Servem as horas como fronteira à imagem?
É a vida uma folha de papel, sombria, gasta
pelo tempo, que já não é o tempo que me resta?
Toda a minha imperfeição é opção múltipla.
Nasce e cresce, a inata alegria,
com que desdenho, livre,
todas as acusadas fraquezas.
Tenho aquelas que cicatrizam na pele.
Já não vejo batalhas no meu ego,
obscenas, com uma necessidade
louca e sôfrega de oxigénio.
Mas onde ando eu afinal? E apenas?
Luto pela mais simples inocência,
como vastos campos de alfazema,
embriagado pelo bom cheiro da vida.
Se fico sozinho, fico suspenso no prazer.
Não só a carne me alimenta a libido,
as pequenas sensações são júbilo e alma.
Passam tantas imagens que memorizo.
As horas, os dias, todo o tempo que me resta,
já não significam nada irreversível.
Nada é impossível, nem o presente.
Arregaçar as calças, de pés descalços,
sentir o frio de um mar que me acorda.
Sabe bem acordar os sentidos do corpo,
enquanto vou reflectindo as faltas da alma.
Nem só o calor aquece ilusões,
há dilemas que escorrem como poemas.
Ventos que alisam um corpo quase desfeito.
Fico parado, entre felicidade e inércia.
Se desistir de lutar, será pelo sentimento dos outros,
o meu não é incerto, é sincero mas já não espero.
Já me falta todo o tempo de que preciso,
o mesmo que nunca chegaria de qualquer forma.
A ambição, é luta irreverente, com um sorriso,
com gestos de músculos que deformam o rosto,
mas por mais estranho que me pareça,
libertam uma das melhores sensações possíveis.
Sorrir! Sorrir é o que reconquisto.
Deformem-se todos os rostos, pois então.
Que o sorriso seja um arado de rugas felizes,
onde todas as sementes brotem férteis.
O que preciso, transforma-se em veludo,
suave na fertilidade, no amor que fiz e farei.
Quero que as horas parem por um minuto.
Quero girar sozinho, olhar a multidão.
Parada. Parado. Desconhecer o gesto seguinte,
alterado num estalar de dedos. Só eu sei.
A vida é uma louca miscelandia de sorte.
As opções são livres de tomar.
A escolha, continua a ser minha!
27FEVEREIRO2014