Sabes,
esta sensação de acordar
agarrado ao chão.
Não dar um passo,
não posso!
Depois das folhas,
Primaveras e Outonos;
depois dos sonhos,
acordar.
Diferente!
Só o pânico é comparável,
surpreendente calmo,
meio louco de surpresa,
um eu inacreditável.
Sinto tudo.
Vejo tudo,
impotentemente imóvel.
Sou raíz!
Socorro,
sou raiz!
Sinto os pés desmultiplicar,
são raízes,
agarram-se ao solo.
O corpo enrijou,
enrugou em troncos secos.
As pernas mudaram.
Não controlo nada.
Se estou louco, estou feliz!
Sinto-me fresco, imóvel.
Feliz!
Renasço da pele,
renasço do nada.
Os braços são ramos,
ramificações em crescendo.
Os dedos aumentam.
terminam em folhas.
Crescem,
crescem folhas,
tantas e tantas.
Não páram de crescer,
e sinto! Sinto tudo!
Sinto-me bem!
Uma árvore humana,
incrível e inacreditável.
Sinto a metamorfose.
Sinto os poros enrugar,
sugam oxigénio ao enrijar.
Os cabelos viram ninhos,
e não páro de sentir.
Sinto a manhã sem espreguiçar,
só as folhas sorriem.
Sorrio como elas, sózinhos.
Sinto a noite chegar,
sem definhar,
sem sono.
Sinto a manhã,
sinto a noite.
Não páro de sentir.
Só as folhas recolhem,
os pássaros aos ninhos.
Não me posso mexer.
Não perdi medula,
não me sinto paraplégico.
Sinto-me vivo.
Sinto-me tão vivo que dói.
Sinto tudo, não falo,
sinto cada ramagem nova,
cada folha que morre,
sinto o chão,
as raízes que crescem.
Sinto tudo,
sinto o Mundo.
Parado, vivo.
Sinto tudo e não sinto nada.
De lá vim, para lá voltei.
Um sorriso,
só isso foi preciso.
Um rumo novo,
uma nova estrada.
Vou ficar aqui.
Feliz e triste.
Ver-vos-ei nascer,
ver-vos-ei morrer.
Eternamente!
08JUNHO2014
Sem comentários:
Enviar um comentário