sexta-feira, 2 de maio de 2014

O BRANCO





Poderia ter um espaço em branco
mesmo aqui, não sei onde
talvez à minha volta.
Não falo de papel, nem de folhas.
Nem de tinta, nem de arte.
Apenas o branco.
Tão sujo como só a pureza pode sujar.
Sem qualquer limite, área ou forma.
Tudo branco.
E eu...
Apenas as pegadas o amolecem,
transformando o branco.
Deixar-me cair. Tenho medo.
Tenho medo de tudo,
de rasgar o branco.
Tenho de me mexer. Rápido.
A obcessão é inevitável,
a cor e a dor ganham uma amizade
que me cerra os olhos.
Não sei se por protecção, esse medo.
Depois do amor ao branco,
depois desta obcessão, o vazio.
Uma falta enorme de cor.
Tenho medo da cor.
De todas as cores,
porque são perigosas.
As cores são livres,
imprevisíveis e alucinantes.
Atracção fatal é o que é!
O branco foge,
também tem medo.
Tem medo de mim,
das minhas decisões
e inequívocas opções.
Só me resta descansar,
todo o descanso.
Deitado no branco.
Mimando-o. Murmurando-lhe.
Dizer-lhe que o amo.
Que as cores, são outras coisas.
Coisas que dependem do branco.
A fusão emerge...
O lençol enruga e encharca,
absorve o suor e a minha alma.
Eu.
Afinal eu, nem me conheço.
Afinal sou eu...
O Branco.


02MAIO2014




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