que sejam, mas que me acordam,
Piando o pássaro, no parapeito da janela.
Percebo seres tu, quem não pode voar.
Um piar que me acorda de tão simples e leve,
Como folhas de Outono, vestidas com cores alegres,
Quentes, que me fazem parar, pensativo,
Enquanto vejo o bailado, enquanto caem.
Amor, é o silêncio dos olhos, que não se calam.
Sentir todos os poros que tenho,
Que se conhecem, um por um.
Um impulso apertado,  lábios colados. Um abraço.
Abraço forte, de veludo, onde a pele escorre
O suor da entrega, e as lágrimas do prazer.
É o teu gemido, doce, que me agarra a alma,
Que me aperta esta vontade, de não dizer nada.
Amor não me traz a tristeza,  já a provei acre,
mesmo partindo. O murmúrio do teu olhar,
Tem uma linguagem própria e tão intensa...
Capaz de iluminar, os meus passos incertos,
Aqueles que me trazem de volta.
Mas o cheiro fica...
Amor ,não tem nada que se lhe diga.
Amor faz-se...
Contigo!

30 NOVEMBRO 2012

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

VOLTAR A SER CRIANCA



Nao sinto nostalgia, nao me pesa nos ombros.
Sinto apenas um sabor, acre e doce de saudade.
Considero o passar dos anos como um dom,
que podendo, aproveito e sustento aprendizagem.
Adulta... matura, mas por vezes um pouco escura.
So assim sinto esta saudade de ser crianca.
Porque vejo o vibrar, numa energia interminavel.
Falta-me por vezes essa energia no corpo.
Nao me queixo, nao pensem... apenas relembro.
Tenho outras energias, outros movimentos,
talvez mesmo mais discretos. A energia difere...
Uma alma que sente, uma mente que pense.
A felicidade e alegria, nao me fazem saltar ate esgotar.
Penso... tenho outra energia, invisivel quanto baste.
Alegre ou ate feliz, mas por vezes ate frustrante.
Porque penso... aqui sim seria bom, voltar a ser crianca.
Nao fujo a nada, admito tanto erro e falta de senso.
Mas aprendo... So assim aprendo e cresco, porque penso.
Tudo se complementa, obrigatoriamente entendo a vida.
Sentado num espaco de relva rapada de fresca,
onde o cheiro, adoca o sentido das coisas vivas,
incoerente, mas no renovar das mesmas, observo...
Observo a correria da felicidade, a gritaria inocente
da pequenada, amizades simples e sinceras,
sem espaco para falsidades conscientes. Apenas criancas...
Neste mesmo espaco, onde me sinto parar no tempo,
assim penso, observo e sorrio, com um simples desejo.
Nao perder o que sei, mas voltar a ser crianca.

29 NOVEMBRO 2012
 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

SILENCIO



Estou de cabeca vazia.
Pensar, falar, escrever... nada.
Apetece entregar-me ao silencio.
Deixa-lo falar por mim, ouvi-lo.
As palavras sao alimento da memoria,
mesmo que poucas, mesmo ingenuas.
Oico o vento que empurra a janela.
A comunicacao dos elementos.
Nao falam comigo para que os oica.
Apenas nos falamos tanto, ate demais.
Conseguir a entrega ao silencio,
vale tanto mais, que mil palavras.
Falar demais, nao me diz nada.
Prefiro ler o que se diz,
prefiro pensar no que escrevo,
prefiro a maravilha do silencio...
Estou de cabeca vazia.
Tenho um vazio enorme de conhecimento.
Preencher este espaco, vai ser impossivel.
Por mais que tente, por mais que leia e pense,
nunca saberei o inicio e o fim.
Silencio, a melhor forma dos sons.
Quando se calam, oico... e o eco fica.
No silencio, volto a ouvir tudo de novo.
No silencio, revejo as imagens.
No silencio, gozo o brilho das sinfonias,
embalo-me pela harmonia dos sons.
Apesar de sentir a cabeca vazia,
sinto-a cheia de tanta memoria.
O silencio, torna tudo tao diferente...
Calem-se todos por momentos.
Deixem falar o silencio.

19 NOVEMBRO 2012

 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

MENINA DO BAIRRO



Conheço todas as pedras desta calçada.
Não tenho coragem para te falar,
sempre que te procuro nesta ruela.
Só para te ver. Só para te ouvir.
Formosa te debruças da velha janela,
tão bela a pobreza, que me faz viver.
O esganar da varina, o pregão do jornaleiro,
são os tons que afinam os sons deste bairro.
Só os encantos raiados do sol,
aquecem os brilhos nas telhas de barro,
e o eco das socas na tua correria,
realçam esse sorriso que a mim me ofusca,
pensamentos do abraço que sentireis um dia.
Um martírio estranho que adoro sentir.
Mirando essa janela alta, feia de velha,
sózinha me atrais com tua destreza,
mesmo que chuva escorra na telha,
esse sorriso será sempre luz e beleza.
Vives no topo da mais alta colina,
nesta viela tão estreita e tao fina,
gasta de séculos e paredes caiadas.
Alegram a alvora agudos gritos de varinas,
pregões da manhã, que dobram esquinas,
neste bairro e aldeia que adoça a cidade.
Mais bela ainda se torna a idade.
Bairro Alto sentindo os ventos,
como vela aberta, gozando a bolina,
deslizas na encosta até às águas do Tejo.
Mas não me ligas, nessa pobre janela,
ignoras a minha incognita  paixao.
Não tenho coragem de te falar, tão bela
de trás para a frente nesta ruela,
sigo sizudo em tristeza enfadonha,
sem desistir que um dia o teu beijo,
galgue a calcada como quem sonha,
e me toques os lábios como um anjo.
E um dia... quando ja tiver esquecido,
olharás para mim, e no teu belo peito,
sentirás por fim o meu amor perdido,
com a bilha de água de regaço a teu jeito.
Cruzaremos olhares moldados de barro,
ficarás para sempre como quem sonha,
o amor que perdi na menina do bairro.


15 NOVEMBRO 2012

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

SE HOUVER LUA



Quero ouvir o adormecer dos movimentos.
Sentir o cansaço de repetições previsíveis,
as intermináveis noites, iluminadas de sombras.
Tão previsíveis, como eu gostava de o não ser.

Toda esta antecipação faz-me adivinhar,
como funciona o meu engano, o fabrico de nuances
que a harmonia me oferece. A frieza sombria.
Tudo me faz optar obrigatoriamente pelo belo.

Pela indispensável fúria dos elementos.

Pelo bailado dos corpos.

Atrai-me imaginar o outro lado do horizonte,
Só assim a criatividade como a conheço,
valoriza indisfarçavelmente a minha satisfação.
Só assim admiro a beleza.

E sinto este lado dos antípodas.

E cheiro o luar.

Tenho este fascínio pela noite.
Um mistério pouco sombrio,
cheio de sombras, de todas as sombras,
que se misturam ao breu da madrugada.

E camuflado fica esforço algum.

E o movimento em rigidez profunda.
A Beleza de uma estátua.
Sentir a inércia tão segura.

Se houver Lua, tudo o que disse muda de figura.
Se houver Lua, o encanto movimenta as sombras.
O inerte cria vida, as sombras ficam irrequietas
num trote estranho. Girando, se houver Lua.

Se a previsibilidade da vida for como a sombra,
será sempre diferente, todos os dias.

Haverá luar,
se houver Lua.

14 NOVEMBRO 2012

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A MINHA SOMBRA




A imparcialidade espreita sombria, como a noite.
A noite... indomavel tempestade de sombras.
O imparcial, tem o poder da beleza, humilde e distante
de uma estrada, sem final nem desvios, uma recta imensa
galgada, metro por metro, nas cores tao disformes,
os cheiros diversos,  um paladar de diversidade. Apreciar,
sem optar por locais mais faceis, menos entusiastas,
lamacentos ou de luxo pardo, translucido como
a certeza de que o Sol se esconde, sem preocupacoes,
sabendo que volta brilhante, na manha seguinte.
A imparcialidade das sombras, substrai o absurdo
da logica previsivel. Movimentos alongados, ou nao...
estaticos e geneticos, ou nao... o imparcial da sombra.
Irreverente sombra de qualquer movimento, de qualquer
alguem, que aproveita naturalmente a noite sombria,
e o dia das sombras. Inventa desenhos, sempre diferentes
sempre sombrios, com a simplicidade dos obstaculos.
Atrai-me imenso a sombra. A minha, que de nunca para
nunca e igual, sempre maleavel aos movimentos.
A sombra nasce da luz, mesmo que o interior da mente,
perca a luz da felicidade e se agarre a sombras indesejaveis.
A sombra... a minha sombra. Serei sempre eu!

13 NOVEMBRO 2012

domingo, 11 de novembro de 2012

UM CAFE, UM LIVRO E ALGUEM...



A criacao de castas sociais, desafia-me a consciencia.
Observo pessoas incognitas, desde a esquina da rua,
passando a minha frente, sem me verem com a simples
indiferenca do ser humano. O cotidiano actualizado
nas massas de betao armado, onde a maior indiferenca
e a mesma atencao que damos a outros como nos.
Somos tao culpados como os reus. Os reus de rua
incognitos, no olhar objectivo, mas sempre admirado
por uma critica individual, que serve de auto afirmacao.
Repara toda a gente, no pequeno estranho pormenor,
de outra tao pequena atitude, diferente da nossa.
Claro que ha reaccoes antagonicas, critica mais metodica,
acabando de forma inconsciente, classificar como casta
o antagonismo do comportamento social. Cada um,
perde tempo de vida propria, na critica da vida alheia.
Ciume ou admiracao... desdem ou consternacao,
a casta fica subjectivamente nomeada na memoria.
E somos todos contra isso! Contra castas sociais,
que desesperadamente construimos, na vontade sincera
de as eliminar. Severos e humanizados, com a pena
expressa pelo mais fraco, acabamos por enfraquecer
esses mesmos pobres, que mesmo de alma, tenham
a capacidade impensada de ser diferente. Por isso,
me sabe tao bem, este cafe quente, num frio que acentua
a mudanca do ciclo da vida, onde o vapor do meu bafo
gelado, se confunde com o aroma do fumo do cafe quente.
Aqui sinto, sem pensar em nada de significativo,
enquanto leio o livro que me atrai nas sobras do dia,
um sorriso que nao evito, que me torna ironico na
minha propria forma de estar como pessoa. Apenas
a concentracao de momentos, transformam o meu mundo
em capitulos imaginarios que me confundem o real,
que me interrogam a consciencia, e que me atraeem
a duvida de ser tao pequeno na atitude, como todos os outros.
Um cafe, um livro e tempo para olhar, momentos de prazer.
Um prazer que nao tinha antes de me sentar nesta mesa.
A duvida, a critica e a atitude, surgem quando menos se espera,
ao observar alguem indiferente tal como eu serei para outros,
que surge incognito, no dobrar de uma esquina qualquer.
E tao estranho ser humano, quando a inteligencia nos atraicoa.
O cafe e bom, aqueceu-me o corpo, o livro que pouco li
servira de contento mais tarde, ao deixar de pensar nos outros.

11 NOVEMBRO 2012
 

DIAS... QUE FORAM TRISTES




Sei que pensar aquilo que foi ontem,
nao me torna na pessoa mais apetecivel.
O dia de hoje aniversaria a tempestade,
enrolado no meio das ondas, enormes
na mare mais morta que conheci, afoguei-me.
Afoguei-me a olhar para mim... o susto corroeu-me.
Toquei-me incredulo, na quantidade tao enorme
da escuridao que me envolveu... o panico assaltou-me.
Desejei o fim do mundo... de agora e sempre.
Entendi as escarpas gastas, nas derrocadas
que remexem milhares de anos, num segundo.
Descobi em mim, um outro eu... fraco, e como me odiei.
A fraqueza das cicatrizes, fechadas a tanto tempo,
reabriram em doenca diferente, mas presente.
Nao consegui o choro, perdi a alma por dias seguidos.
Oco de tudo e de nada, vazio como um balao.
Apenas ar... apenas respirar afogado.
Os deuses e crencas, perderam-se sem fe em nada.
Em absolutamente nada... apenas dor profunda.
Longa e sadica por cada visao da minha sombra.
Fiquei quedo, absorvido em medo sem o ter.
Descrutinar os momentos e obra do diabo.
Relembrar os tormentos e viver o passado.
Na melancolia do poema, sai o desabafo.
Sempre e so assim... sempre e so assim eu penso.
Amo porem a vida, como que por encanto.
Amo cada vez mais o final que comecou aqui.
Nada se perde na escrita, onde so assim me encontro.
Sozinho... feliz por estar sozinho, sempre serei
por mais companhia que tenha, feliz por me sentir so.

11 NOVEMBRO 2012

sábado, 10 de novembro de 2012

CEREBRO VAZIO




O cerebro vazio, precisa de alimento.
Um passeio por uma qualquer rua,
cheia de uma mar de gente, avivando
a cada carga de ombro que faz olhar
o desconhecido. A maquina aquece,
mesmo ao pensar devagar, no desdem
do ombro que me empurrou, indiferente.
Sigo entre a calcada e os passos.
Deixo um espaco infimo, que me afasta
sem que toque completamente no chao.
So aqui e ali, sem poiso certo, apenas
preciso lembrar de vez em quando
o local onde estou, os ombros que me tocam,
aquele onde encosto a cabeca... e a diferenca.
A diferenca das coisas, das pessoas que
tantas vezes enchem a indiferenca que sinto.
O cerebro vazio, consume atento desconfiado,
toda a informacao que recebe, sem pedido
expresso ou voluntario, tudo o que se passa.
Esvazia-se mesmo por ameaca. O medo existe,
potente e indiferente, a reaccoes de outros cerebros.
O agitar do corpo, solto, empurrado pelos outros,
torna-se combustivel ecologico, mas degradante
na forma em que me faz pensar... vou acordando.
Devagar e de forma pouco elementar, mas vazio...
Cheio do espaco que alimenta o limbo adormecido,
acordando devagar, onde parei de pensar ontem.
E o mundo funciona, quando os meus ombros,
nos passos cada vez mais decididos, invertendo
todas as criticas, comecam a fustigar, empurrando
agora os outros ombros, de outros cerebros vazios.
Passo a minha indiferenca por simpatia,
desvio-me de tudo e de todos... sigo a minha vida.

10 NOVEMBRO 2012

 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

SACIAR A PRESA




Seguindo as pegadas da presa,
cheirando o odor que me excita,
descubro cama vazia, sem cheiro
o pouco tempo... os lencois famintos,
enfomeados de desejo e gemidos.
Es a presa que espero comer,
cheirar e lamber, tocar com os dedos.
Quero ser impetuoso, mas macio
puxar-te ancas e peito, ansioso
que me queiras, e te possa provar.
Quero ser lento ao despir-te a pele,
sentir a carne saltar devagar, invadir maos,
bracos e pernas, apertar-te sugando
tudo o que a boca deseja e quer provar.
Quero demora na prova, tempo sem tempo,
manter o momento, por mais que possa.
Sentir-te por fora e por dentro, louca...
na loucura que o corpo, liberto devora.
Vais-me segurar, apertado em ti
no sumo que bebo ate a ultima gota.
Entrelacar os dedos, sentir no aperto
intensos orgasmos, o auge dos cheiros .
Sentir os peitos exaustos, saltando
procurando o ar consumido a fundo.
E ficar... em lacos de pernas coladas,
amolecendo a carne que fica em ti.
Mais tempo... tempo sem tempo,
manter o momento e sentir-te assim.
Domada a presa, que comemos os dois,
devorados os cheiros, saciada a sede
nos ribeiros que fizemos escorrer.
Saciados em sossego, desfalecemos a carne,
retesando a vontade dos corpos colados.
O olhar foca,  ao falar em silencioso, lento
como o piscar dos olhos, os sorrisos que contam,
as sensacoes de prazer, que ambos consumimos
devorando um no outro,  a carne da nossa presa.

09 NOVEMBRO 2012


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

AS LETRAS






Se as letras tivessem vida propria,
uma animacao desnorteada e caotica,
curioso seria o resultado. Observar
o que lhes passa na ideia. Ideias,
as letras so podem mesmo ter ideias,
porque as nossas sao feitas de letras.
Ideais, e ideias uma mistura explosiva
que se pode tornar comica libertando
num filme animado, a creatividade
individual de cada letra. Serao egoistas?
Complicadas ou arrogantes? Acho...
Acho mesmo que sao das poucas coisas
que conseguem ser tudo ao mesmo tempo.
As letras teem um poder que fascina.
Animadas ou paradas, preguicosas
ou ate mesmo exaustivas, sao letras.
Sao sempre letras, novas de velhas,
de formas e linguas diferentes, sempre
sempre potentes na configuracao humana.
A animacao pode ser tragica ou comica,
com mascaras gregas, ou paginas brancas
escondidas no proximo virar de pagina,
onde nos surpreendem pelo espanto,
pelo encanto do proximo conto ou estoria.
Sao imprevisiveis de nascenca,
uma forma transcrita da alma humana,
em episodios inventados e consequentes
de quem as preenche pagina por pagina.
As letras sao apenas, reproducao da alma.

08 NOVEMBRO 2012 

A MINHA DUNA




Conheço esta duna, como a palma da minha mão.
Igual a tantas outras, mas com este gosto diferente,
talvez porque seja o meu local ideal. Prefiro senti-lo.
A magia é diferente, o local mantém-se o mesmo.
Voam-me os cabelos em vendavais, que me animam
pela beleza do eco e troar das marés vivas.
Aqueço o corpo embrenhado-me na areia, penso em ti,
com a ajuda do Sol e dos tons quentes do crepúsculo.
Apaixono-me no misterioso troar da sirene do farol,
o seu poder de penetrar pelo nevoeiro, que por mais
que tente, nao vejo nada mais que o ouvido sente.
Esta duna é especial. A parvoice, dá-me a ilusão
que nunca muda, que se mantém intocável
resistindo aos elementos brutos e puros,
apenas abrindo as boas vindas quando eu chego.
A praia sim, porque é de uma praia que falo,
também e insignificante no leito das escarpas
avivadas pelo grasnar das gaivotas, animando
no voo incessante, esta paisagem morta, além do mar.
Abraço-me a mim, saboreio assim a dádiva da natureza.
Obra de arte viva, onde alguma tela longe tenta imitar.
E os sentidos voam, voando fora de mim, acabando sempre
e inevitávelmente a pensar em ti. Uma duna vazia,
um espaco enorme por ocupar, uma conversa longa
que poderia ter contigo, preenchem a magia do lugar.
Mas sorrio sempre, porque sei que estás presente.
Olho o mar, medindo milhas e léguas, onde o limite
nunca finda na outra margem que não vejo.
Abraçado a mim, chega o frio irritante, tomando
o meu corpo por assédio, deixando ficar um esgar
de desespero, na concentração que perdi, ao olhar o mar.
A sirene calou-se desiludida, deixando um vazio estranho,
como a partida do nevoeiro que antes me abraçou.
O Sol, esse perdeu-se no meio do crepúsculo, esfriando
o meu corpo, sem cores quentes esvanecidas no horizonte.
Ficaram as gaivotas, ja cansadas, recolhendo às fendas
que se tornam brancas, pelo alargar das penas e do frio.
Resto eu, o mar e a minha duna.
A despedida inevitável, sem necessidade de uma palavra.
Declamo uma centena de poemas, que ficam planando
na minha alma calma, que por simpatia ritual,
afago neste poiso onde sempre me sento, no mesmo local,
trazendo-te comigo, ainda presa na memória viva
que abraco em mim, sem te abandonar no meu pensamento.
Há locais mágicos como este onde costumo ficar e,
sempre me oferecem estes pensamentos fantásticos!

08 NOVEMBRO 2012

terça-feira, 6 de novembro de 2012

UM NADA PREVISTO



Será confortável desejar ser ínfimo.
Tamanho suficiente que chegue,
para que sob um cogumelo selvagem
me proteja, modesto, dos pingos de orvalho
que me pesam e dobram, como a chuva.
Reduzir-me à inteligência insignificante,
Trás-me esta curiosidade liliputiana,
em arranjar coragem, sentindo na pele,
a importância imprescindível da pequenez.
Vendo o Homem como um gigante,
imenso, arrogante e de uma inocência
ainda mais ínfima que o meu tamanho,
talvez só o cosmos  justifique esta forma.
Ainda mais ínfima, a nossa nano presença
que ignora, pela nossa insignificância.
A imensidão existe, não pelo infinito,
mas por ser imensa, com muitos nadas,
com muitos infinitos, onde os contextos
existenciais, são tão insignificantes,
Com pequenos planetas, bonitos
como este... e, com vida própria.
Vida própria! O que significa isso?
Não passamos de uma sucessão evolutiva,
sem origem que se conheça, só sabendo
que o final, é definitivamente certo.
Sentir-me assim, tão pequeno como um insecto,
dá-me uma perspectiva minimalista fantástica,
usando o favor da pequenez,  talvez possa pensar,
imaginando e atuando, tal como o gigante mistico.
Conseguir ver tudo pelo divino. O Superior...
O Domínio dos Deuses talvez exista,
como os gigantes bíblicos que nos domaram,
deixando como paga, um esgar de inteligência.
Liliputiano de conto, insecto de espécie,
ou até Homem. Fica a Humanidade que,
não passa de um nada, com final previsto.

06 NOVEMBRO 2012


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

FELIZ INDECISAO



Ja nao sei se me apetece sentir o Sol ?!
Ja nao sei se me apetece sentir a Lua ?!
Tenho neste momento uma mistura de sensacoes,
tao interiorizadas e dificeis de transmitir,
que consigo tornar-me indeciso... e odeio isso.
O que me retem o grito, ou a fala ou os saltos
que quero dar, nao tem materialismos misturados,
muito menos nostalgias futeis, ou pessimismos.
O meu problema imediato, neste preciso momento,
impede-me de converter em partilha simples
o tao feliz que me sinto, no gozo desta vida.
Relembro e tenho projetos, passado e futuro
nao se disfarcam facilmente, nem quero.
Sou inato na verdade, pregando o asco da mentira.
Sinto-me bem... sinto que sou o que sou,
nao ha nada que gostaria de ser, e assumo
todo o passado de erros e alegrias mal geridas.
Ja nao sei se quero sentir o Sol?!
Ja nao sei se quero sentir a Lua?!
Adoro ambos, tao dependente me sinto deles.
Sei que sao elementares para a vida,
que me sustentam o respirar ora leve, ora sofrego.
Por isso a indecisao que tenho, afinal nao existe.
Confundo-me comigo mesmo, ja nao sei se por habito,
se apenas porque sei que me sinto irremediavelmente
feliz, ao sentir a vida, ao sentir o mundo.
Tenho fases de devaneio na responsabilidade civica.
Nao me calo ao que nao gosto, nao minto e escrevo...
Doi-me as dores dos outros. Os que nao teem opcao.
Mas nada impede a felicidade que se nos entrega
em tantas e diversas formas... a sabedoria,
esta nos momentos em que filtramos e gerimos
as diversas formas de felicidade. Adiciona-las,
tentar juntar o maior numero possivel, esse sim...
esse e o verdadeiro desafio da vida, que ninguem alcanca.
Fico feliz, mesmo sendo pobre, nao sentir falta de nada...

05 NOVEMBRO 2012

domingo, 4 de novembro de 2012

ROCA VELHA



As casas de granito antigo, ja gasto e velho,
onde a esquadria, vai quebrando ao sabor do tempo.
Apetece-me reviver aquela aldeia, onde tudo
mesmo tudo, ate pessoas, era perfeito para mim.
Os passeios de burrico teimoso, o gado lento
entregue no lameiro, e o frio... um frio de rachar.
A criancada vivia feliz, eu nos pincaros da alegria,
no gelo da manha, que bebiamos sem ralhares
mais velhos, quebrando as pocas pelo caminho.
Muros como casas, mais gastos, menos polidos
dividiam caminhos com cercas de madeira velha
enrugada e quebrada pela secura do tempo.
Ser feliz... momentos de saber ser feliz.
O cheiro da lareira, madeira seca e gesta,
onde o panelao de tripe, perfurava brazas
na espera do manjar lento para a jorna.
Os contos, arcaicos e inventados ao calor,
sentados a volta da lareira de sons crepitantes,
tao cheirosos, como o deslumbre que eu sentia.
A primeira experiencia de neve, pes descalcos
na palermice inocente de quem pensa,
que alguem pintara o mundo de branco.
Via o amanhecer dos mais velhos, escondido
sorrateiro, no meio da noite alta. Estranhava...
Estranhava sem dar valor como hoje, aos gestos...
Os rituais de vida agreste, a pobreza vivida
com o toque arrepiante e o brilho da felicidade,
a cada amanhecer, a resignacao de mais um dia.
Aquele som que ainda oico, em mecanismo tao arcaico,
que girava ha geracoes, no fiar calmo e tropego da la,
onde as horas nao se contam, onde apenas o Sol comanda.
Ribeiros, vinhas e hortas, distancias na poeira longa
que nao se sentia, ativando o prazer do falatorio,
dos contos passados, das anedotas matreiras,
em primeiros piscar de olhos namoradeiros.
Esta roca velha sobrevive neste museu que e meu.
Que existe na memoria, que ativo frequentemente
no reviver dos cheiros, dos sons e das historias.
Aquela roca velha, que me relembra a felicidade.


04 NOVEMBRO 2012

sábado, 3 de novembro de 2012

ASSIM PASSA O TEMPO




Como me sinto estranho com o passar do tempo.
Tao inevitavel e estranho, como o prazer de escrever.
Tao coerente e previsivel sentimos nos o tempo.
A angustia que sinto, sinto-a na impotencia propria
de nao o poder manipular. Nao quero adivinhar...
Nao quero no presente ser oportunista do futuro.
Mas o passado... ter o poder de manipular o passado.
Evitar miserias e dores, tao reles como evitaveis.
Ter um pouco a mao de Deus, decidir pelo bem.
Mas nao tenho ilusoes utopicas, apesar de sonhar.
So assim manipulo o tempo. Sonhando imaginarios,
sentindo reflexos nao invertidos da vida ideal.
O que me passa agora pela cabeca, e indecifravel.
Desejo... apenas puro desejo. Nao carnal, que e bom,
mas humano na intencionalidade, e conseguir
seja de que forma for, acabar com a miseria.
Talvez, concerteza, so mesmo pelo sonho.
Refletindo concluo, que afinal sei sonhar.
Que sonho mais vezes acordado, que dormindo.
Uma janela aberta absorvendo a energia solar,
que mesmo o vento por mais frio que sopre,
nunca conseguira esfriar aquilo que sinto.
Mas o passar do tempo, nao deixa de ser cruel.
Egoista e idiota tantas vezes, por nao parar.
Talvez sinta ciume... por ser efemero, por ser mortal.
Talvez sinta ciume... o tempo nao sente, por ser imortal.
Mas na consciencia da minha alma, da minha carne
e do meu espirito, nao lamento absolutamente nada.
Aproveito o que resta. Aproveito a lotaria dos momentos,
absorvendo a beleza da vida, a cada passo, a cada minuto.
Talvez mesmo la bem no intimo, sinta que o tempo
existe assim, por alguma razao que nao entendo.
Talvez por isso vou goza-lo, a cada segundo,
como lobo esfomeado de presas dificeis, lutando
para que a minha alma se sinta farta, na arte e na cultura.
O tempo passe entao assim... ja nao lhe ligo.

03 NOVEMBRO 2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

PRECISO DE DESCANSAR




Preciso de descansar.
Estou podre de cansaço. Não cansado de corpo.
Mas exausto por tudo o que não consigo esconder.
Preciso de descansar a alma! Esconder-me do Mundo,
Passear a minha alma, talvez apenas e só por sonhos.
Só de pensar nisto, já sonho. Impossível...
Descansar das noticias que são tantas, tão negativas.
Fome! Abuso! Corrupção! Guerra! Austeridade!
Sinto a alma violada por todo o lado, sem hipótese de defesa.
Olhando as crianças no parque, invejo-as.
Uma inveja boa, que me transforma numa delas.
Dificil seria manter o que sei, como criança adulta.
E sei tão pouco. Nunca saberei nada, por mais que aprenda.
Não quero noticias tristes, só peço ânimo e privacidade.
Provávelmente, vão etiquetar-me de cobarde. Que seja!
Que sejam felizes os que querem pouco.
A consciência é o conforto da alma, mantem-me vivo.
O ciclo deste planeta está em fase de renovação.
As profecias, que não acredito, são céleres em pânico.
Não quero pânicos. Será a única forma de adiar,
esse "fim do mundo" anunciado. E será um dia!
Como o conhecemos, assim, chegou talvez a nossa vez.
Somos nós os dinossauros, já em via de extinção.
E isto cansa! Pensar e ser invadido todos os dias em noticias
sobre a estupidez assumida e violadora da Humanidade.
Preciso descansar! Mesmo! Estou cansado!
Preciso dos tão falados "porto de abrigo" imaginários,
onde tudo se passa à minha volta, em velocidade virtiginosa.
Onde consiga focar apenas a minha sombra, indiferente a tudo.
Sinto-me cansado com tudo isto.
Sinto mais que nunca, sem dúvida nenhuma que,
Preciso descansar!

02 NOVEMBRO 2012

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

SINFONIA DE LETRAS



Um piano... Um violino...
Uma Filarmonica... E Eu.
Respiro e vivo como musica.
Apesar de ser individuo, os sentidos
absorvem harmonia, como oxigenio.
A musica, que nao sei tocar, toco-a
inculto, aqui escrevendo no meu lugar.
Agrada-me sentir que sou um musico,
nao sou virtuoso, mas curioso no sentir,
aproveito com amor, aquilo que aqui faco.
So assim enterro bem fundo, a minha dor.
Como pianista treina pelo prazer de tocar,
horas e horas infindas, sem esforco mental,
aqui escrevo a minha musica, como ele
onde o preto e branco das minhas teclas,
sao as letras negras e vazio claro, que sujo  
no papel enrugado, em consciencia tranquila.
Nunca serei compositor, menos ainda maestro,
mas o poder do amor, aplicado aquilo que gosto,
transforma a humildade escrita, em concerto
onde os musicos tocam, vibrando cordas e teclas,
nas reviravoltas das letras, ate que os dedos doam.
Nao sou assim tao humilde, porque existo... escrevo
a minha musica, que acredito so eu darei valor.
Mas fico entregue a diversidade do amor-proprio,
a todas as probabilidades com que me preencho,
conseguindo consecutivamente, atingir a felicidade.
A partilha, como o acto de uma orquestra,
desvia o egocentro da alma, que a entrega justa
aos poucos mortais que se disponham, recebam
e sintam "in loco" o sabor de me sentir feliz.
Esta e uma minha sinfonia...
Tao simples, como as palavras.

01 novembro 2012