Estou em crise de sobras.
Sobra-me tudo.
Todo o pouco que tenho,
Sobra de forma imensa.
Gostava de ter tudo,
Conseguir dar muito mais,
Que esse tudo, essas sobras,
À imensidão da pobreza.
É o sortilégio do Mundo,
É a antítese da Humanidade.
Tenho este defeito,
Passo a vida a perguntar-me.
Porquê? Porquê isto?
Porquê aquilo. Estou vazio!
Revejo neste século,
O que pensei ultrapassado.
Afinal o tempo regride.
Não o Tempo, mas o tempo
Que vai na hipocrisia humana.
É ridículo a abstenção e inércia,
O racismo e acusação gratuitos.
É inadmissível ver crianças assim,
Nascidas para a vida, mas
Condenadas a viver no limite,
No limiar da morte.
Tenho estes pesadelos,
Quando sonho, e muito,
Onde o cheiro, a fome, a doença,
Passaram a ser o meu dia.
Passaram a ser a minha vida.
No fundo, na realidade,
Vivo doente com este virus irónico,
Onde tudo existe como solução,
Menos a real vontade e sentimento,
A real vergonha que termine a aberração.
Vivo num século aberrante,
Entre o tudo e o nada.
Encolho-me quando me deito,
Porque afinal, tenho vergonha.
Sim. Eu tenho vergonha.
Tenho vergonha dos desenvergonhados,
Tenho vergonha de ser humano.
Dava tudo, meu Deus!
Dava a vida para trocar outras,
Que de dor e choro,
Vivessem o sorriso de estar vivo.
Estou cansado!
21SETEMBRO2015
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