Nao tenho medo da chuva e do tempo.
Tenho horror aos muros e paredes,
simbologias claustrofobicas... e de grades.
Prefiro sair rua fora, enfrentando
o frio e o vento, sentir a pele arrepiar.
Mesmo descalco e citadino, sofro
as arestas que me gretam os pes.
Que sangre dos rasgos, e sinta
a vida que de quente, vou deixando
sementes perdidas do meu corpo.
Que o alcatrao se derreta a cada passo,
com o meu medo de continuar.
A cada passo, a cada passo vem a dor.
As solas dos pes esfoladas, queimadas
pelo sangue que escorro,
pelas raizes que de mim perco,
que enraizam o solo sem eu querer.
E o corpo se transforma em nada.
E o meu corpo regressa as origens.
O po que evito e sopro, que pestanejo
a cada desses passos, serei eu.
O meu futuro sera a parte oposta
das petalas... de todas as petalas.
Serei eu o polen, o embriao vegetal.
Tenho medo de que os pes se colem,
que o alcatrao sugue a minha raiz.
Nao quero ser pedra, nem transformado.
Nao quero ser betao... talvez uma escultura.
Nao quero muros nem paredes,
nem a claustrofobia das grades.
Quero ser plantado no horizonte.
Quero renascer do meu nada ambulante,
com outras cores diferentes, mas quentes.
Quero ser a raiz das arvores,
um local de culto animal, os meus dedos
serao ninhos de asas, que aprendem a voar.
Quero desmistificar o ultimo caminho,
trocar estradas e ruas por carreiros.
O po que paira no ar, que voe e se perca.
Como eu, que nao me quero encontrar.
Quero ser a folha seca, caida do meu ramo.
Perdida e alegre ao sopro do vento.
Nao quero saber onde, nem como,
nem onde vou cair, apenas continuar a voar.
Quero acordar um dia qualquer,
quero olhar para o espelho, e ver
que olhando para mim, vejo a liberdade.
04 ABRIL 2013
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