A casa está sedenta
De portas rombas,
Secas de séculos.
Dobradiças podres e
Puxadores com tinta gasta.
A pátina adoçou
Os anos apetitosos e
Gastos, rejuvenescidos
Num exclusivo admirável.
A imagem, a bela imagem
Natural e duradoura
Como a vida imortalizada.
Há portadas caídas
A cada parede ao Sol.
É a acção do ar
Que respiro, mas mata.
Há uma infecção virtual
No ondulado calor
Que a luz contamina.
Tenho a cura dentro
De mim. Um centro
Circulando o meu ponto
De existência divina.
O Deus que sou
Que todos temos
E vemos sem ver.
A casa mora vazia,
De paredes esfaceladas e
Quadros podres
De cores pálidas.
Molduras desfeitas
Num chão repleto,
Estantes de aranhas
Nas teias que as suportam,
No ocre a cor da tinta
Reflectida em veios de luz,
Penetrante das portadas
Que ainda vivem.
O som das roldanas é cruel,
Velho e demoníaco,
Metálico sem polimento.
A casa é a pele
Que as rugas assentam.
A escultura mal conservada
Que me separa
De um interior por conhecer
E um Mundo desfeito.
O meu telhado vitrificou
Numa redoma repartida
Entre a transparência
E a opacidade da vida.
Sou eu.
Bairro, prédio, casa,
Sala, mordomia vazia.
Reduzido ao tempo que resta.
21NOVEMBRO2016
Sem comentários:
Enviar um comentário