sábado, 31 de maio de 2014

SOBRINHO




Ser a saudade,
por dentro.
Sentir-te triste,
não o sabes.
Chama por mim.
Tens amor.
Doi-me a tua dor.
Mas passa.
Tudo passa.
Amor maior.
Um beijo!


31MAIO2014


terça-feira, 27 de maio de 2014

APENAS OIÇO




Tal é o timbre,
o sonho, a música,
só o luar me acorda.
Sonata, perdido
no som de veludo.
Um piano,
quente.
E eu.
O agora.
O ébano,
o marfim,
os dedos,
os segredos.
Só quem compôe.
Só quem o toca.
Só quem o sabe.
Eu oiço,
e oiço,
e oiço.
Apenas oiço.
E não sei nada.
Fino martelar,
melodias,
viagens,
umas quentes
outras frias.
Os dedos.
As teclas.
Correrias selvagens.
E eu.
Oiço,
e oiço,
e oiço.
Apenas oiço.
E não sei nada!


27MAIO2014

sábado, 24 de maio de 2014

DIA DE PAZ



Um dia de paz,
Sem dar por isso.
Agarrei o ocaso,
Por acaso num
Piscar de olhos.
Ficou gravada,
Na retina, uma foto
sem retoques.
Isolei-me do corpo,
No meu corpo,
Sem o meu corpo.
Rangeu um ferrolho
Como num Templo.
O meu Templo.
Eu!
O Meu Deus,
À minha imagem.
Tudo salta fora e,
Tudo entra em mim.
Trocas sérias!
Não imaginárias.
Invisíveis, Reais que,
Rodam o Mundo e,
Oferecem-me a paz.
O Ocaso,
Vagaroso,
Lento,
Morno.
Mesmo cerrando os olhos,
Fica a Beleza, eterna
No meu "inner".
Uma terceira visão.
Eu!
Fora de mim.
O Cosmos,
Aqui dentro.
Eu!
Poeira.
Tudo tão rápido,
Medido neste tempo.
O tempo, não o tem.
Não existe o tempo.
Só dias se contam.
Rotações.
Uma por dia.
Rotação eterna.
Dia de paz.

24MAIO2014

quinta-feira, 22 de maio de 2014

ACORDEI CANSADO



Esta noite foi uma desgraça!
Passar o portal da lucidez,
tem fases menos boas.
Não por ser noite,
nem por ser escuro, ou
miscelândia de mistérios.
Sonhei que me desunhei...
Tanta coisa!
Abstrato quase violento.
Acordei cansado.
Sonhar e escrever,
pode ser união.
Factos influenciados.
Um mundo perdido.
Um lugar para me esconder.
Não sei!
Não fujo.
Nunca fujo.
Enfrento a realidade.
Demasiado realista, até.
Mas cá dentro,
quando acorda o adormecido,
pode ser penoso,
pode ser estranho. E foi...
Devia escrever os sonhos,
como primeiro espreguiçar,
como o acordar do corpo.
Há um limbo misturado.
Há memória do irreal.
Esfuma-se a uma velocidade abismal.
Lembro-me hoje. Alguma coisa.
Diversas as formas,
os motivos e ocasiões surreais.
Tudo misturado tem uma leitura.
Não tive tempo.
Acordei depressa.
Perdi o belo, o estranho e,
o inexplicável.
Acordar, é ritual da vida.
Um renovar sem opção,
mesmo alterando atitudes.
Mas cansa. Por vezes cansa.
Hoje acordei cansado!

22MAIO2014

quarta-feira, 21 de maio de 2014

NU




Sinto-me nu.
Nudez embrionária,
recolhida ao vácuo.
A um útero feliz.

A nudez é uma parcela
tão imensa como a existência.
Uma aguarela incompleta.
Um esboço por decidir.

É a base.
Sim, claro que é a base.
Um invólucro comercial,
ainda há quem a venda.

Sinto-me nu.
Sinto uma nudez interior.
Sinto quase tudo o que não devo.
Sinto por todos.

Por tudo e por nada.

Não sei se me decida.
Nem como, nem porquê!
Não me cortem o cordão.
Não me roubem o vácuo.

É meu!
Só meu!
Como todos os vácuos.

Deixem-me existir sózinho.
Isento.
Incógnito.
Nu!


21MAIO2014

domingo, 18 de maio de 2014

UM DIA POR DIA


Um dia.
Um dia por dia.
Um degrau.
Uma escadaria.
Galhos secos.
Fogueira que ardia.
Sentado no canto.
A fome esvazia.
Se chorasse,
seria alegria.
Um dia subi,
uma escada vazia,
num corpo oco,
que já näo sorria.
Escrevi...
Por ser frase täo fria.
Amei.
E sonhei.
Por ser alegria.
Só, vivo.
Só, quero.
Um dia por dia!

18MAIO2014






 

sábado, 17 de maio de 2014

APETECE-ME VOAR




Apetece-me sair da pele.
Ver o mundo como o ar me vê.
É que eu sei que faço parte,
Sei que sou nano proporção,
Das nano proporções superiores.

Circular à minha volta, sim
Quero tocar-me, sentir-me
Sendo eu outro fora da minha pele,
O outro que saiu de mim, que voou.

Entregar-me ao frio do Inverno,
Senti-lo por dentro e por fora.
Apetece-me tremer de frio,
Até que nunca mais o sinta e,
Poder ser quem sou, resistindo.

Apetece-me voar pelo campo.
Vê-lo como o ar o vê.
Como as aves o sentem,
Apetece-me planar em voos picados,
Circular à volta das árvores,
Até tocar a relva e as flores.

Apetece-me voar pelas montanhas.
Sentir a resistência das encostas,
O frio bom das rochas,
Subir aos cumes, beber a vida,
Sugar as nascentes e os riachos,
Sem nunca parar de voar.

Apetece-me tocar os rios,
Em voos rasos, por não poder entrar.
Apetece-me contornar as margens e,
subir! Subir muito, muito, mais que muito,
Até me transformar em ar.

Apetece-me sair do corpo,
Não me apetece ser humano!


17MAIO2014

terça-feira, 13 de maio de 2014

O FOGO




Quero o calor no corpo.
Fogo. Fogueira.
Fogo da minha lareira.
Não te mexas.
Basta-me a tua cabeça no ombro,
o crepitar das brasas,
a fuga das labaredas.
O calor.
A magia do fogo.
Não te sei explicar.
Sinto-o como sinto o mar.
Atrai-me.
Atrai-me tanto!
A perfeição do fogo é o agora,
sem mais nada.
Dois corpos,
dois silêncios, aquecidos,
no vermelho vivo, abstrato
do esboço surreal do fogo.
Só o fogo fala.
Só o fogo cheira.
Só o fogo grita,
todo o meu entusiasmo.
Calmo.
Quente e calmo.
O cheiro que a cinza traz,
os pedaços  descolados
caídos de troncos e brasas.
Imaginário de dois troncos,
humanos.
Colados e quentes.
Silenciosos.
Deixa correr o fogo.
Não fales.
Aquece.
Aquece-me.
Fica aqui.

13MAIO2014

segunda-feira, 5 de maio de 2014

SOFRER DE LIBERDADE




Sabes que a vida é livre?!
Tão livre que me tira a minha liberdade.
Por momentos. Apenas por momentos,
até perceber que tropecei,
numa rasteira do tempo.
A vida traz a liberdade.
Pena tenho de ter tantas obrigações,
condicionantes da mesma.
Sádica liberdade.
O sadismo, aqui, é complicado.
Mal interpretado, é injusto...
Caí nas minhas próprias ciladas,
distraí-me com uma facilidade
tão inocente, como  um sopro.
Mas sou livre. Sim! Claro que sou livre!
Alguma ocasião, em que o seja menos,
serve-me de exame à virilidade do Ego.
O meu Ego. Intenso. Teso e irreverente.
Um tesão permanente de vontade.
Querer ultrapassar é conseguir. É isso...
Querer! Querer por fases.
Querer o necessário sem desprezar os restos.
Sem liberdade, os restos somos nós.
Por maior que o tesão seja,
nunca o prazer será supremo,
sem ter a certeza de ser livre.
Eu, sofro de liberdade!
Amo esta dor como um louco!


05MAIO2014

domingo, 4 de maio de 2014

NECESSIDADE





Não necessito de nada.
Quase nada.
Necessito de vida,
simples. Ser e viver.
Há um ponto no meu interior,
que sinto. Não vejo. Não toco.
Esse ponto tira-me  a fome
de todas as necessidades.
Necessito de oxigénio.
Oxido o podre que me ameaça.
Tenho pouco tempo para fugir.
Não necessito da matéria humana.
Podia rasgar a pele, fugir.
Não escolhi nascer, nasci.
Agradável, no meio de tudo isto,
é esta viagem obrigatória.
É uma vida que aproveito.
O mestrado de coisas boas,
distintas, estagnadas e puras,
creativas, excêntricas e divinas,
são função da minha necessidade.
Necessito do amor, muito!
Tal como a felicidade,
o amor pode ser tanto.
Tanta coisa diferente.
O corpo aproveita um esqueleto,
que segura o ser mecânico,
descontrolado e imprevisível,
coberto em invólucro de cor variável.
Mais frágil que uma redoma. Que a alma.
Como arte, o corpo é mistério.
Como corpo, a arte é necessidade.
Tudo sai de mim. Esta alma
que não controlo, que venero.
De dentro para fora do ser.
Da cinza até à carne são segundos,
medidos num tempo que não este.
Estar aqui é fascinante, saboreio ao minuto.
Aproveitar esta vida, finita.
É o infinito da necessidade!

04MAIO2014

sexta-feira, 2 de maio de 2014

O BRANCO





Poderia ter um espaço em branco
mesmo aqui, não sei onde
talvez à minha volta.
Não falo de papel, nem de folhas.
Nem de tinta, nem de arte.
Apenas o branco.
Tão sujo como só a pureza pode sujar.
Sem qualquer limite, área ou forma.
Tudo branco.
E eu...
Apenas as pegadas o amolecem,
transformando o branco.
Deixar-me cair. Tenho medo.
Tenho medo de tudo,
de rasgar o branco.
Tenho de me mexer. Rápido.
A obcessão é inevitável,
a cor e a dor ganham uma amizade
que me cerra os olhos.
Não sei se por protecção, esse medo.
Depois do amor ao branco,
depois desta obcessão, o vazio.
Uma falta enorme de cor.
Tenho medo da cor.
De todas as cores,
porque são perigosas.
As cores são livres,
imprevisíveis e alucinantes.
Atracção fatal é o que é!
O branco foge,
também tem medo.
Tem medo de mim,
das minhas decisões
e inequívocas opções.
Só me resta descansar,
todo o descanso.
Deitado no branco.
Mimando-o. Murmurando-lhe.
Dizer-lhe que o amo.
Que as cores, são outras coisas.
Coisas que dependem do branco.
A fusão emerge...
O lençol enruga e encharca,
absorve o suor e a minha alma.
Eu.
Afinal eu, nem me conheço.
Afinal sou eu...
O Branco.


02MAIO2014