terça-feira, 29 de setembro de 2015

A MAGNITUDE HERCÚLEA E A FORÇA DE AMAR




Fico desfeito comigo próprio,
Quando me apercebo da insegurança dos fins.
Falta-me a saudade.
Falta-me a saudade, porque não preciso dela.
Mas falta. É uma virose impossível de cura.
O estar no meu país, na minha cidade,
É um contracenso de emoções,
Como guerra hormonal,
Onde a inteligência peca por existir,
Onde as sinapses se confundem,
Já não expandindo o édito da vida.
Estas palavras podem cheirar a negatividade,
Mas eis o tal contracenso, porque não são!
São deslumbre, quase espanto do previsto.
A originalidade, tem este dom de não o ser,
Porque é baseada num sonho ou póstuma realidade,
Que remetem o novo e original, a um "deja vu"
Quase extra sensorial, de uma magnitude única.
A nossa magnitude e hercúlea força de amar,
De sentir o fim da falta, e reagir indecentemente.
É isso. Quase indecente, esta sensação estranha.
Todas estas "coisas" me fazem parar no tempo.
Neste meu tempo tão e muito próprio,
Quase doentio de exacerbância e regozijo.
É a vontade expressa da conquista realizada.
Quase que perda de gozo por falta de objectivos.
Tudo loucura própria, mas sinto. É doidice aguda.
Eu sei que falo comigo, enquanto as linhas saem...
Peço desculpa, mas não tenho que pedir desculpa!
Este é o meu Eu, entregue a vós. Sem voz,
Mas com os gritos infernais do paraíso.
E eu amo estes paradoxos como ninguém!
Não sei que diga, porque já disse o que tinha a dizer.
Sou feliz, por ter e por falta. É um vírus próprio,
E é por isso que não existe qualquer antídoto,
De mim, para mim, nem comigo para ninguém.
Amo a vida. Este é o momento Vida!
Ser vivo e ser feliz, é a razão em estar "aqui"!



29SETEMBRO2015

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

LEMBREI-ME DE TI





Enquanto andava no parque,
Ouvi dizer que começa o Outono.
Lembrei-me de ti.
Lembrei-me das cores vivas,
Como os nossos momentos,
Lembrei-me da acalmia do tempo,
O Sol baixo, mais brilhante
Muito mais brilhante que costume.
A quietude, as cabeças juntas,
As mãos e os dedos entrelaçados,
Indiferentes ao frio que não importa.
As palermices que eu digo,
Como sempre o faço,
As gargalhadas parvas
Que aquecem o vazio.
As cores das ramagens,
As paisagens dos lagos,
Que também aqueceram
Na metamorfose da cor.
As árvores, as folhas caídas,
O campo, o assobio do vento,
O murmúrio da corrente.
Toda a harmonia magnética,
Que dá vida à morte com cor.
Tudo junto, é a memória
Dos Outonos,
A fuga sádica do tempo,
Como nós o somos.
Quando imagino as imagens,
Sinto o que o pasto sente,
Na queda das folhas, no toque.
É como o teu cabelo,
Que se arrasta no meu peito,
Enquanto fazemos amor.
Sou alazão de puro sangue,
Que cavalga sem cansar,
Enquanto te sinto assim.
O relinchar é um gemido,
Pelas folhas caídas,
Que sabemos nascerão verdes,
De novo, um dia...
Como nós,
Porque amo o Outono.



23SETEMBRO2015



POSFÁCIO DE VIDA






Tacteando perto do pânico,
Só encontro a rudez do muro.
Esfoladas mãos que procuram,
A porta para uma saída.
Chega a hora da força.
A que perco mentalmente.
E sento-me, está escuro.
Sem perceber como,
O corpo desliza,
Já sentado, sem me mexer,
Até parar numa esquina.
Um canto deste quarto,
Que não conheço e, definho.
Sinto o encolher do corpo,
O crescer dos muros,
Mais rudes, cada vez mais rudes,
Que me rasgam as costas.
Não me mexo. Não consigo.
Não  é preciso mexer-me,
Para ser voyeur punido,
Basta a quietude do corpo,
Sem encontrar a porta,
Nem uma qualquer fuga.
Talvez seja pesadelo,
O ressoar é constante.
Mas não há eco. Não há som.
Há vácuo que me toca,
Uma imensidão vazia,
Uma sensação aveludada.
Será algo prematuro, não sei.
Será posfácio de vida,
Sem prefácio perfeito.
A cor é verde, de vários tons,
Talvez por culpa do absinto.
E bebo. E os muros crescem.
Mirro e agiganto, alternado,
Com aveludados rasgos na pele.
Não sangro, estou seco.
Assobia o vento,
Pelas frestas da janela.
Um rasgo de lucidez.
Batem as portadas,
Escamadas já sem tinta,
Como a pele de verão.
Acordo,
Mas não quero acordar.


23SETEMBRO2015

terça-feira, 22 de setembro de 2015

(A)VERSOS






A névoa matinal,
Translúcida renovação,
Encontro quase final,
Que recria solidão.

É puro seguimento,
Madrugada ainda húmida,
Tão simples como o vento,
Na perpetuidade da vida.

O crepúsculo passa leve,
Cor quente que me acalma,
É o corpo que sobrevive,
A todas as opções da alma.

Manter a liberdade viva,
O pensamento inalterável,
Uma capacidade criativa,
Um compromisso inabordável.

Reparo redomas de vidro,
Retoco pinturas imperfeitas,
Perco a página do livro,
Que me sara das maleitas.

Saio sóbrio à rua,
Sem absinto que me valha,
A alma vai cheia e nua,
Como pilar da carcaça velha.

Adormeço uns minutos,
Num banco de jardim,
Perco a vida e os escrúpulos,
Sem encontrar qualquer fim.

É a perfeição desfeita,
Por tentativa de cura,
Um arraial que enfeita,
A alegria, enquanto dura.

Fica o resumo das marcas,
Ou cicatrizes irrevogáveis,
É o apelo das palavras,
Que salvam os frágeis.

Eu fico,
Inerte e vão,
Proscrito,
Nesta ilusão.



22SETEMBRO2015



REZAR O SILÊNCIO





Talvez seja o momento de rezar.
O silêncio, em modo de oração,
Pode perfeitamente ser, a solução.
Não posso pensar muito,
Enquanto oro em silêncio,
Talvez seja essa a falha.

Tenho a incerteza muito exacta e,
Sinto a surpresa como comunhão,
Enquanto me agarro à minha fé.
Tenho fé, sim! Claro que tenho fé.
Tem dias que não, porque me revolto,
Por não a sentir no Mundo.

Quero existir, sem feridas,
Com os segredos necessários,
Como as nascentes, que escondem,
A razão de nascer. Irei nascer,
Como batismo indecoroso,
Vibrando os silêncios,
Que me escapam à oração.

Rezo por mim, para mim,
Porque tenho uma parte de Deus.
Como tu! Como todos temos.
O que temos de fazer
Indubitavelmente, é orar.

Sozinhos e inspirados,
Inefáveis momentos sem medos.
Enfrentar o pecado decisor,
Despir a simplicidade e, sair.
Sair do Mundo, sair do corpo,
Sair desta tormenta exagerada,
Que acelera o processo do fim.

O meu poder, é ser frágil.
O meu país, é o Mundo,
O meu amor, são pedaços
Que entrego às nuvens,
Com a imposição de chuva,
Que toque em todas as almas.

Apeteceu-me rezar.

Esta é uma oração momentânea,
Um momento que me fez pensar.
É bom ter moléculas divinas,
Criar um virus de sanidade e,
Contagiar a Humanidade.

Este,
É o meu ónus de vida.


22SETEMBRO2015

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

VERGONHA E CANSAÇO





Estou em crise de sobras.
Sobra-me tudo.
Todo o pouco que tenho,
Sobra de forma imensa.
Gostava de ter tudo,
Conseguir dar muito mais,
Que esse tudo, essas sobras,
À imensidão da pobreza.
É o sortilégio do Mundo,
É a antítese da Humanidade.
Tenho este defeito,
Passo a vida a perguntar-me.
Porquê? Porquê isto?
Porquê aquilo. Estou vazio!
Revejo neste século,
O que pensei ultrapassado.
Afinal o tempo regride.
Não o Tempo, mas o tempo
Que vai na hipocrisia humana.
É ridículo a abstenção e inércia,
O racismo e acusação gratuitos.
É inadmissível ver crianças assim,
Nascidas para a vida, mas
Condenadas a viver no limite,
No limiar da morte.
Tenho estes pesadelos,
Quando sonho, e muito,
Onde o cheiro, a fome, a doença,
Passaram a ser o meu dia.
Passaram a ser a minha vida.
No fundo, na realidade,
Vivo doente com este virus irónico,
Onde tudo existe como solução,
Menos a real vontade e sentimento,
A real vergonha que termine a aberração.
Vivo num século aberrante,
Entre o tudo e o nada.
Encolho-me quando me deito,
Porque afinal, tenho vergonha.
Sim. Eu tenho vergonha.
Tenho vergonha dos desenvergonhados,
Tenho vergonha de ser humano.
Dava tudo, meu Deus!
Dava a vida para trocar outras,
Que de dor e choro,
Vivessem o sorriso de estar vivo.
Estou cansado!



21SETEMBRO2015

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

TUDO! TUDO! TUDO!





Para mim, o céu.
Completo.
Nuvens quanto baste.
Com um segredo.
Sempre um mistério,
Que condimenta o espirito.
Há uma mistura, minha
Que tenho de acrescentar,
Sempre que penso no que amo.
Um pouco de impressionismo,
Paisagens abertas,
Pintura louca e focada.
Girar tudo.
Tudo!
Tudo!
Tudo!
Girar o céu,
E as nuvens,
E o horizonte.
Tudo!
Tudo!
Tudo!
Um degrade de cores,
Círculos danados,
Proporções pobres e exageradas.
Tudo!
Tudo!
Tudo!
O campo,
As searas,
Os rios,
Os mares.
Tudo!
Tudo!
Tudo!
E um sorriso.
Só um sorriso basta,
O meu, enquanto sonho,
O outro que me olha e,
Apenas um beijo.
Um beijo,
Um sorriso e,
Uma criança.



14SETEMBRO2015

SEMENTE DA FELICIDADE





Não há muito ou pouco, que
Me induza mudar o comportamento.
Não há tudo, não há nada, que
Me materialize a insuficiência.
Sou puro.
Sou duro.
Sou o que tenho de ser,
Sem a falsa intensidade,
A moleza, o freio que,
Podia oferecer facilmente.
Ofereço tudo!
Entrego tudo!
Só não tenho capacidade, de
Ser cretino em fingimentos.
Nada me custa como o fim.
Finais são indesejáveis,
Pela crueldade imediata.
Mas a vida continua,
Com espaços por criar,
Com espaços por preencher e,
Porque ainda estou vivo.
Há um "como nunca",
Há um "seria melhor",
Há um "tenho pena, mas...".
Há tanta coisa que,
Espremida a ocasião,
O suco é a consciência.
E eu tenho-a certa. E limpa!
A Felicidade, é a semente,
Que me fez nascer tantas vezes.
As sementes não acabam,
Apodrecem os rebentos,
Morrem de velhos,
Morrem por falta de alimento,
Desaparecem.
É aí que começa outra vida.
Uma nova semente,
Um novo rebento,
Beleza nova,
Alimento infindável.
Recomeçar.
É bizarra a vida!
Tantas as mudanças,
Tantas as perdas,
Tantos desperdícios de Felicidade.
O bizarro toma forma,
O abstrato reverte em realismo,
O caos retoma a norma,
Eis o poder da vida!
E como te amo, vida!
Como te amo!
E vivo.
E vou viver,
Enquanto o corpo quiser.
A Alma,
Ultrapassa o efémero e,
É nela que existo.



14SETEMBRO2015

terça-feira, 8 de setembro de 2015

SER (IN)HUMANO





Percebi tudo.
Quase tudo, direi.
Até porque
Não entendo nada.
O início da razão,
O meio do juízo,
O final da lógica.
Pouco se conjuga,
Até porque
Não entendo nada.
As mentes,
Perverteram o raciocínio.
Os ódios,
Nascem em tentativa de fuga.
A raiva,
Precisa de uma nova vacina.
E eu, perplexo.
Até porque
Não entendo nada.
Percebi tudo.
A extraordinária
Impureza do Ser.


08SETEMBRO2015

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

RECICLAR-ME





Reciclar-me,
Um pouco,
Do que resta.
A pele,
Exposta ao vento.
Como um sonho,
Um deserto, o ocaso.
Reclamo o desejo,
Não o perco,
Porque sonho,
Vivo e,
Me sinto inteiro.
O"estado de sítio",
É tão pessoal,
Sem restrição e,
Sem espaço.
Só esta mente,
(des)equilibrada,
(in)dependente,
De mim e,
De tanta gente.
É difícil.
É difícil.
É difícil...
Manter-me são!


04SETEMBRO2015

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

SÓ TENHO PALAVRAS





Agradeço à vida,
Toda a minha paixão,
Os pedaços de cor,
Fluxos transformados,
Em paraísos de amor.

Há uma lagoa,
Algures,
Onde me banho,
Com o poder da vida.

Há um mar de dor,
Algures,
Sem qualquer pudor,
Que rouba a vida ferida.

Quero acreditar!

Preciso acreditar,
No amor que me sobra,
Na miséria que me dói,
Na impotência do agir.

Só tenho palavras.

Só tenho palavras.

Quero-as ver sorrir,
As crianças!



03SETEMBRO2015

MORREU A INOCÊNCIA




Tenho vergonha da Humanidade!
Vejo o revés da lógica,
Num mar desinteressado.

Uma criança morta.

O infortúnio de estar vivo;
De não saber porquê
Por ser criança.
Uma outra criança.

O sabor do sal,
O respirar a água.
Afogamento!!!!!!!!

Fuzilamos com água,
Desmembrados em inércia.
E viramos a cara,
Com vergonha!

Falamos muito.
Falamos muito.
Criticamos veementes,
Contra todos os outros
Que somos nós.

Perco a força, nesta imagem.
Perco o futuro credível,
Vivendo globalizado,
Cru, frio e anedótico.

É o reverso da medalha,
Molde podre da moeda,
Cunhada até à exterminação.

Somos todos culpados!

Somos os eleitores que escolhem,
Com a podridão da indiferença.

Há imagens que ficam!
Quando somos crianças,
Quando amamos ilimitadamente,
Com a inocência devida.

Há imagens que ficam!
Quando falamos pouco,
Quando criticamos egocêntricos,
Com tanto grito ignorado.

Há a imagem que fica!
Há uma criança afogada,
De um mundo podre,
De uma raça maldita!

Morreu a inocência!


03SETEMBRO2015