sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A ARTE DE DAR




Quero alcançar
O poder da incerteza.
Sei que poucos entendem
Quando me rasgo sozinho
Sem cortes visíveis,
apesar de profundos.
Tenho este azar realista
De um quase certeiro
E rotineiro discurso.
Tenho este "azar"
De quase sempre acertar
Onde gostaria tanto da falha.
Sem ser visionário,
Sem ser futurologista,
Carrego a força empírica
De quase adivinhação
Baseada em factos da vida.
Há este bailado quase sádico
À minha volta, constante,
Demasiado permanente
Que me acossa a sensibilidade.
Assim, sei que um dia
Gelarei os sentidos sem meio termo.
Esta certeza é um desaforo pessoal,
Uma análise certa que faz odiar-me
Pela minha previsibilidade no acertar.
Queria ser apenas papel,
Sem pensar apesar de servir
O interlocutor destes episódios
De um teatro de palco vazio
Meio surrealista, meio abstrato
Cheio de passos sem rasto
Que não um cheiro fantasmagórico
Que define a minha passagem.
Apenas vagueio transparente
Sem que me sintam ou vejam
Que me toquem ou cheirem,
Mas saibam que existo.
O poder da incerteza, é opaco
Que nem reflexo de espelho centenário,
Sem qualquer retorno de imagem
Senão o figurino imaginário do ideal.
Fico-me sem nada, como sempre
Apenas com a arte de dar...



26FEVEREIRO2016

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