sábado, 19 de dezembro de 2015

LOUCO POR MAIS UM POUCO






Corre-me o sangue nas veias
desenfreado e em ebulição
quando, como neste momento,
me apetece sair da carne  e
subir a eito muito para lá das nuvens.
Preciso de incorporar num alazão
selvagem, dominante, fogoso
em desmesurado galope alucinado
sem tento nas crinas e sons de cascos
até perder o fôlego e a força.
Olhos fechados, narinas no máximo
frescura do vento nos pulmões
desordenados pelo compasso louco
pela sensação abstrata e amante
do poder da liberdade pura.
Ó Deus, como quero fugir
deste redondo pouco hermético
de Beleza alucinante a que estou
obrigatoriamente magnetizado.
Despeço-me da vulgaridade
com as veias salientes do esforço
com o pulsar indiscritível da adrenalina
que me faz parar de pensar por um rasgo
onde o obstáculo do Tempo
me deixa galgar a fúria do passado.
Ó encanto dos encantados, dá-me o disfarce
das meias palavras e sarcasmos primários
que o puro sangue afugenta, simples
tão simples como a minha raça inigualável.
Tragam-me as estátuas de mármore
a perfeição dos Berninnis inimitáveis,
e dos corcéis e dragões espetados
por almas soltas de franquezas frágeis.
Ó mundo cão dos esfomeados
dos doentes para sempre inacabados
de tantas estas e outras vidas necessárias
muito mais que a minha necessidade
em testemunhar vivo, a morte viva dos outros.
Tira-me deste espelho negro,
traz-me prata e vidro novos sem reflexo
para que eu possa destruir com violência
as redomas desfiguradas e eternamente vãs.
Dá-me a força de ficar, de abandonar
a vontade de partir para outro lugar.
Dá-me Bach, Mozart e Vivaldi,
Sakamoto, Elgar e Paredes.
Dá-me mais arte e oxigénio
mais amor e dor efémera ignorante.
Dá-me tudo meu Deus. Dá-me tudo!
Dá-me a vontade de ficar ermo
com a alucinação óbvia e permanente
de um Mundo novo onde cavalgue
como o tal puro sangue, até que as veias
rasguem de esforço, como as pontas dos dedos
do pianista enlouquecido com pautas em branco.
Mantém-me louco por mais um pouco,
porque só assim consigo sobreviver.



18DEZEMBRO2015

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