terça-feira, 6 de setembro de 2016

VICTORIANA






Este cheiro lamacento
É pouco dignificante.
Incómodo e nojento,
Como se tivesse regredido
Até ao Século XVIII.
Junta-se o breu e a névoa.
Cinzas claros e escuros,
Com sons de cascos
Escorregando no basalto
Que acompanha as caleches.
Vejo luzes fuscas
Que o nevoeiro eleva
A um calafrio fantasmagórico,
Mas agradável de ver.
O eco mole e lento do rio,
É onde se escondem
Os salafrários fugidos à grei
Por leis que não os reconhecem.
Assobios de sinetas de polícia,
Sons de correrias perseguidas
Nos cantos mais nojentos
De uma cidade velha.
Portas que rangem de peso,
Na madeira grossa de séculos,
Cuspindo os bêbados da noite.
Já é hora de recomeçar o dia.
Quem iluminou o gás comum,
Encarrega-se de o apagar.
Porra de vida ritualizada
A rituais ignóbeis e vazios.
As cartolas recomeçam o dia,
Nos passeios húmidos da noite,
Levantando o restolho da névoa
Com capas opulentas de virtuosidade,
E a correria desajeitada das polainas.
Um violino vibra nas crinas
De um arco cansado dos anos.
Cheira a cachimbos de pedra,
Mistura de tabacos asquerosos
E chinesices indesejáveis.
É engraçado, como vejo eu isto,
Encostado a um Thames
Que me conta as suas histórias.
Basta sentar-me neste lado
No Embankment dos destemidos.
É bom sonhar acordado!


06SETEMBRO2016


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