segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

SE ME PERDER UM DIA






Se me perder um dia,
quero perder-me entre dois espaços.
Estou mais perto disso que de nada.
Se as montanhas se movessem,
aparava as arestas das encostas,
alisava os vales com rios calmos,
e os cumes beijariam o céu.
Talvez a terra chame os anjos,
na calma paradisíaca da floresta,
ou pelas cicatrízes escondidas da cidade.
A cidade fere as almas. 
Precisam descansar da geometria falsa,
dos cubículos ressequidos onde vivem,
de tanta realidade fictícia e, da prática
de impulsos rápidos de sobrevivência.
É incerta a travessia da coragem.
É quase impossível viver em dois espaços,
contínua ou descontinuada como eu.
Queria fugir desta responsabilidade certa,
conquistar o incerto gozo de sobreviver,
com a originalidade selvagem da natureza.
Já há poucos eremitas no mato.
Transformaram-se em eremitas do betão.
O calcinar do tempo endurece a vida e,
toda a vontade de uma liberdade pura.
Pedir a Deus ajuda, permanentemente,
não leva a qualquer benefício prático.
Mas sim. Esperança e fé são gratuitas.
O cristalino das nascentes é oferenda
de todos os deuses que imaginamos.
Desfrutar da natureza e inteligência,
virou contrasenso e contranatura.
Se me perder um dia,
que seja na minha própria cabeça,
onde o impulso puro, reaja forte,
que não vença o politicamente correcto,
mas me traga, o mistério desvendado.
Estou práticamente perdido,
consciente da próxima viagem,
ao perder-me pelos sentidos,
até encontrar o meu equilíbrio.


19JANEIRO2015

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