sábado, 5 de julho de 2014

O ESBOÇO




Afável é a monotonia do desejo.
Já não falo em carne ou sexo.
Já não falo em tacto ou palato.
Estou potente de desejo, por arte.
Um esboço. Uns riscos de carvão,
traços desenquadrados e soltos.
O líbido creativo e, uma folha.
Uma tela, pode ser uma tela.
Madeira e pano esticado. Teso!
E os dedos. Sempre os dedos,
preliminares e provocadores.
O arrepio da pele, os olhos fechados.
Tudo ocorre primeiro na mente.
Escorre-me o carvão, soltam-se as cinzas.
Há clímax de vazio em metamorfose lenta.
O calor é a fonte inesgotável da pele.
A ponta dos dedos pinta-me o desejo.
Mas não vejo. Recuso o incompleto.
Deito-me com ela por fases.
A monotonia é a minha primeira amante.
A solidão, amante desenfreada.
O desejo, uma orquestra muda,
pautada em óperas abstratas. O presente!
O ausente é a chama imaginária.
Há o contemporâneo da mediocridade.
A passividade enloquente o branco,
a parte mais cobarde, a tela vazia.
Apetece penetrar-te aos poucos.
O esboço é como o início do sexo.
Carnal e insensível à indulgência.
Preliminar  de surpresas incontroláveis.
Puro, geométrico, como cristais de neve.
Orgásmico o resultado. O final.
Recuperar o fôlego do Ego.
Arte, é como fazer amor com sexo.
É adorar o afecto e amar o poder.
A monotonia do desejo é perversa (boa).
O esboço é  o genital que acorda,
que abre e, cresce e, enloquece!
A Arte é a líbido da Alma!


05JULHO2014 

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