quarta-feira, 23 de setembro de 2015

POSFÁCIO DE VIDA






Tacteando perto do pânico,
Só encontro a rudez do muro.
Esfoladas mãos que procuram,
A porta para uma saída.
Chega a hora da força.
A que perco mentalmente.
E sento-me, está escuro.
Sem perceber como,
O corpo desliza,
Já sentado, sem me mexer,
Até parar numa esquina.
Um canto deste quarto,
Que não conheço e, definho.
Sinto o encolher do corpo,
O crescer dos muros,
Mais rudes, cada vez mais rudes,
Que me rasgam as costas.
Não me mexo. Não consigo.
Não  é preciso mexer-me,
Para ser voyeur punido,
Basta a quietude do corpo,
Sem encontrar a porta,
Nem uma qualquer fuga.
Talvez seja pesadelo,
O ressoar é constante.
Mas não há eco. Não há som.
Há vácuo que me toca,
Uma imensidão vazia,
Uma sensação aveludada.
Será algo prematuro, não sei.
Será posfácio de vida,
Sem prefácio perfeito.
A cor é verde, de vários tons,
Talvez por culpa do absinto.
E bebo. E os muros crescem.
Mirro e agiganto, alternado,
Com aveludados rasgos na pele.
Não sangro, estou seco.
Assobia o vento,
Pelas frestas da janela.
Um rasgo de lucidez.
Batem as portadas,
Escamadas já sem tinta,
Como a pele de verão.
Acordo,
Mas não quero acordar.


23SETEMBRO2015

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